Você, meliante cruel e impiedoso, sequestrou o meu sorriso e sequer pediu resgate.
Fê-lo pelo prazer da malfeitura. Calou desde o princípio. Nunca pediu resgate.
Deleitou-se sadicamente em deixar o amargo que me queima a boca que um dia adoçaste de beijos.
Desrespeitando a mais valiosa lei da natureza, abateu a caça por motivo vil.
Não fora ameaçado; não alimentou-se dela.
Abandonou o corpo intacto, suficientemente enfraquecido para não fugir, mas sem a honra de uma morte digna.
Deixada à mercê da sede dos seus beijos;
Da fome dos seus carinhos;
Da tristeza, ave de rapina que arranca os olhos, mas não as imagens marcadas na retina,olho o céu...e tudo o que bebo é abandono.
quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
quarta-feira, 18 de dezembro de 2013
O gosto do silêncio
Hoje eu não sou texto. Hoje tudo o que escorre é o escarro do que já foi, talvez sem sequer ter sido.
A tentativa frustrada de ajeitar um projeto de algo que não estava ali, mas aqui em mim.
Um de tus, que seduziu um de mims, e depois foi embora, como se nunca tivesse passado pela Duque de Caxias.
Rapidamente pensei em dispensar as uvas, trocando-as por morangos, mais uma vez. A estratégia já havia funcionado.
Mas era tarde. Grávida de planos e sonhos, desejava aquelas uvas verdes como o único alimento capaz de me saciar por completo.
As uvas estavam altas demais.
Subi num banquinho, mas caí.
Tentei de novo, escalando o muro. Esfolei os joelhos, e caí novamente.
Limpei o sangue nas mãos, sujei a roupa e o rosto.
Todo o corpo doía, mas a vontade das uvas doía muito mais.
O gosto que silenciava na minha boca era a pior dor que se poderia imaginar.
Antes a dor de barriga, o vômito, a intoxicação, o diabo...
Qualquer coisa, menos o gosto do silêncio.
A tentativa frustrada de ajeitar um projeto de algo que não estava ali, mas aqui em mim.
Um de tus, que seduziu um de mims, e depois foi embora, como se nunca tivesse passado pela Duque de Caxias.
Rapidamente pensei em dispensar as uvas, trocando-as por morangos, mais uma vez. A estratégia já havia funcionado.
Mas era tarde. Grávida de planos e sonhos, desejava aquelas uvas verdes como o único alimento capaz de me saciar por completo.
As uvas estavam altas demais.
Subi num banquinho, mas caí.
Tentei de novo, escalando o muro. Esfolei os joelhos, e caí novamente.
Limpei o sangue nas mãos, sujei a roupa e o rosto.
Todo o corpo doía, mas a vontade das uvas doía muito mais.
O gosto que silenciava na minha boca era a pior dor que se poderia imaginar.
Antes a dor de barriga, o vômito, a intoxicação, o diabo...
Qualquer coisa, menos o gosto do silêncio.
terça-feira, 17 de dezembro de 2013
Com calma
Dói.
Mas não endureço.
Por vezes
adormeço
pra fugir.
Mas a droga
já não dura
e a dor
amolece
no teu beijo.
Mas não endureço.
Por vezes
adormeço
pra fugir.
Mas a droga
já não dura
e a dor
amolece
no teu beijo.
sábado, 14 de dezembro de 2013
Promoção
Não. Melhor mesmo seria nem começar a escrever. Mas é sempre hemorrágico. Inestancável. Diferente das palavras que saem da garganta, que qualquer amigdalite vulgar cala, as que fluem das mãos gritam, naquele tom que minha voz nunca alcançará.
Não, eu não entendo. Estou criança confusa que vai de castigo e nem sabe que dia é hoje.
Eu queria aquele brinquedo um tanto estranho, diferente, que as outras crianças estavam até fazendo pouco caso. Mas ele me encantava de um jeito único. Seu funcionamento era algo que me deslumbrava. Imprevisível e caótico.
Aí vem Papai Noel, com o a última versão daquele boneco que imita o mocinho daquele filme que todas as menininhas estão se esfalfando para merecer.
Eu desembrulho eufórica, e estanco pálida. Antes a maldita esperança jamais tivesse deixado a caixa de Pandora.
Amaldiçôo o natal.
Choro.
Juro nunca mais acreditar no Noel ou em qualquer outro homem.
E durmo a criança mais infeliz do mundo.
Meu brinquedo? Jaz na prateleira, esperando a promoção pós-natalina.
Não, eu não entendo. Estou criança confusa que vai de castigo e nem sabe que dia é hoje.
Eu queria aquele brinquedo um tanto estranho, diferente, que as outras crianças estavam até fazendo pouco caso. Mas ele me encantava de um jeito único. Seu funcionamento era algo que me deslumbrava. Imprevisível e caótico.
Aí vem Papai Noel, com o a última versão daquele boneco que imita o mocinho daquele filme que todas as menininhas estão se esfalfando para merecer.
Eu desembrulho eufórica, e estanco pálida. Antes a maldita esperança jamais tivesse deixado a caixa de Pandora.
Amaldiçôo o natal.
Choro.
Juro nunca mais acreditar no Noel ou em qualquer outro homem.
E durmo a criança mais infeliz do mundo.
Meu brinquedo? Jaz na prateleira, esperando a promoção pós-natalina.
terça-feira, 10 de dezembro de 2013
Compostura
Diante de tudo,
fui impecável:
engoli a tristeza,
as lágrimas,
as impensáveis
descomposturas
pensadas...
engoli o adeus
que nem foi dito;
a ausência
que só foi meia;
Quis engolir teus filmes e livros esquecidos na estante.
Mas continuei impecável.
Mudei os brincos,
a cor do batom,
e o vestido (novo).
Velha mesmo, só ficou a saudade, idosa, sentadinha em sua cadeira
acenando o último adeus.
Partidos
A fotografia
ficou pela metade;
a experiência,
inteira.
Já a saudade,
sorrateira,
vez por outra
se enreda entre meus pés...
enquanto eu finjo que leio.
ficou pela metade;
a experiência,
inteira.
Já a saudade,
sorrateira,
vez por outra
se enreda entre meus pés...
enquanto eu finjo que leio.
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
Motivo
Os gritos presos no peito se expandem e quase me sufocam. As palavras escorrem numa corrente contínua, que se perde em fugas de tensão.
Sem teu toque para lavrá-la e semear as sensações, minha pele está ficando árida. Me assusta a ideia de que possa ficar estéril com a ausência prolongada de tuas mãos.
Minha boca, que recebia a tua como a noite que se abre para receber o sol da manhã, jaz na escuridão.
Teu cheiro esfria em mim, enquanto varro, faminta, tua pele adormecida em busca de qualquer migalha de satisfação.
Nossos corpos parecem reter cargas iguais, a se repelirem mutuamente.
Em mim, o "Por quê?";
Na tua boca o"Talvez";
No teu gesto o "Não";
Por quê???????????????
Sem teu toque para lavrá-la e semear as sensações, minha pele está ficando árida. Me assusta a ideia de que possa ficar estéril com a ausência prolongada de tuas mãos.
Minha boca, que recebia a tua como a noite que se abre para receber o sol da manhã, jaz na escuridão.
Teu cheiro esfria em mim, enquanto varro, faminta, tua pele adormecida em busca de qualquer migalha de satisfação.
Nossos corpos parecem reter cargas iguais, a se repelirem mutuamente.
Em mim, o "Por quê?";
Na tua boca o"Talvez";
No teu gesto o "Não";
Por quê???????????????
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
A outra
Hoje descobri que uma outra dorme em mim e, tal qual a Cuca do Sítio do Pica-pau Amarelo, ela acorda a cada sete anos. Ela é uma Eva. E legítima: melosa, carente, grudenta e perigosa. Descobri que ela pode ter sido a assassina de todos os meus relacionamentos, com seu cruel método de sufocamento. Uma serial killer de frágeis desavisados.
E o que a torna ainda mais perigosa é a impressionante semelhança física entre nós.
Mas observe bem que eu disse FÍSICA. E só. Por que por dentro somos infinitamente distintas.
O problema é que ela engana muito bem. É uma talentosa dissimulada. Mas não é perfeita. Basta observar as ações de cada uma para perceber diferenças gritantes.
Enquanto eu sou uma "Eu te amo, mas se quiseres ir, a porta fica à direita", ela é uma "Eu te amo, fica comigo"; eu sou "Vai sair? Leva tua chave.", e ela é "Vai onde? Volta a que horas?"; eu sou roupa acumulada na cadeira toda semana, ela é faxina no dia de folga; eu sou lasanha congelada e ela é risoto de funghi; eu sou a que te despe na cozinha e ela é a que chora no teu colo.
Ela nunca perde a paciência ou eleva o tom de voz; quando é magoada, chora. Eu sou naturalmente gritona e até um pouco mandona, e quando me magoam mando "se fuder"!
E você pode ter chegado em um "ano7 ", ou ter a intenção de ficar até o próximo...
Ah, ela também sofre de sonambulismo e, às vezes, toma o meu lugar, dormindo, num ano qualquer.
Mas uma coisa é fato: ela tem sua casinha escriturada em mim, então você pode decidir amá-la e ser feliz a cada sete anos; me amar e ser infeliz a cada sete anos; ou aprender a amar ambas e ser feliz o tempo todo por que, no fundo ambas somos perigosas, ainda que representemos ameaças muito distintas.
E o que a torna ainda mais perigosa é a impressionante semelhança física entre nós.
Mas observe bem que eu disse FÍSICA. E só. Por que por dentro somos infinitamente distintas.
O problema é que ela engana muito bem. É uma talentosa dissimulada. Mas não é perfeita. Basta observar as ações de cada uma para perceber diferenças gritantes.
Enquanto eu sou uma "Eu te amo, mas se quiseres ir, a porta fica à direita", ela é uma "Eu te amo, fica comigo"; eu sou "Vai sair? Leva tua chave.", e ela é "Vai onde? Volta a que horas?"; eu sou roupa acumulada na cadeira toda semana, ela é faxina no dia de folga; eu sou lasanha congelada e ela é risoto de funghi; eu sou a que te despe na cozinha e ela é a que chora no teu colo.
Ela nunca perde a paciência ou eleva o tom de voz; quando é magoada, chora. Eu sou naturalmente gritona e até um pouco mandona, e quando me magoam mando "se fuder"!
E você pode ter chegado em um "ano7 ", ou ter a intenção de ficar até o próximo...
Ah, ela também sofre de sonambulismo e, às vezes, toma o meu lugar, dormindo, num ano qualquer.
Mas uma coisa é fato: ela tem sua casinha escriturada em mim, então você pode decidir amá-la e ser feliz a cada sete anos; me amar e ser infeliz a cada sete anos; ou aprender a amar ambas e ser feliz o tempo todo por que, no fundo ambas somos perigosas, ainda que representemos ameaças muito distintas.
terça-feira, 5 de novembro de 2013
Insatisfação
Esfrio.
No tempo,
me esvazio.
Me vaio
e esvaio
sem jeito...
Por que me testo
e contesto
em busca
do amor perfeito?
No tempo,
me esvazio.
Me vaio
e esvaio
sem jeito...
Por que me testo
e contesto
em busca
do amor perfeito?
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
Sem culpa
Eu me permito
poemas
de pé quebrado
sem gesso
e sem preço
que,
poema engessado,
eu não mereço!
Eu me permito
rascunhos
de rima pobre
mas de alma
nobre,
onde
o sentimento
seja tudo
o que sobre!
poemas
de pé quebrado
sem gesso
e sem preço
que,
poema engessado,
eu não mereço!
Eu me permito
rascunhos
de rima pobre
mas de alma
nobre,
onde
o sentimento
seja tudo
o que sobre!
domingo, 3 de novembro de 2013
Blindness
I
lost track
of your smell.
You
got locked
in your shell.
I
dont have
your key.
And you
cannot
see.
lost track
of your smell.
You
got locked
in your shell.
I
dont have
your key.
And you
cannot
see.
Ilusion
I see myself
kissing
your face,
your lips,
your chest,
your hips...
I see myself
sipping
your taste,
smelling your words
and reading
your skin...
But my eyes are closed
and my arms are empty.
kissing
your face,
your lips,
your chest,
your hips...
I see myself
sipping
your taste,
smelling your words
and reading
your skin...
But my eyes are closed
and my arms are empty.
9
Nov
Nov
Hora da Criança Contação de histórias contos da Emília, com Tatiane Braga dos Reis
BarraShoppingSul Horário: 16:00
|
Traga a criançada para Saraiva e viaje pelo fantástico mundo da Boneca de Pano. A Marquesa de Rabicó inventa mil histórias pelas Reinações de Narizinho, metendo-se em encrencas, do Sítio do Picapau Amarelo até o Mundo das Fadas. Tia Anastácia nem imaginava o que um pouco de pó de “pirlimpimpim” faria... Confira!
Palavras
Não sou de silêncios.
Não espere isto de mim.
A palavra que calo queima na garganta.
Sou de sentimentos sonoros.
Sempre disposta a aprender algo novo,
posso assimilar certa quantidade
de sua ausência de palavras,
mas esta é facilmente mensurável:
quando o silêncio compartilhado
ocupa o espaço inteiro
a decisão deve ser certeira -
saio
ou sufoco!
Não espere isto de mim.
A palavra que calo queima na garganta.
Sou de sentimentos sonoros.
Sempre disposta a aprender algo novo,
posso assimilar certa quantidade
de sua ausência de palavras,
mas esta é facilmente mensurável:
quando o silêncio compartilhado
ocupa o espaço inteiro
a decisão deve ser certeira -
saio
ou sufoco!
domingo, 13 de outubro de 2013
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Recordação
Na pressa
do atraso
perdi o passo
e o pulso...
a poesia
mansa,
roída de traça,
esquecida
no caderno
de criança
me trouxe
um traço
de esperança.
do atraso
perdi o passo
e o pulso...
a poesia
mansa,
roída de traça,
esquecida
no caderno
de criança
me trouxe
um traço
de esperança.
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
Pressa
Ando meio
desandada.
Escorrida
pela
estrada
desta vida corrida,
calando
os calos
no sapato
apertado
enquanto aperto o passo
e o tempo passa voando.
desandada.
Escorrida
pela
estrada
desta vida corrida,
calando
os calos
no sapato
apertado
enquanto aperto o passo
e o tempo passa voando.
Atraso
Hoje cheguei tarde.
Ao abrir a porta,
percebi que tua ausência
enchia a casa.
Em cima da mesa
nem um copo;
nenhum canhoto
de cartão de crédito;
nem uma embalagem
de wafer vazia...
Na cama estéril,
os lençóis
não desabrochados
acolhiam apenas
teus livros
que ainda guardavam
o calor
dos teus dedos...
Decidi dormir na sala
para não desmarcar
as páginas.
Ao abrir a porta,
percebi que tua ausência
enchia a casa.
Em cima da mesa
nem um copo;
nenhum canhoto
de cartão de crédito;
nem uma embalagem
de wafer vazia...
Na cama estéril,
os lençóis
não desabrochados
acolhiam apenas
teus livros
que ainda guardavam
o calor
dos teus dedos...
Decidi dormir na sala
para não desmarcar
as páginas.
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
Ortografia fatal
"E o amor
morreu
em fulminante
ataque
ortográfico,
ao pisar
em sibilante
cedilha
mal localizada..."
morreu
em fulminante
ataque
ortográfico,
ao pisar
em sibilante
cedilha
mal localizada..."
Peça
Nem sempre sei meu papel e, mesmo quando o descubro, não costumo seguir roteiros.
Gosto de ser mãe, mas às vezes necessito ser apenas filha; gosto de ser aprendiz, mas às vezes preciso ser mestra; gosto de ser tua, mas às vezes preciso ser só minha.
Descobri que todos estes personagens me habitam e ditam minha história.
Há momentos encenados em Babel, aonde todos gritam ao mesmo tempo e não consigo distinguir uma voz da outra; noutros, alguém sussurra tão baixo, que preciso cobrir as orelhas para escutar melhor.
Todas essas vozes unidas é que traçam a renda dos meus pensamentos. Todos os pensamentos unidos é que traçam o figurino que vês.
A peça é encenada sem ensaio, em apresentação única.
Se não te agrada, não subas no meu palco. Não devolvo o valor do ingresso, mas não cobrarei teu aplauso.
Gosto de ser mãe, mas às vezes necessito ser apenas filha; gosto de ser aprendiz, mas às vezes preciso ser mestra; gosto de ser tua, mas às vezes preciso ser só minha.
Descobri que todos estes personagens me habitam e ditam minha história.
Há momentos encenados em Babel, aonde todos gritam ao mesmo tempo e não consigo distinguir uma voz da outra; noutros, alguém sussurra tão baixo, que preciso cobrir as orelhas para escutar melhor.
Todas essas vozes unidas é que traçam a renda dos meus pensamentos. Todos os pensamentos unidos é que traçam o figurino que vês.
A peça é encenada sem ensaio, em apresentação única.
Se não te agrada, não subas no meu palco. Não devolvo o valor do ingresso, mas não cobrarei teu aplauso.
Iluminado
Essa luz esverdeada
que escorre
do teu sorriso
me arranca
qualquer tristeza
com precisão...
Haja coração!
que escorre
do teu sorriso
me arranca
qualquer tristeza
com precisão...
Haja coração!
Tuas mãos
Em tuas mãos,
meu mundo;
punhado de terra
que me trepida
morro abaixo,
quando encaixa
no fundo,
depois desliza
corpo acima
feito brisa quente
de primavera
e me carrega
infinito
acima.
meu mundo;
punhado de terra
que me trepida
morro abaixo,
quando encaixa
no fundo,
depois desliza
corpo acima
feito brisa quente
de primavera
e me carrega
infinito
acima.
sábado, 21 de setembro de 2013
Primavera
"...e a árvore,
envaidecida,
verdejante
e florida,
festeja
faceira
na calçada...
Ah! Inveja danada..."
envaidecida,
verdejante
e florida,
festeja
faceira
na calçada...
Ah! Inveja danada..."
domingo, 15 de setembro de 2013
Ansiedade
Te divido
minha vida
minhas idas
e vindas
minhas horas
mais lindas
ansiedades
partidas
verdades
costuradas
juntos
dois mundos
em um polo
duas vozes
em um solo
será
a derradeira
vez?
minha vida
minhas idas
e vindas
minhas horas
mais lindas
ansiedades
partidas
verdades
costuradas
juntos
dois mundos
em um polo
duas vozes
em um solo
será
a derradeira
vez?
sábado, 14 de setembro de 2013
Discurso
Juro que tento copiar teu silêncio,
mas nem desenhando por cima
do papel manteiga
eu chego perto.
Estou na maré cheia
e meu discurso
transborda,
me arrasta
e ameaça me afogar.
Te sinalizo em busca de socorro, mas calas...
Eu aspiro verbos,
que se adverbam
em meus pulmões.
Suspiro uma última interjeição,
aspiro tua rejeição
e bebo a primeira lágrima.
mas nem desenhando por cima
do papel manteiga
eu chego perto.
Estou na maré cheia
e meu discurso
transborda,
me arrasta
e ameaça me afogar.
Te sinalizo em busca de socorro, mas calas...
Eu aspiro verbos,
que se adverbam
em meus pulmões.
Suspiro uma última interjeição,
aspiro tua rejeição
e bebo a primeira lágrima.
Parto
Nossa história nasceu de parto normal.
Começou com um notebook, um fim de tarde e um fim de namoro.
Um nome, que mais parecia codinome: Leo. Um “oi”. Uma
resposta tão breve quanto a saudação.
Uma ligação telefônica que esgotou a bateria do “ai fone cinco”;
Um chimarrão entupido; um almoço às quatro da tarde de um domingo chuvoso e
frio.
Culpa de São Leopoldo... Tão distante de Porto Alegre, lá no
céu; culpa do frio, que aproximou os dois debaixo do cobertor.
Não estou bem certa se a fecundação ocorreu no momento em
que tatuaste tua mão no meio das minhas costas, naquele abraço de me enfiar
inteira dentro do teu peito, ou quando afastei os cabelos da nuca, para dormir
de conchinha.
A ânsia pelo resultado do “teste” durou dois dias. Positivo.
Mas gestar no coração é mais complicado, ainda mais quando
ambos os órgãos sofreram abortos prévios e gestações ectópicas.
Houve a insegurança, o ciúme, teus silêncios, meus excessos de discurso.
Ainda assim, o amor-feto foi crescendo. As células se
multiplicando geometricamente em beijos, carícias, cuidados e saudades.
Gradativamente, tudo tomou forma: o gosto literário,
musical; o gosto do beijo e o do feijão novinho.
Teu cheiro começou no travesseiro ao lado, e foi tomando a
casa até que, de “minha”, ela ficasse “nossa”. Depois, não satisfeito, tomou
minha pele e minhas horas.
Cada ausência, cada discordância discursiva virava ameaça de
aborto. Mas não partiste, e a gestação
prosseguiu até o parto.
Talvez tenha sido prematuro. Foi rápido, mas não indolor.
Foi natural. Deixou cicatriz indelével. Foi bipolar, como nós.
O parto do nosso amor foi quando teus livros foram morar na
minha estante, e eu percebi que não partiriam mais.
quarta-feira, 11 de setembro de 2013
Maturação
Ainda sinto o cheiro
de temporal
e um aperto no peito,
que não tem igual,
mas, de repente,
tudo está diferente...
não,
nada
nunca
será "normal"
mas, ao teu lado,
há uma semente
de tranquilidade
que brota
tímida
e ainda incerta,
do solo,
do sol,
da chuva...
ainda...
ainda...
ainda...
uma hora o receio finda.
de temporal
e um aperto no peito,
que não tem igual,
mas, de repente,
tudo está diferente...
não,
nada
nunca
será "normal"
mas, ao teu lado,
há uma semente
de tranquilidade
que brota
tímida
e ainda incerta,
do solo,
do sol,
da chuva...
ainda...
ainda...
ainda...
uma hora o receio finda.
sábado, 7 de setembro de 2013
Como disse?
O que acontece afinal? Será alucinação? Um sonho? Não ouço quase nada! Minha audição! O que acontece? Mal escuto minha própria voz! Mas o que é isso? Estou sozinho em casa, ainda acordando e tentando acreditar que isso esteja acontecendo comigo. Surdez? Na minha idade? Mas talvez, apenas esteja sonhando. Sabes aqueles sonhos dentro do sonho? Deve ser isso. Estou ainda dormindo sonhando que já acordei e não consigo escutar quase nada, e nesse momento, sonho que acordo, mas continuo dormindo e ainda surdo. Wow! Mindtrick!
Não deve ser isso, é muito real para ser sonho. E muito mais real ainda para serem aqueles malditos sonhos dentro de outro. Merd! Assumo então que estou surdo? Admito de pronto? Já sei, ligo agorinha para o convênio e marco um otorrino... Raios! Sempre tenho que lembrar de ornitorrinco para lembrar de otorrino, êita inconsciente maleva! Mas...não teria como mesmo. Ligar para o ornitorrinco, digo, otorrino, que jeito se não escuto?
Tenho que usar melhor a cabeça! Pensar com lógica! Lembrar que agora é uma cabeça sem ouvidos... Pense rapaz! Pense!
Não posso e não devo continuar com esse autoengano, autoengodo auto... Diacho! Nada está “auto”, agora está tudo baixo. Baixíssimo! Inaudível! Mas tentar convencer a si próprio que isso aconteceu do nada, não. Não mesmo! Não é de hoje que venho escutando cada vez menos, dia a dia cada vez menos. Uma hora iria estourar, oras! Estourar... como se fosse possível de acontecer... Mesmo que acontecesse, não iria ouvir mesmo.
Porque tapei o astro rei com a peneira? Porque não escutei a voz da minha consciência? Escutar... escutar? Isso dará boas piadas em algum texto, talvez. Mas não tenho tempo mesmo para escrever, ora pois. Pri-o-ri-da-de agora! Uma solução! Pense moleque! Pense!
Sintomas ignorados por meses, os intermináveis:
-Hã?
-Que disse?
- Hei! Volta a fita, não escutei o que o Norman disse pra mamãe dele!
Estava na cara! Se encontro-me nesse estado, foi por protelar e protelar, até essa manhã fatídica! Imagine! Talvez eu nem possa mais degustar a sonoridade da palavra “fatídica”. Estou assustado. É fato!
Jesus! Terei eu de usar aqueles aparelhos para surdez? Aqueles cor de carne, imensos e que ficam presos na orelha e sempre desviam o olhar de seu interlocutor direto para seu pavilhão cartilaginoso auditivo e de lá não voltam mais para seus olhos? Pôxa! Além de feiosos, esses gadgets ornamentais, devem custar os olhos da cara! Um pouco de sorte, imagine se custassem os ouvidos? Pendurar aquilo onde? Minha esperança é que tenha pelo menos a opção de troca de capinhas, por outras cores sabe? Como os relógios Champion, com uma cartela de cores, todas bem New Wave... Tomara! Tomara!
Chega de se lamentar! Mesmo não tendo tempo, vou tomar uma atitude! Não posso ficar sem escutar, sem ouvir! Imagina! Não tenho dinheiro para um aparelho troca capinha e muito menos para consultar como ornitorrinco!
Preciso da minha audição de volta! Agora basta! Parto agora mesmo para o barbeiro mando cortar essa cabeleira e finalmente voltarei a escutar!
Cabelo cobrindo a orelha, minha gente, não dá mesmo!
Eleagaesse
quinta-feira, 5 de setembro de 2013
Aviso
De repente,
um tremor entra
sem convite
e me acaricia
com mãos ásperas,
sem que eu evite.
Uma aspereza
que eu conheço
de longa data
e que anda pareada
com uma tristeza
que mata.
Um sentir,
bem feito
de textura;
de loucura
sem jeito
de mentir.
um tremor entra
sem convite
e me acaricia
com mãos ásperas,
sem que eu evite.
Uma aspereza
que eu conheço
de longa data
e que anda pareada
com uma tristeza
que mata.
Um sentir,
bem feito
de textura;
de loucura
sem jeito
de mentir.
segunda-feira, 2 de setembro de 2013
Diálogo bipolar 1
-Ai meu DeusdoCéu!
-Do céu tá em falta. só tem de umbigo.
-Mas aí é laranja. Não fica bem com seu tom de pele.
-Ih, já tá a-pelando...
-Você, que só me quer pelado!
-Que nada, de pelado, basta um...precisamos sobreviver.
-Mas é difícil sobreviver à tanta implicância!
-Isto é porque toda vez que implico, você replica...
-AiiiI! Há vezes em que a vontade que tenho é fazer picadinho de você!
-Ok, mas sem laranjas, por favor. Elas só vão bem com feijoada!
- Seu porco!
- É, também vai bem na feijoda...
- Ora vá...
-Fui...está ficando perigoso por aqui...ouço os rinocerontes chegando! Saída estratégica pela direita!
-Do céu tá em falta. só tem de umbigo.
-Mas aí é laranja. Não fica bem com seu tom de pele.
-Ih, já tá a-pelando...
-Você, que só me quer pelado!
-Que nada, de pelado, basta um...precisamos sobreviver.
-Mas é difícil sobreviver à tanta implicância!
-Isto é porque toda vez que implico, você replica...
-AiiiI! Há vezes em que a vontade que tenho é fazer picadinho de você!
-Ok, mas sem laranjas, por favor. Elas só vão bem com feijoada!
- Seu porco!
- É, também vai bem na feijoda...
- Ora vá...
-Fui...está ficando perigoso por aqui...ouço os rinocerontes chegando! Saída estratégica pela direita!
domingo, 1 de setembro de 2013
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
Não tem pão? Comam brioches!
Em frente
ao palácio,
cercado
de avatares,
aqueles
dorsos
despidos,
suados
e pintados,
ostentavam
seus cocares,
representando
outros
tantos
milhares,
com calos
na mão que,
armados
só da voz,
pediam vez
para trocar
apitos
por
um punhado
de chão.
De dentro
do palácio
nem um grão.
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
Sempre o Olhar
Ele atravessava aquela rua uma vez por semana. Toda semana. E ela estava sempre lá.
A pequena janela era mais um olho sem par, encarapitada no topo do edifício caolho, tão antigo que parecia ter brotado do chão antes mesmo da cidade ser semente.
Ele não precisava ver; sentia o olhar em cada centímetro cúbico de si.
A persiana, feito uma pálpebra,sempre ligeiramente erguida. A penas o suficiente para que a pupila por trás dela se dilatasse quando ele passava. Era quando ela permitia a entrada de uma réstia de luz.
Tão logo seus passos o conduziam para além do campo de visão, a pálpebra era cerrada, como se o domínio da função daquela janela pertencesse ao mundo real apenas enquanto ele passava por ali.
Apenas o olhar ousava cruzar janela afora. A penas o luar esgueirava-se janela adentro.
Sempre à mesma hora. Sempre os mesmos movimentos. A penas as lunações variavam.
Sentir-se observado era um incômodo menor do que sua curiosidade. E desaparecia tão logo ele adentrava o prédio da escola.
Após o "-Boa noite, professor", sempre acompanhado de um sorriso macio do porteiro, ele pensava apenas na aula a ser ministrada em seguida.
Entretanto, o olhar sempre fora algo muito representativo em sua vida. Perdera a conta das vezes em que seus olhos verdes e oblíquos lhe haviam criado problemas. Fossem apenas verdes, quem sabe...mas eram compostos de centenas de centelhas esverdeadas de todos os tons da cor.
Não era algo incomum uma ou outra aluna perder-se naquele olhar. Mas eram sempre mantidos os limites do platônico amor das pupilas pelo mestre.
Na saída da aula, alguém o aguardava. O prédio. A janela. A persiana erguida, pela primeira vez...
Por trás dela uma pupila dilatada, ferida vermelha que sangrava ressentimentos.
Sem poder identificar-lhe o rosto, velado pela pouca luz, o professor sentiu o sangue gelar ao antecipar-lhe as intenções. O corpo dentro do vestido vermelho encostado ao umbral perigosamente baixo da janela.
De qualquer modo, não haveria tempo para qualquer atitude. A lágrima rubra precipitou-se no vazio, como um olho que salta da órbita.
Foi uma queda muda para todos os transeuntes. O grito dançava apenas nos ouvidos dele.
No fim, a chaga rubra no chão atraiu as moscas. Pessoas aglomeravam-se em camadas, movidas pela mórbida bisbilhotice tão desprovida de humanidade.
Os pés dele pareciam ter criado raízes profundas. A penas o pensamento corria.
Quando o grito finalmente se calou em sua cabeça, estranhas batidas assumiram o posto.
Foi quando ele lembrou "O Coração Delator", de seu escritor favorito E.A.Poe...
Sim, as batidas que ele ouvia eram de um coração, que durante muito tempo batera por ele, silenciosamente.
Somente agora ele descobriria...
No ímpeto de quem teme a pré ciência do fato, ele abriu caminho entre os curiosos, alcançou o corpo e foi devorado por seu medo mais monstruoso: o olhar que refletia a escuridão da morte da noite de lua nova lhe era desgraçadamente familiar.
Despisse-lhe a frieza da ausência de vida e eram aquelas bolas de gude que o seguiram aonde que que fosse, no ano anterior.
Assentavam-se na face rechonchuda da pupila na última classe da última fila, junto à parede. Aquela, sempre calada.
Ele abriu a boca, mas o grito de horror ficou pendurado, como o pedaço rasgado do vestido, junto ao peitoral da janela.
.
Ignorando o murmurinho enlouquecido em torno, eles compartilharam um último momento de silêncio.
A pequena janela era mais um olho sem par, encarapitada no topo do edifício caolho, tão antigo que parecia ter brotado do chão antes mesmo da cidade ser semente.
Ele não precisava ver; sentia o olhar em cada centímetro cúbico de si.
A persiana, feito uma pálpebra,sempre ligeiramente erguida. A penas o suficiente para que a pupila por trás dela se dilatasse quando ele passava. Era quando ela permitia a entrada de uma réstia de luz.
Tão logo seus passos o conduziam para além do campo de visão, a pálpebra era cerrada, como se o domínio da função daquela janela pertencesse ao mundo real apenas enquanto ele passava por ali.
Apenas o olhar ousava cruzar janela afora. A penas o luar esgueirava-se janela adentro.
Sempre à mesma hora. Sempre os mesmos movimentos. A penas as lunações variavam.
Sentir-se observado era um incômodo menor do que sua curiosidade. E desaparecia tão logo ele adentrava o prédio da escola.
Após o "-Boa noite, professor", sempre acompanhado de um sorriso macio do porteiro, ele pensava apenas na aula a ser ministrada em seguida.
Entretanto, o olhar sempre fora algo muito representativo em sua vida. Perdera a conta das vezes em que seus olhos verdes e oblíquos lhe haviam criado problemas. Fossem apenas verdes, quem sabe...mas eram compostos de centenas de centelhas esverdeadas de todos os tons da cor.
Não era algo incomum uma ou outra aluna perder-se naquele olhar. Mas eram sempre mantidos os limites do platônico amor das pupilas pelo mestre.
Na saída da aula, alguém o aguardava. O prédio. A janela. A persiana erguida, pela primeira vez...
Por trás dela uma pupila dilatada, ferida vermelha que sangrava ressentimentos.
Sem poder identificar-lhe o rosto, velado pela pouca luz, o professor sentiu o sangue gelar ao antecipar-lhe as intenções. O corpo dentro do vestido vermelho encostado ao umbral perigosamente baixo da janela.
De qualquer modo, não haveria tempo para qualquer atitude. A lágrima rubra precipitou-se no vazio, como um olho que salta da órbita.
Foi uma queda muda para todos os transeuntes. O grito dançava apenas nos ouvidos dele.
No fim, a chaga rubra no chão atraiu as moscas. Pessoas aglomeravam-se em camadas, movidas pela mórbida bisbilhotice tão desprovida de humanidade.
Os pés dele pareciam ter criado raízes profundas. A penas o pensamento corria.
Quando o grito finalmente se calou em sua cabeça, estranhas batidas assumiram o posto.
Foi quando ele lembrou "O Coração Delator", de seu escritor favorito E.A.Poe...
Sim, as batidas que ele ouvia eram de um coração, que durante muito tempo batera por ele, silenciosamente.
Somente agora ele descobriria...
No ímpeto de quem teme a pré ciência do fato, ele abriu caminho entre os curiosos, alcançou o corpo e foi devorado por seu medo mais monstruoso: o olhar que refletia a escuridão da morte da noite de lua nova lhe era desgraçadamente familiar.
Despisse-lhe a frieza da ausência de vida e eram aquelas bolas de gude que o seguiram aonde que que fosse, no ano anterior.
Assentavam-se na face rechonchuda da pupila na última classe da última fila, junto à parede. Aquela, sempre calada.
Ele abriu a boca, mas o grito de horror ficou pendurado, como o pedaço rasgado do vestido, junto ao peitoral da janela.
.
Ignorando o murmurinho enlouquecido em torno, eles compartilharam um último momento de silêncio.
Viagem
Não sei bem como começar. Dialogar com palavras próprias é um diálogo, ou um monólogo?
Bem, para uma bipolar, é mesmo um diálogo. Mas não quero que isto pareça uma D.R.!
Se eu sei tudo o que eu sinto, então talvez possa parecer que não haja sentido em escrever, mas não escreve-se para que faça sentido, escreve-se porque é preciso.
Fazendo uso das palavras de Fernando Pessoa: "Navegar é preciso, viver não é preciso." Concordo.
E navegar em um mar de palavras traz ainda a vantagem de não causar enjoos.
Há não ser, é claro, que o texto seja mesmo enjoativo, capaz de deixar o leitor nauseado, mas aí é o caso de abandonar o navio no primeiro porto. Ou ponto.
Já viver, apesar de precioso, não é preciso. Em nenhum dos dois sentidos imediatos.
Primeiramente, vive-se porque a vida nos é dada e, sabe como é: "de graça até injeção na testa", é o que dizem por aí. A vida chega até nós como um spam: clique e receba inteiramente grátis, sem taxa de entrega.
Só depois descobrimos as entrelinhas. E como há entrelinhas! Entendê-las é,sem dúvida, trabalho para uma vida inteira!
Segundo, porque a vida é um cálculo impreciso, incerto, indecifrado. E, na minha humilde opinião, indecifrável. Até por que, aí reside a graça da brincadeira.
Que graça teria se já conhecêssemos o fim da história? Ah, tá bom, conhecemos parte dele: no fim o mocinho/a morre. Mas isto é tudo o que nos é dado saber. E, no fim, é o mais importante.
Serve para dar-nos consciência do quanto é fundamental que aproveitemos a viagem.
Por isto viajo, me and myself. Na maionese, nas palavras, nas ondas do momento, antes que Leo Henrique chegue tentando me convencer de que o passado não existe, o futuro não existe e o momento não resiste. Quer saber, querido? Desiste!
Mesmo sem saber nadar, me jogo em mares de palavras, com fortes correntes de ideias e cardumes inteiros de crenças.
Sim, eu creio em "mins mesmas". Se bato palmas para que a Fada Sininho não morra, por que cultivaria dúvidas de qualquer raça ou credo? Cruzes! Eu hein...
Prefiro cultivar duendes. Vá que haja mesmo o pote de ouro?
Agora, por favor, meus aplausos...me sinto um tanto enfraquecida...parece até que vocês não acharam meu texto crível...
Viram, não é incrível a dúvida?
Bem, para uma bipolar, é mesmo um diálogo. Mas não quero que isto pareça uma D.R.!
Se eu sei tudo o que eu sinto, então talvez possa parecer que não haja sentido em escrever, mas não escreve-se para que faça sentido, escreve-se porque é preciso.
Fazendo uso das palavras de Fernando Pessoa: "Navegar é preciso, viver não é preciso." Concordo.
E navegar em um mar de palavras traz ainda a vantagem de não causar enjoos.
Há não ser, é claro, que o texto seja mesmo enjoativo, capaz de deixar o leitor nauseado, mas aí é o caso de abandonar o navio no primeiro porto. Ou ponto.
Já viver, apesar de precioso, não é preciso. Em nenhum dos dois sentidos imediatos.
Primeiramente, vive-se porque a vida nos é dada e, sabe como é: "de graça até injeção na testa", é o que dizem por aí. A vida chega até nós como um spam: clique e receba inteiramente grátis, sem taxa de entrega.
Só depois descobrimos as entrelinhas. E como há entrelinhas! Entendê-las é,sem dúvida, trabalho para uma vida inteira!
Segundo, porque a vida é um cálculo impreciso, incerto, indecifrado. E, na minha humilde opinião, indecifrável. Até por que, aí reside a graça da brincadeira.
Que graça teria se já conhecêssemos o fim da história? Ah, tá bom, conhecemos parte dele: no fim o mocinho/a morre. Mas isto é tudo o que nos é dado saber. E, no fim, é o mais importante.
Serve para dar-nos consciência do quanto é fundamental que aproveitemos a viagem.
Por isto viajo, me and myself. Na maionese, nas palavras, nas ondas do momento, antes que Leo Henrique chegue tentando me convencer de que o passado não existe, o futuro não existe e o momento não resiste. Quer saber, querido? Desiste!
Mesmo sem saber nadar, me jogo em mares de palavras, com fortes correntes de ideias e cardumes inteiros de crenças.
Sim, eu creio em "mins mesmas". Se bato palmas para que a Fada Sininho não morra, por que cultivaria dúvidas de qualquer raça ou credo? Cruzes! Eu hein...
Prefiro cultivar duendes. Vá que haja mesmo o pote de ouro?
Agora, por favor, meus aplausos...me sinto um tanto enfraquecida...parece até que vocês não acharam meu texto crível...
Viram, não é incrível a dúvida?
Disfarce em branco
Não sejas tão criativo,
sejas só um pouco
o suficiente
para parecer tolo.
Neste mundo seletivo
é arriscado ser louco
da mente...
salva-se
aquele que mente.
Se o descobrirem
irão pô-lo
em um quarto
em brancos
aos trancos
para despintar
suas ideias.
Então digo
o abrigo
ideal
é despistar
suas cores...
Seja branco,
burguês
e barbeado.
Seja bela,
não-bronzeada
e bem-sucedida.
Esbanje alvo viço
e lembre:
sua segurança
depende disso.
sejas só um pouco
o suficiente
para parecer tolo.
Neste mundo seletivo
é arriscado ser louco
da mente...
salva-se
aquele que mente.
Se o descobrirem
irão pô-lo
em um quarto
em brancos
aos trancos
para despintar
suas ideias.
Então digo
o abrigo
ideal
é despistar
suas cores...
Seja branco,
burguês
e barbeado.
Seja bela,
não-bronzeada
e bem-sucedida.
Esbanje alvo viço
e lembre:
sua segurança
depende disso.
Torto
Fico ouvindo
o celular
tocando
sem tocar
sempre pensando
que poderia ser
você
e uma vontade
torta
de saudade
morta
de me ver.
o celular
tocando
sem tocar
sempre pensando
que poderia ser
você
e uma vontade
torta
de saudade
morta
de me ver.
terça-feira, 27 de agosto de 2013
Ausência sonora
Sofro de silêncios
incubados,
o teu
e o meu
entrelaçados
nos dedos
que se soltam,
e nas palavras
que se prendem
na garganta
em plena
hora
da janta.
Os olhares,
submarinos,
nos pratos
vazios
feito meninos
vadios
temendo
o castigo.
E os braços
largados
entre nós
como dois
traços
pedindo
o abrigo
de uma voz.
incubados,
o teu
e o meu
entrelaçados
nos dedos
que se soltam,
e nas palavras
que se prendem
na garganta
em plena
hora
da janta.
Os olhares,
submarinos,
nos pratos
vazios
feito meninos
vadios
temendo
o castigo.
E os braços
largados
entre nós
como dois
traços
pedindo
o abrigo
de uma voz.
wordy game
Your abscence
means complete
nonsense
since my soul
become
senseless
torning
my mind
full
of foolish
wordless
thoughts
which can´t
be turn
in anything
but
a poem.
Because a poem
is nothing but
a childish
word game
with
someone´s feelings.
means complete
nonsense
since my soul
become
senseless
torning
my mind
full
of foolish
wordless
thoughts
which can´t
be turn
in anything
but
a poem.
Because a poem
is nothing but
a childish
word game
with
someone´s feelings.
Sem razão
O amor se faz
da ausência
de segredos
e da presença
de medos...
se faz de tardes,
de cedos,
de palavras
de seda
e enredos
de sobra,
de pernas
de cobra
e outros
assombros
que cobram
manter
a cabeça
entre os ombros.
O amor se faz
de tombos.
de cicatrizes
de infinitos
matizes.
Se faz
no que dizes
e no que
não precisa
de verbo
pra sujeitar
o que é sentido.
O amor se faz,
quando já não há
sentido
ou razão
e tudo
o que nos arrasta
é o caos
da sensação.
da ausência
de segredos
e da presença
de medos...
se faz de tardes,
de cedos,
de palavras
de seda
e enredos
de sobra,
de pernas
de cobra
e outros
assombros
que cobram
manter
a cabeça
entre os ombros.
O amor se faz
de tombos.
de cicatrizes
de infinitos
matizes.
Se faz
no que dizes
e no que
não precisa
de verbo
pra sujeitar
o que é sentido.
O amor se faz,
quando já não há
sentido
ou razão
e tudo
o que nos arrasta
é o caos
da sensação.
Rumo
Eu ando tão perdida
que qualquer beco
é avenida;
qualquer sentido,
contramão.
Eu ando tão perdida
como um desalinhado
de vida
preso na palma
da mão.
Eu ando tão perdida
como ave distraída
que foi pro sul
no verão.
E assim ando,
ressentida,
de uma sorte
anoitecida
sem um norte -
orientação.
que qualquer beco
é avenida;
qualquer sentido,
contramão.
Eu ando tão perdida
como um desalinhado
de vida
preso na palma
da mão.
Eu ando tão perdida
como ave distraída
que foi pro sul
no verão.
E assim ando,
ressentida,
de uma sorte
anoitecida
sem um norte -
orientação.
domingo, 25 de agosto de 2013
Desaritmética
Cinzas
Tem dias
que se desfiam
desafinados
aos som
de finados
amores,
cinzentos
feito flores
desfolhadas,
se arrastando
em busca
da madrugada
que foi embora,
perdendo a hora,
contrariada.
sábado, 24 de agosto de 2013
Saldo
Conheceram-se quando ela tinha 17 e ele, 18.
Ela, melhor média da turma, presidente do grêmio estudantil e membro do clube de xadrez da escola. Reconhecia no primeiro acorde todas as melhores sinfonias. Morena, do tipo mignon. Quarenta e os certos quilos de uma feminina delicadeza, quase submissa, denunciada apenas pelo olhar machadiano, ligeiramente oblíquo e incertamente dissimulado.
Ele, estudante média standart. Passava o ano zoando colegas e professores, conhecia de antemão os últimos lançamentos vocabulares mais imundos e obtinha médias escolares semelhantes ás médias térmicas do inverno gaúcho. No final, gabaritava os provões de cinco a seis disciplinas, em uma injustiça poética de transformar qualquer professor em uma criatura semelhante ao Mr. Hyde.
Ela curtia pubs de estilo londrino ou irlandês, com música ambiente que perfumasse o ar, ou uma boa banda de jazz ou blues, localizada no melhor ponto acústico.
Ele curtia estacionar o carro junto a qualquer meio fio, abrir a tampa traseira e exibir toda a potência sonora de sua masculinidade, na voz de qualquer pseudo-cantor que desse instruções de como se dança.
Uma equação que tentasse estabelecer o ponto onde as retas destas duas vidas se interceptassem tenderia a resultar em um número irracional.
Mas quem disse que existe racionalidade no destino?
Porém não se iluda, leitor. Isto não é uma história inspirada em Eduardo e Mônica.
A culpa foi da banca de revistas, de espaço insuficiente para conter duas culturas tão distintas.
Enquanto ele empregava todo o seu poder de concentração na escolha da melhor Playboy, ela subitamente derrubou seu exemplar de colecionador, edição capa dourada, dos melhores contos de Poe.
Num acesso de cavalheirismo que jazia até então adormecido nas profundezas de sua ogrice, ele se abaixou para alcançar-lhe o livro.
Já ela, membro VIP, cartão ouro, do clube das feministas pós-modernas, executou exatamente o mesmo movimento em direção ao objeto caído.
Aqui começa toda aquela melação de olhos nos olhos, almas que se encontram e blá, blá, blá, com a qual já desperdiçamos mais árvores do que deveríamos. Então vamos fazer uso de um interessante recurso novelístico-televisivo:
...cinco anos depois...
Naquele ano os dois concluíram a universidade. Receberam seus certificados de gente grande e, como presente dos pais dela, ganharam o apartamento. Como presente dos pais dele, a mobília.
Agora era marcar a data da festa de noivado e iniciar os preparativos para casamento.
Tudo simples e organizado, num bordado de pontos contados.
No jantar de noivado, ambas as famílias estavam reunidas em torno da mesa. Toalha de um linho branco, virgem, que pertencera ao enxoval da mãe da noiva. Afinal, algo tinha de ser virgem em uma cerimônia tão ortodoxa.
No momento certo, o pai do noivo sinalizou-lhe com o olhar que era chegada a hora de pedir a mão da moça.
É obvio que o rapaz não entendia o porquê de pedir a mão, se já haviam compartilhado de seus corpos, tudo o que havia a ser compartilhado mas, se sempre havia sido assim, menos difícil era seguir o movimento por inércia, geração após geração.
Pedido feito, aceito, discursado e brindado.
Após o farto festim, retiraram-se os convidados e os pratos da mesa.
Os pais da noiva dirigiram-se para seu leito realizados, conscientes de estarem a um passo de delegar a outrem a responsabilidade que lhes pertenceu durante tantos anos.
Ela, na sala, resolveu descansar o corpo na poltrona preferida de ambos, presente já prometido pela mãe, assim que alçasse voo para o próprio ninho.
Por uma daquelas ironias sacanas do destino, ele que agia como se o celular fosse um de seus órgãos vitais, absolutamente indispensável ao funcionamento sadio de seu ser, não o percebera deslizar escuso de seu bolso e refugiar-se, obsceno, na fenda entre a almofada e o encosto da poltrona.
A curiosidade e a feminilidade formam uma mistura absolutamente homogênea.
Mensagens. Caixa de entrada.Uma a uma.
Diante da incapacidade de odiá-lo na presença da traição incontestável, odiou a infeliz criatura que teve a amaldiçoada ideia de manter aqueles significantes dos quais ela não conseguia distinguir bem o significado, registrados, gravados a ferro e fogo em sua retina, em seu coração e em sua mente.
Mentiras. Poderiam ser medusas, transformando seres em pedra com um simples olhar. Mas eram mentiras, e transformaram instantaneamente em pedra tudo o que ela sentira por ele.
Com a calma da frieza, ou a frieza da calma de quem já não sente mais nada, ela tirou a aliança recém presenteada, como quem despe a confiança que não lhe pertence mais.
Levou-a à boca e engoliu, iniciando o processo de digestão da descoberta.
Na manhã seguinte, seu intestino concluiu o processo. Com o cuidado de quem finaliza uma obra de arte, ela escolheu uma embalagem vermelha,como a paixão que um dia sentira e aveludada,como as carícias que tantas vezes trocaram.
Então forrou-a com um papel branco, que lembrava a pureza de sentimentos, que na verdade não habitara a relação deles.
Por um instante ela parou e observou a caixa. Sua mente entrou em modo stand by, mas suas mãos continuaram.
Tranquilamente calçou suas luvas de borracha e coletou a matéria que seu intestino produzira na primeira hora da manhã, com a aliança incrustada, e acomodou o preciosos presente na luxuosa caixa.
Ligou para um serviço de entregas e enviou-o ao endereço de trabalho do ex-amor.
Em seguida arrumou as malas, escreveu um curto bilhete para os pais, juntou seu passaporte aos demais documentos e dirigiu-se ao banco.
Lá chegando, sacou até o último centavo da conta conjunta que mantinham para as despesas da festa e lua de mel, depois rumou para o aeroporto, devidamente indenizada.
Saldo da relação = saldo da conta bancária.
Ela, melhor média da turma, presidente do grêmio estudantil e membro do clube de xadrez da escola. Reconhecia no primeiro acorde todas as melhores sinfonias. Morena, do tipo mignon. Quarenta e os certos quilos de uma feminina delicadeza, quase submissa, denunciada apenas pelo olhar machadiano, ligeiramente oblíquo e incertamente dissimulado.
Ele, estudante média standart. Passava o ano zoando colegas e professores, conhecia de antemão os últimos lançamentos vocabulares mais imundos e obtinha médias escolares semelhantes ás médias térmicas do inverno gaúcho. No final, gabaritava os provões de cinco a seis disciplinas, em uma injustiça poética de transformar qualquer professor em uma criatura semelhante ao Mr. Hyde.
Ela curtia pubs de estilo londrino ou irlandês, com música ambiente que perfumasse o ar, ou uma boa banda de jazz ou blues, localizada no melhor ponto acústico.
Ele curtia estacionar o carro junto a qualquer meio fio, abrir a tampa traseira e exibir toda a potência sonora de sua masculinidade, na voz de qualquer pseudo-cantor que desse instruções de como se dança.
Uma equação que tentasse estabelecer o ponto onde as retas destas duas vidas se interceptassem tenderia a resultar em um número irracional.
Mas quem disse que existe racionalidade no destino?
Porém não se iluda, leitor. Isto não é uma história inspirada em Eduardo e Mônica.
A culpa foi da banca de revistas, de espaço insuficiente para conter duas culturas tão distintas.
Enquanto ele empregava todo o seu poder de concentração na escolha da melhor Playboy, ela subitamente derrubou seu exemplar de colecionador, edição capa dourada, dos melhores contos de Poe.
Num acesso de cavalheirismo que jazia até então adormecido nas profundezas de sua ogrice, ele se abaixou para alcançar-lhe o livro.
Já ela, membro VIP, cartão ouro, do clube das feministas pós-modernas, executou exatamente o mesmo movimento em direção ao objeto caído.
Aqui começa toda aquela melação de olhos nos olhos, almas que se encontram e blá, blá, blá, com a qual já desperdiçamos mais árvores do que deveríamos. Então vamos fazer uso de um interessante recurso novelístico-televisivo:
...cinco anos depois...
Naquele ano os dois concluíram a universidade. Receberam seus certificados de gente grande e, como presente dos pais dela, ganharam o apartamento. Como presente dos pais dele, a mobília.
Agora era marcar a data da festa de noivado e iniciar os preparativos para casamento.
Tudo simples e organizado, num bordado de pontos contados.
No jantar de noivado, ambas as famílias estavam reunidas em torno da mesa. Toalha de um linho branco, virgem, que pertencera ao enxoval da mãe da noiva. Afinal, algo tinha de ser virgem em uma cerimônia tão ortodoxa.
No momento certo, o pai do noivo sinalizou-lhe com o olhar que era chegada a hora de pedir a mão da moça.
É obvio que o rapaz não entendia o porquê de pedir a mão, se já haviam compartilhado de seus corpos, tudo o que havia a ser compartilhado mas, se sempre havia sido assim, menos difícil era seguir o movimento por inércia, geração após geração.
Pedido feito, aceito, discursado e brindado.
Após o farto festim, retiraram-se os convidados e os pratos da mesa.
Os pais da noiva dirigiram-se para seu leito realizados, conscientes de estarem a um passo de delegar a outrem a responsabilidade que lhes pertenceu durante tantos anos.
Ela, na sala, resolveu descansar o corpo na poltrona preferida de ambos, presente já prometido pela mãe, assim que alçasse voo para o próprio ninho.
Por uma daquelas ironias sacanas do destino, ele que agia como se o celular fosse um de seus órgãos vitais, absolutamente indispensável ao funcionamento sadio de seu ser, não o percebera deslizar escuso de seu bolso e refugiar-se, obsceno, na fenda entre a almofada e o encosto da poltrona.
A curiosidade e a feminilidade formam uma mistura absolutamente homogênea.
Mensagens. Caixa de entrada.Uma a uma.
Diante da incapacidade de odiá-lo na presença da traição incontestável, odiou a infeliz criatura que teve a amaldiçoada ideia de manter aqueles significantes dos quais ela não conseguia distinguir bem o significado, registrados, gravados a ferro e fogo em sua retina, em seu coração e em sua mente.
Mentiras. Poderiam ser medusas, transformando seres em pedra com um simples olhar. Mas eram mentiras, e transformaram instantaneamente em pedra tudo o que ela sentira por ele.
Com a calma da frieza, ou a frieza da calma de quem já não sente mais nada, ela tirou a aliança recém presenteada, como quem despe a confiança que não lhe pertence mais.
Levou-a à boca e engoliu, iniciando o processo de digestão da descoberta.
Na manhã seguinte, seu intestino concluiu o processo. Com o cuidado de quem finaliza uma obra de arte, ela escolheu uma embalagem vermelha,como a paixão que um dia sentira e aveludada,como as carícias que tantas vezes trocaram.
Então forrou-a com um papel branco, que lembrava a pureza de sentimentos, que na verdade não habitara a relação deles.
Por um instante ela parou e observou a caixa. Sua mente entrou em modo stand by, mas suas mãos continuaram.
Tranquilamente calçou suas luvas de borracha e coletou a matéria que seu intestino produzira na primeira hora da manhã, com a aliança incrustada, e acomodou o preciosos presente na luxuosa caixa.
Ligou para um serviço de entregas e enviou-o ao endereço de trabalho do ex-amor.
Em seguida arrumou as malas, escreveu um curto bilhete para os pais, juntou seu passaporte aos demais documentos e dirigiu-se ao banco.
Lá chegando, sacou até o último centavo da conta conjunta que mantinham para as despesas da festa e lua de mel, depois rumou para o aeroporto, devidamente indenizada.
Saldo da relação = saldo da conta bancária.
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
Homogêneo
Sinto uma sede
insana,
que não há líquido
que sacie.
Meu suor
já não escorre.
Suspeito
que secou.
Teus resquícios
são tudo
que sobrou
em mim.
Já não sei
se seremos
uníssonos
até o fim.
insana,
que não há líquido
que sacie.
Meu suor
já não escorre.
Suspeito
que secou.
Teus resquícios
são tudo
que sobrou
em mim.
Já não sei
se seremos
uníssonos
até o fim.
A Poça
Pouco mais de um metro da mais pura petulância alourada e cacheada, proprietária de um raciocínio linguístico tão veloz que faria a luz sentir-se uma lebre, Maria Antônia não tinha papas na língua e era intimamente chegada a um bom papo.
Na data em questão apresentava-se envelopada no figurino africano, estampado e longo, presenteado pela madrinha,e desfilava sua feminilidade transbordante pela pracinha quando, de repente seus passos curtos e rebolativos foram subitamente interrompidos por uma visão paradisíaca.
A noite anterior havia sido de precipitações pluviométricas moderadas e ali, bem diante de seus olhinhos faiscantes, um filhote de chuva dormia em seu berço de lama. Era tentação demais para ser errado ou proibido!
Com o canto dos olhinhos aquilinos pôde perceber a ausência de perigo, na distração da mãe.
Num movimento rápido, despiu-se das sandálias e mergulhou prazerosamente os dois pezinhos na maciez fresca da lama, que cobriu-lhe até os tornozelos. Lembrava mingau de caramelo.Talvez com um pouco de chocolate.
Ondas de prazer lhe subiam e desciam pelo corpo no contraste entre a frescura da água da poça e a quentura do sol que fazia cócegas nos mini ombros desnudos.
Claro que, na melhor parte de tudo, no momento orgásmico da travessura, a mãe voltou seus olhos repressores na direção do paraíso e o olhar logo virou som imperativo: "Maria Antônia, sai já daí!"
Como ir para o inferno por meio pecado é um enorme desperdício, a coisinha atrevida mergulhou a ausência de bunda na poça tão depressa, que Usain Bolt se sentiria o Barrichelo.
"Mas, minha filha! Tem minhocas nesta água!"
(...pausa para um olhar felino que era uma mistura de complacência e total desprezo pela ignorância materno-humana...)
"Mamãe...as minhocas vivem debaixo da terra, não nas poças de água! Afff"
A mãe convencida de que há situações em que aceitar uma derrota honrosa é a melhor saída, deixou a versão loira de um misto de Clara Nunes e Gabriela dançar na poça de lama enquanto erguia delicadamente a barra do vestido, e voltou a conversar trivialidades com a madrinha.
Preto e branco
Minha morte é branca,
alva como a folha,
alvejada no Lettes,
alvejando meu peito,
seco, do leite branco
que um dia foi vida.
Minha morte é branca
como a memória dos velhos
que esqueceram tudo...
até de morrer,
e ninguém os avisou
que já partiram, em vida.
Minha morte é branca
como papel não reciclado,
virgem das palavras
que gestam a vida.
Minha morte é branca
porque o branco
nada absorve
tudo reflete,
nada aprende.
Minha vida é negra
pois tudo absorve,
digere, gera
e aprende
até que degenere,
e encontre
o apagamento
da morte.
alva como a folha,
alvejada no Lettes,
alvejando meu peito,
seco, do leite branco
que um dia foi vida.
Minha morte é branca
como a memória dos velhos
que esqueceram tudo...
até de morrer,
e ninguém os avisou
que já partiram, em vida.
Minha morte é branca
como papel não reciclado,
virgem das palavras
que gestam a vida.
Minha morte é branca
porque o branco
nada absorve
tudo reflete,
nada aprende.
Minha vida é negra
pois tudo absorve,
digere, gera
e aprende
até que degenere,
e encontre
o apagamento
da morte.
Suicídio
Ando perdida
da minha poesia.
Proseio contigo
em frente à tela
com a mente vadia,
que nada revela.
Quando de repente
um verso suicida
numa frase interrompida
se ressente do abandono
e salta
no vazio
da folha
sem pauta.
da minha poesia.
Proseio contigo
em frente à tela
com a mente vadia,
que nada revela.
Quando de repente
um verso suicida
numa frase interrompida
se ressente do abandono
e salta
no vazio
da folha
sem pauta.
Marcas
"...e Clarisse está sentada no banheiro e faz marcas com seu pequeno canivete...a dor é menor do que parece, quando ela se corta, ela se esquece..."
Não, eu não sou mais Clarisse. Percebi que poderia ferir o papel, e não a pele, obtendo o mesmo nível de analgesia. Aprendi que poderia rasgar o verbo, o advérbio e o adjetivo, mas preservar sujeito. Continuo sujeita ás dores da alma, mas as cicatrizes passei a deixá-las no papel.
Crio mosaicos com marcas que singram a alvura do papel sangrando em prosa e verso.
A caneta é um canivete submisso porém, afiado.
Mecenas, financia momentos de paz ao descolar o sofrimento adesivo e colá-lo na folha, decorativo.
Algoz, denuncia sem piedade o reverso que eu não queria ser e depois, Pilatos, deixa que o leitor julgue, condene e execute os significados ali contidos.
Assim, reciclando o que sinto, minhas execuções deixam de fazer sentido. Seguimos então a marcha, eu, o papel, e nossas marcas.
Não, eu não sou mais Clarisse. Percebi que poderia ferir o papel, e não a pele, obtendo o mesmo nível de analgesia. Aprendi que poderia rasgar o verbo, o advérbio e o adjetivo, mas preservar sujeito. Continuo sujeita ás dores da alma, mas as cicatrizes passei a deixá-las no papel.
Crio mosaicos com marcas que singram a alvura do papel sangrando em prosa e verso.
A caneta é um canivete submisso porém, afiado.
Mecenas, financia momentos de paz ao descolar o sofrimento adesivo e colá-lo na folha, decorativo.
Algoz, denuncia sem piedade o reverso que eu não queria ser e depois, Pilatos, deixa que o leitor julgue, condene e execute os significados ali contidos.
Assim, reciclando o que sinto, minhas execuções deixam de fazer sentido. Seguimos então a marcha, eu, o papel, e nossas marcas.
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
Procura
De repente percebo que me aproximo cada vez mais de mim mesma. Já posso sentir meu perfume.Aquele mesmo que Leo Henrique odeia. Devo estar logo ali, dobrando a esquina. Se apressasse um pouquinho só o passo...só um pouquinho...Mas aí vem o momento "get stuck", "freeze".
E se eu não for nada daquilo que espero? E se nenhuma de minhas crenças, preferências e verdades estiver contida naquele pacote? E se tudo o que sou for apenas o que aprendi a acreditar que era? E se eu/ela gostar de música sertaneja, for tiete do Luan Santana, ou vestir legging listrada? Se for petista de carteirinha ou souber de cor o Funk das Poderosas? Ai Meu Deus! Lembro na hora todas as preces da catequese de cor e salteado.
Mas é neste momento em que sinto a presença do tornado de Oz, com sua pontualidade infalível. Então meu instinto entra no modo piloto automático e me agarro a tudo o que me livre da voracidade da dúvida: quem sou eu? sou pouco mais de 1m50cm de amor eterno pela literatura, boas músicas e danças,boas comidas e boas gentes e até de gentes não tão boas afinal, dá muito trabalho distinguir umas das outras.
Religião: a do Lulu Santos - "Consideramos justa toda a forma de amor";
Sexo: segundo orientação psiquiátrica o controlador de humor deve ser administrado em dose diária;
Raça: muita, pois é preciso muita raça para não sucumbir á selvageria e manter-se humano;
Então, e o resto? O resto rasteja atrás de mim, á espera de uma rima pobre que encerre o texto na palavra exata. O que ele não sabe é que não há fim em mim. O que ele não sabe é sou sou feita de infinitos recomeços. E se não me encontro, não é porque não saiba onde procurar. É que brincar de esconde-esconde ainda é mais divertido e seguro.
E se eu não for nada daquilo que espero? E se nenhuma de minhas crenças, preferências e verdades estiver contida naquele pacote? E se tudo o que sou for apenas o que aprendi a acreditar que era? E se eu/ela gostar de música sertaneja, for tiete do Luan Santana, ou vestir legging listrada? Se for petista de carteirinha ou souber de cor o Funk das Poderosas? Ai Meu Deus! Lembro na hora todas as preces da catequese de cor e salteado.
Mas é neste momento em que sinto a presença do tornado de Oz, com sua pontualidade infalível. Então meu instinto entra no modo piloto automático e me agarro a tudo o que me livre da voracidade da dúvida: quem sou eu? sou pouco mais de 1m50cm de amor eterno pela literatura, boas músicas e danças,boas comidas e boas gentes e até de gentes não tão boas afinal, dá muito trabalho distinguir umas das outras.
Religião: a do Lulu Santos - "Consideramos justa toda a forma de amor";
Sexo: segundo orientação psiquiátrica o controlador de humor deve ser administrado em dose diária;
Raça: muita, pois é preciso muita raça para não sucumbir á selvageria e manter-se humano;
Então, e o resto? O resto rasteja atrás de mim, á espera de uma rima pobre que encerre o texto na palavra exata. O que ele não sabe é que não há fim em mim. O que ele não sabe é sou sou feita de infinitos recomeços. E se não me encontro, não é porque não saiba onde procurar. É que brincar de esconde-esconde ainda é mais divertido e seguro.
terça-feira, 20 de agosto de 2013
Teste
Andei
até descontinuar
meus passos cansados,
ao descobrir
caminhos não desvirginados
pelos vis
olhos humanos.
Aspirei odores
espirais
anti-gravitacionais
que valsavam
entre elétrons e prótons
irracionais
contrariando
quaisquer teorias
comportamentais.
Usei minha pele
para além de vestimenta
parte da alma, que sedimenta
a tormenta e o prazer.
até descontinuar
meus passos cansados,
ao descobrir
caminhos não desvirginados
pelos vis
olhos humanos.
Aspirei odores
espirais
anti-gravitacionais
que valsavam
entre elétrons e prótons
irracionais
contrariando
quaisquer teorias
comportamentais.
Usei minha pele
para além de vestimenta
parte da alma, que sedimenta
a tormenta e o prazer.
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
domingo, 18 de agosto de 2013
Estações
Se te fores
retorno
para a ausência
de mim.
Recomeço
do fim
e volto
ao que esqueço.
Repouso
onde a agonia
criar grama;
Me lavo
onde a lágrima
fizer lama;
Me sacio
onde o sentimento
der rama...
Até que cada grama
da minha alma
se derrame
e ramifique
para que só então
o fim
floresça.
retorno
para a ausência
de mim.
Recomeço
do fim
e volto
ao que esqueço.
Repouso
onde a agonia
criar grama;
Me lavo
onde a lágrima
fizer lama;
Me sacio
onde o sentimento
der rama...
Até que cada grama
da minha alma
se derrame
e ramifique
para que só então
o fim
floresça.
Bipolar
Você diz que
estar no centro
é o certo
mas não consigo
ser eu mesma,
assim.
Subo e desço
neste esboço
que só me leva
ao fundo
do poço.
A sobriedade
me cansa.
Me despe da criança
que dança descalça.
Me exige paciência
e confiança
numa ciência
que não me alcança.
Então eu cerro as pálpebras
e sinto a música:
te convenço pela pose
de pernas trançadas,
enquanto, dissimulada,
minha alma salseia
salão afora.
estar no centro
é o certo
mas não consigo
ser eu mesma,
assim.
Subo e desço
neste esboço
que só me leva
ao fundo
do poço.
A sobriedade
me cansa.
Me despe da criança
que dança descalça.
Me exige paciência
e confiança
numa ciência
que não me alcança.
Então eu cerro as pálpebras
e sinto a música:
te convenço pela pose
de pernas trançadas,
enquanto, dissimulada,
minha alma salseia
salão afora.
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
O preço da cor
Ás vezes sinto
que meus gritos
invisíveis
ainda ecoam,
foscos,
pelas paredes,
brancas.
Por meia lunação
gestei culpas ectópicas,
menstruei esperanças
e pari o silêncio alvo.
Naquele quarto,
só a solidão
e a dúvida
eram crescentes,
enquanto gentes
e falas
decresciam
até o mutismo.
Amortecida,
me homogeneizei
com o todo
daquela ausência
onde minha essência
virou branco.
Por fim,
de alma nude
fui liberta,
mas advertida
de que mantivesse
tal alvura
pois
toda cor refletida
seria impiedosamente
punida.
que meus gritos
invisíveis
ainda ecoam,
foscos,
pelas paredes,
brancas.
Por meia lunação
gestei culpas ectópicas,
menstruei esperanças
e pari o silêncio alvo.
Naquele quarto,
só a solidão
e a dúvida
eram crescentes,
enquanto gentes
e falas
decresciam
até o mutismo.
Amortecida,
me homogeneizei
com o todo
daquela ausência
onde minha essência
virou branco.
Por fim,
de alma nude
fui liberta,
mas advertida
de que mantivesse
tal alvura
pois
toda cor refletida
seria impiedosamente
punida.
quarta-feira, 14 de agosto de 2013
Ainda
Tento ler
teu silêncio
em Braille;
não enxergo
a cor
que ele tem.
Tua imagem,
ainda tem
contornos
desfocados.
Não tenho
teu mapa.
Ainda são
aprendi
teus caminhos.
Apenas intuo
intenamente.
teu silêncio
em Braille;
não enxergo
a cor
que ele tem.
Tua imagem,
ainda tem
contornos
desfocados.
Não tenho
teu mapa.
Ainda são
aprendi
teus caminhos.
Apenas intuo
intenamente.
Ensinamentos
Não entendo
por que poupas
tuas palavras
com tanto zelo
enquanto gasto
as minhas
tão sem
remorso...
mas quando,
finalmente,
me presenteias
com tua eloquência
parcimoniosa
percebo
que sabes de mim
o que eu mesma
desconheço
e aprendo
que o silêncio
pode ser
um professor
amoroso.
por que poupas
tuas palavras
com tanto zelo
enquanto gasto
as minhas
tão sem
remorso...
mas quando,
finalmente,
me presenteias
com tua eloquência
parcimoniosa
percebo
que sabes de mim
o que eu mesma
desconheço
e aprendo
que o silêncio
pode ser
um professor
amoroso.
Descoberta
...um dia descobri
que as janelas
também existiam
do lado de fora.
Até então,
achava que
somente porta
s é que tinham
dois lados
afinal,
entramos
e saímos
por elas.
Se,
das janelas,
eu só olhava
de dentro
para fora,
por que
existiriam
do outro lado?
que as janelas
também existiam
do lado de fora.
Até então,
achava que
somente porta
s é que tinham
dois lados
afinal,
entramos
e saímos
por elas.
Se,
das janelas,
eu só olhava
de dentro
para fora,
por que
existiriam
do outro lado?
quinta-feira, 8 de agosto de 2013
quinta-feira, 1 de agosto de 2013
Refeição
segunda-feira, 29 de julho de 2013
N(F)ome
Lambo teu nome
de baixo
para cima
e ele
é doce
mesmo
sendo verde.
Rima
com mel
e combina
com teus olhos.
Escorre
garganta abaixo
fresco
e aveludado
até
acariciar
o estômago.
Não gostas
do teu nome?
Pois eu gosto!
Gosto do som,
desta
cálida fome
que ele desperta,
e que só
seu signo
sacia.
de baixo
para cima
e ele
é doce
mesmo
sendo verde.
Rima
com mel
e combina
com teus olhos.
Escorre
garganta abaixo
fresco
e aveludado
até
acariciar
o estômago.
Não gostas
do teu nome?
Pois eu gosto!
Gosto do som,
desta
cálida fome
que ele desperta,
e que só
seu signo
sacia.
Bolsa-amor
Amor de direito,
de direita,
comunista,
bi-polar,
bi-lateral,
de ladinho...
Amor hetero-gêneo,
hetero-diegético,
homo-afetivo,
homó-fono,
furtivo,
furta-cor...
Amar
é direito de todos!
Quero todas as cores
na minha
Bolsa-amor!
de direita,
comunista,
bi-polar,
bi-lateral,
de ladinho...
Amor hetero-gêneo,
hetero-diegético,
homo-afetivo,
homó-fono,
furtivo,
furta-cor...
Amar
é direito de todos!
Quero todas as cores
na minha
Bolsa-amor!
sábado, 27 de julho de 2013
Depois do fim que não há
E então começamos o pós-último-capítulo. Podemos começar pelo desequilíbrio de hormônios, que leva ao desequilíbrio do humor, mas há uma alegada falta de senso de humor nela então, talvez seja melhor optar pelo tema falha do regulador de humor dele, que leva a um desequilíbrio do amor, do bom senso e até da paciência dos dois. Mas talvez seja melhor começar pelos desequilíbrios bipolares, depressões, múltiplas pressões diárias que conduzem a discussões sem sentido, de onde invariavelmente, um dos dois sai sentido.
Mas onde foram parar as piadas bobas que preenchiam os diálogos no Skype até às três da manhã? Devem ter ido para a balada, em parceria com as promessas de passeios infindáveis e noitadas intermináveis.
De fininho, a tv entrou na sala e na vida do casal. No começo eram apenas os filmes românticos, seguidos pelos interessantíssimos documentários comentados. Mas de repente, um dia, sem qualquer aviso prévio, a novela foi convidada a participar do jantar. À partir deste dia, o silêncio dialógico passou a morar na sala.
Neste ponto, ela notou que o apartamento começava a ficar pequeno para tanta gente. Embora alguns partissem, inclusive alguns que fariam muita falta, como o Sr. Diálogo, outros tomavam rapidamente o lugar desocupado.
Foi assim que chegaram, de mala e cuia, em momento indubitavelmente inoportuno, o Sr. Ciúme e a Sra. Insegurança, que tiveram que dividir o quarto deixado vago pela Sra. Libido.
Até o dia em que ela cansou de servir tantos hóspedes bicões, convidou o Sr diálogo para um chá e,com a ajuda de sua sabedoria plácida, expulsou todos os desconvidados filões.
Só aí eles entenderam que é depois do "...e foram felizes para sempre" que a gente descobre a impossibilidade de ser feliz sempre. Ontem ela estava de TPM, hoje ele está de mal humor...mas no fim os dois aprendem que não há fim, se há amor para manter a roda desta hospedaria maluca girando.
Mas onde foram parar as piadas bobas que preenchiam os diálogos no Skype até às três da manhã? Devem ter ido para a balada, em parceria com as promessas de passeios infindáveis e noitadas intermináveis.
De fininho, a tv entrou na sala e na vida do casal. No começo eram apenas os filmes românticos, seguidos pelos interessantíssimos documentários comentados. Mas de repente, um dia, sem qualquer aviso prévio, a novela foi convidada a participar do jantar. À partir deste dia, o silêncio dialógico passou a morar na sala.
Neste ponto, ela notou que o apartamento começava a ficar pequeno para tanta gente. Embora alguns partissem, inclusive alguns que fariam muita falta, como o Sr. Diálogo, outros tomavam rapidamente o lugar desocupado.
Foi assim que chegaram, de mala e cuia, em momento indubitavelmente inoportuno, o Sr. Ciúme e a Sra. Insegurança, que tiveram que dividir o quarto deixado vago pela Sra. Libido.
Até o dia em que ela cansou de servir tantos hóspedes bicões, convidou o Sr diálogo para um chá e,com a ajuda de sua sabedoria plácida, expulsou todos os desconvidados filões.
Só aí eles entenderam que é depois do "...e foram felizes para sempre" que a gente descobre a impossibilidade de ser feliz sempre. Ontem ela estava de TPM, hoje ele está de mal humor...mas no fim os dois aprendem que não há fim, se há amor para manter a roda desta hospedaria maluca girando.
Sinônimos perfeitos
Enquanto assistias a gravação da palestra do Cortella, hoje pela manhã, me chamou a atenção a definição que ele deu para perfeição: plenitude, inteireza, completude. Então te observei, ali sentado no sofá, vestindo meu roupão e espirrando, febril, e finalmente pude compreender o quão sinônimos somos tu e eu...
Perfeição
é tua forma
de me acariciar
automaticamente,
sempre que me aproximo,
como se uma força
desconhecida
atraísse tuas mãos
para o meu corpo;
inteireza
é a sensação que me acorda,
nos teus braços, pela manhã;
completude é o resultado
de nossos corpos unidos
e
plenitude
não é senão
as reticências
desta união.
Perfeição
é tua forma
de me acariciar
automaticamente,
sempre que me aproximo,
como se uma força
desconhecida
atraísse tuas mãos
para o meu corpo;
inteireza
é a sensação que me acorda,
nos teus braços, pela manhã;
completude é o resultado
de nossos corpos unidos
e
plenitude
não é senão
as reticências
desta união.
sexta-feira, 26 de julho de 2013
Memória olfato/afetiva
Minha visão anda se queixando da idade então, aproveitando uma visita à minha cidade natal, resgatei meus velhos óculos. Mas ao colocá-los sobre os olhos, percebi que não faziam tanta diferença, senão para tomar o ônibus certo. Então entendi que observo tudo ao meu redor com outros sentidos mais aguçados. Nunca fui boa em ver o mundo com os olhos...Meu mundo se forma através de cheiros, texturas, gostos e arrepios.
Sinto o antigo colégio no sabor doce da polenta de leite com calda de caramelo e no som melodioso da voz da tia Zulma cantando a Oração de São Francisco. Sinto falta do cheiro daquelas florzinhas amarelas que cobriam o muro lateral, e que nos buscava para a aula, na esquina. Só mais tarde descobri que crianças saíam de casa mas não iam para a aula...Foi quando aprendi o que era um PARADOXO, na sexta série, ao mudar de colégio, já que a Escola Estadual de primeiro Grau Incompleto Sagrado Coração de Jesus, como o próprio nome diz, não oferecia todas as séries do ensino fundamental. E lembro que tínhamos que escrever o nome completo da escola todos os dias, junto à data. Coincidentemente não havia problemas de alfabetização entre meus colegas e todos gostávamos de escrever. Até redação. E também de ler, de tudo um pouco, ou melhor, de tudo, muito. Líamos em todo lugar.
Por exemplo, no Parque da Baronesa reencontrei o perfume de grama amassada que se misturava ao cheiro das páginas amareladas em minhas mãos, mapas de pontes para lugares de paz. Era lá que me refugiava das alcoólicas brigas domésticas, das brincadeiras sem graça que os parentes faziam porque os erres no final de minhas palavras eram sonoros, ou porque meus plurais eram flexionados, enquanto as angústias permaneciam silenciosas e a solidão, inflexível ... Lembranças de domingos de sol e silêncio, coloridos de literatura libertadora.
E, por falar em literatura,o cheiro de tinta fresca da Biblioteca Pública Municipal refrescou a memória daquela menina que cresceu em um tempo sem computadores ou internet, copiando trechos de livros em uma folha de caderno que ia dobrada no bolso. Mas ela sempre esquecia o lápis, que a recepcionista emprestava com um sorriso doce e complacente.
Inúmeras manhãs sem aula, preenchidas com histórias fantásticas de criaturas lendárias e mitológicas, fantasticamente reais ou realmente fantásticas...
Hoje o branco, um tanto frio, cobriu o rosa da fachada e das paredes internas, mas o cheiro de madeira antiga ainda convida o visitante a experimentar uma das mesinhas quadradas, de pês esculpidos em formas arredondadas, enquanto as mãos abrem alguma das milhares de janelas cuidadosamente catalogadas e armazenadas nas prateleiras.
As recepcionistas de faces juvenis cochicham sobre posts do Facebook. Por certo desconhecem aquela sensação redonda na boca do estômago que somente o cheiro da tinta preta, envelhecida, em uma página amarelada é capaz de causar. É algo que embriaga o sujeito, provocando um torpor ímpar, um arrepio visceral que conduz este sujeito-leitor a uma viagem cujo destino é personalizado. Senti pena delas.
Sinto o antigo colégio no sabor doce da polenta de leite com calda de caramelo e no som melodioso da voz da tia Zulma cantando a Oração de São Francisco. Sinto falta do cheiro daquelas florzinhas amarelas que cobriam o muro lateral, e que nos buscava para a aula, na esquina. Só mais tarde descobri que crianças saíam de casa mas não iam para a aula...Foi quando aprendi o que era um PARADOXO, na sexta série, ao mudar de colégio, já que a Escola Estadual de primeiro Grau Incompleto Sagrado Coração de Jesus, como o próprio nome diz, não oferecia todas as séries do ensino fundamental. E lembro que tínhamos que escrever o nome completo da escola todos os dias, junto à data. Coincidentemente não havia problemas de alfabetização entre meus colegas e todos gostávamos de escrever. Até redação. E também de ler, de tudo um pouco, ou melhor, de tudo, muito. Líamos em todo lugar.
Por exemplo, no Parque da Baronesa reencontrei o perfume de grama amassada que se misturava ao cheiro das páginas amareladas em minhas mãos, mapas de pontes para lugares de paz. Era lá que me refugiava das alcoólicas brigas domésticas, das brincadeiras sem graça que os parentes faziam porque os erres no final de minhas palavras eram sonoros, ou porque meus plurais eram flexionados, enquanto as angústias permaneciam silenciosas e a solidão, inflexível ... Lembranças de domingos de sol e silêncio, coloridos de literatura libertadora.
E, por falar em literatura,o cheiro de tinta fresca da Biblioteca Pública Municipal refrescou a memória daquela menina que cresceu em um tempo sem computadores ou internet, copiando trechos de livros em uma folha de caderno que ia dobrada no bolso. Mas ela sempre esquecia o lápis, que a recepcionista emprestava com um sorriso doce e complacente.
Inúmeras manhãs sem aula, preenchidas com histórias fantásticas de criaturas lendárias e mitológicas, fantasticamente reais ou realmente fantásticas...
Hoje o branco, um tanto frio, cobriu o rosa da fachada e das paredes internas, mas o cheiro de madeira antiga ainda convida o visitante a experimentar uma das mesinhas quadradas, de pês esculpidos em formas arredondadas, enquanto as mãos abrem alguma das milhares de janelas cuidadosamente catalogadas e armazenadas nas prateleiras.
As recepcionistas de faces juvenis cochicham sobre posts do Facebook. Por certo desconhecem aquela sensação redonda na boca do estômago que somente o cheiro da tinta preta, envelhecida, em uma página amarelada é capaz de causar. É algo que embriaga o sujeito, provocando um torpor ímpar, um arrepio visceral que conduz este sujeito-leitor a uma viagem cujo destino é personalizado. Senti pena delas.
sexta-feira, 12 de julho de 2013
Acordando
Puxa as cortinas
das janelas
e me mostra
a água,
verde-límpida,
cheia de peixes
dourados.
Depois,
baixa as persianas
e mergulha
de novo
nos olhos
fechados.
das janelas
e me mostra
a água,
verde-límpida,
cheia de peixes
dourados.
Depois,
baixa as persianas
e mergulha
de novo
nos olhos
fechados.
segunda-feira, 8 de julho de 2013
A vida do texto
O texto é um ente fluido, que nasce no primeiro traço e morre no último ponto do autor. Ele reencarna cada vez que novos olhos lhe sopram vida. Mas nunca é igual. Cada leitura é uma vida única e singular. Nos intervalos em que ninguém o lê, o texto não existe.
Por isto um livro guardando pó, na prateleira, é algo tão triste - porque penas enquanto é escrito e enquanto é lido ele pulsa, contém vida. Sem as mãos do autor ou os olhos do leitor, sua natureza é morta, inútil e sem razão.
Por isto um livro guardando pó, na prateleira, é algo tão triste - porque penas enquanto é escrito e enquanto é lido ele pulsa, contém vida. Sem as mãos do autor ou os olhos do leitor, sua natureza é morta, inútil e sem razão.
Dissimulado
domingo, 7 de julho de 2013
Adão e Eva
Eva suava a cântaros, curvada sobre a plantação de batatas. Suas mãos, mesmo jovens, eram tão duras quanto sua vontade. Guerreira de berço, sem ninguém por ela, eram os braços que lhe garantiam o alimento do dia e o pouso da noite. O sol fustigava a pele mestiça impiedosamente. Os longos cabelos, negros e lisos, guardados na rede em torno da cabeça, trazia-os encharcados de suor.
Tentava decidir que histórias contaria aos filhos da patroa, antes de colocá-los na cama naquela noite. Eram suas histórias que os faziam dormir logo e lhe permitiam treinar as letras nos preciosos papéis de pão, cuidadosamente passados e costurados no formato de caderno. Mal sabia Eva que, muitos anos depois, aquelas mesmas histórias iriam colorir as tardes de suas netas, na casinha de boneca ao fundo do pátio, logo depois do milharal.
Enquanto vagava por seu mundo imaginário, onde bruxas trançavam as crinas dos cavalos e davam nós nos cabelos de menininhas que não se penteavam, ela nem percebeu o "psssssiiiiiiuuuu" do jovem que executava a mesma tarefa braçal, sob o mesmo sol escaldante, do outro lado da cerca que dividia o batatal.
Se soubesse nesse momento, quantas vezes ele a faria chorar, talvez jamais houvesse levantado seu olhar em direção daqueles olhos cor de céu de verão. Ou tivesse feito igual, vá saber. Afinal, momentos bons também existiram. E amor. E filhos. E filhas. E netos. E netas. E genros. E noras. E almoços de domingo, para toda a familia. E bacias de batata em cubos esfriando em cima do tanque. E festas de natal e ano novo. E nascimentos e velórios. E batizados e casórios. Uma vida inteira.
Mas naquele momento crucial, Eva não conhecia esta história. Adão tampouco. Ela sabia apenas que aquele olhar azul á sua frente era fresco como as águas da cachoeira de basalto, e a fazia esquecer completamente o calor, o suor, o cansaço. Ele sabia apenas que aquela pose de nobreza que ela envergava, mesmo quando se curvava sobre a terra ressecada, esvaziava a mente dele de qualquer outra imagem ou pensamento.
Adão sabia que era bonito. Eva sabia que era forte. Apaixonaram-se ao primeiro olhar. Ela atirou uma batata recém colhida, na direção dele que, distraído pela beleza dela, nem viu o tubérculo voando veloz em sua direção. A batata pousou certeira bem no meio da testa do incauto Adão, que tombou sobre a terra seca cheia de ramas surpresas, que aguardavam apenas suas mãos puxando-as, e não seu corpo inteiro, empurrando-as terra adentro.
Eva assustou-se. Não era sua intenção nocautear o moçoilo deste modo. Queria tão somente chamar sua atenção. Mas não havia SMS, nem uma cobra para levar recado, então a batata pareceu-lhe a melhor opção, no primeiro momento. Mas agora arrependia-se.
Pulou rapidamente a frágil cerca que separava os dois campos e aproximou-se do corpo dele, estendido de todo o comprimento sobre o chão poeirento. Mal ela debruçou-se sobre o rosto angelical, ele abriu aqueles olhos de basalto azul e ela resvalou para dentro do olhar, de onde jamais conseguiu se libertar.
Quarenta anos, 5 amantes, centenas de brigas, seis filhos, e oito netos depois, perguntei a ela por que nunca havia se separado dele. Sua resposta foi simples e sábia: "Um dia entenderás, minha neta..."
Pois bem, esta Eva não conhecia o paraíso. Sequer teve a chance de ser expulsa. Mas jamais reclamou disto. Partiu a taquara no joelho e deu metade ao seu Adão, para que pudessem resolver a desavença em pé de igualdade, mesmo que seus braços mais fortes lhe permitissem surrá-lo exemplarmente em frente a todos os ávidos vizinhos que se aglomeravam em torno da cerca; esperou pacientemente por ele todas as vezes que se ausentou para longas visitas ás amantes; cuidou e proveu o sustento dos filhos todas as vezes que ele se mostrou incapaz de fazê-lo, por impossibilidade ou desinteresse; amou-o resilientemente até o dia em que seu coração cansou.
Neste dia, Eva ganhou seu paraíso. Mas aposto que ficou sentada na entrada pelos três anos que seu Adão demorou para ir ao seu encontro. Então, livres de pecado, os dois atingiram de mãos dadas o princípio da criação.
Mercado
Era um mercado moreno
erguido por mãos
calejadas
cheias de pedras cinzentas
e vazias de esperança verdejante.
Era um mercado criança,
que mergulhava na água
lamacenta
e brincava com as chamas
alaranjadas.
Eram paredes espessas
que abrigavam gente grossa
e gente fina,
cheia de bossa;
bananas, pessoas e ovos amarelos;
pessoas e ovos brancos;
pimenta e gente preta;
cães, gatos, plantas, gente e idéias mestiças.
erguido por mãos
calejadas
cheias de pedras cinzentas
e vazias de esperança verdejante.
Era um mercado criança,
que mergulhava na água
lamacenta
e brincava com as chamas
alaranjadas.
Eram paredes espessas
que abrigavam gente grossa
e gente fina,
cheia de bossa;
bananas, pessoas e ovos amarelos;
pessoas e ovos brancos;
pimenta e gente preta;
cães, gatos, plantas, gente e idéias mestiças.
Entre o mato e o morro
Chovia. Uma garoa fina, gelada e persistente, acariciando as cores desbotadas dos retalhos de embalagens que vestiam os esqueletos dos casebres daquele subúrbio metropolitano. Apenas mais um reduto de muita pobreza e poucos sonhos. Aqueles que lá nasciam, conheciam bem os estreitos limites de seu mundo, situado entre o morro e o mato, com entrada pelo pórtico e saída pelo em sonho.
Na cama compartilhada com os três irmãos pequenos, Henrique cerrava os olhos e ouvidos para tentar dormir. Aconchegados uns aos outros, espantavam o frio, hóspede indesejado que invadia a casa por todas as frestas e, aproveitando-se das poucas cobertas, dividia também a cama.
Não que eles reclamassem.
Não conheciam outra realidade, nem outra rotina, nem outra cama. Viam que as pessoas na televisão dormiam em lugares estranhos, colchões sobre colchões, travesseiros sobre travesseiros, cobertas sobre cobertas. Era mesmo um mundo esquisito aquele da tela, onde pessoas dormiam sozinhas em uma cama, onde cabiam pelo menos quatro.
Enquanto assistiam a novela, em silêncio para evitar a ira da mãe, que chegava sempre transtornada com o excesso de carências, reclamando seu momento de fuga, Henrique lembrava das explicações da professora de português: novela era um tipo de ficção - uma coisa inventada. Então era mais fácil entender todas aquelas camas, travesseiros e cobertas para cada pessoa inventada.
Aquelas mães de novela também só podiam ser inventadas! Nunca gritavam, nem pegavam os filhos pelos cabelos para bater a cabeça deles na parede. Henrique sonhava em ser "filho de novela", como sonhava em voar sobre a cidade, para ver sua casa de cima, como o professor mostrara a casa dele no tal do Google Earth. É que a tela do computador, diferente da tela da televisão, mostrava coisas de verdade, bichos de verdade, gente de verdade.
Mas a Vila Cocô não aparecia no Google Earth...será que que aquele lugar não existia?? Bom, no computador não existia mesmo. Henrique pensou um pouco, e chegou a uma conclusão: todas aquelas casas de retalhos, que abrigavam gente em pedaços; que aqueciam o corpo com cobertas de trapos e o espírito com retalhos de sonho só existiam ali, entre o morro e o mato.
Para aqueles milhões de pessoas que o professor diziam estarem interligados pelos computadores no mundo todo, os casebres, ele, a mãe, os irmãos, vizinhos, gatos, cachorros e galinhas eram só ficção.
E ele, um dia, teria que parar de sonhar com camas e mães de novela e vôos pelo mundo, e fazer a única escolha que lhe seria dada: mato ou morro.
Na cama compartilhada com os três irmãos pequenos, Henrique cerrava os olhos e ouvidos para tentar dormir. Aconchegados uns aos outros, espantavam o frio, hóspede indesejado que invadia a casa por todas as frestas e, aproveitando-se das poucas cobertas, dividia também a cama.
Não que eles reclamassem.
Não conheciam outra realidade, nem outra rotina, nem outra cama. Viam que as pessoas na televisão dormiam em lugares estranhos, colchões sobre colchões, travesseiros sobre travesseiros, cobertas sobre cobertas. Era mesmo um mundo esquisito aquele da tela, onde pessoas dormiam sozinhas em uma cama, onde cabiam pelo menos quatro.
Enquanto assistiam a novela, em silêncio para evitar a ira da mãe, que chegava sempre transtornada com o excesso de carências, reclamando seu momento de fuga, Henrique lembrava das explicações da professora de português: novela era um tipo de ficção - uma coisa inventada. Então era mais fácil entender todas aquelas camas, travesseiros e cobertas para cada pessoa inventada.
Aquelas mães de novela também só podiam ser inventadas! Nunca gritavam, nem pegavam os filhos pelos cabelos para bater a cabeça deles na parede. Henrique sonhava em ser "filho de novela", como sonhava em voar sobre a cidade, para ver sua casa de cima, como o professor mostrara a casa dele no tal do Google Earth. É que a tela do computador, diferente da tela da televisão, mostrava coisas de verdade, bichos de verdade, gente de verdade.
Mas a Vila Cocô não aparecia no Google Earth...será que que aquele lugar não existia?? Bom, no computador não existia mesmo. Henrique pensou um pouco, e chegou a uma conclusão: todas aquelas casas de retalhos, que abrigavam gente em pedaços; que aqueciam o corpo com cobertas de trapos e o espírito com retalhos de sonho só existiam ali, entre o morro e o mato.
Para aqueles milhões de pessoas que o professor diziam estarem interligados pelos computadores no mundo todo, os casebres, ele, a mãe, os irmãos, vizinhos, gatos, cachorros e galinhas eram só ficção.
E ele, um dia, teria que parar de sonhar com camas e mães de novela e vôos pelo mundo, e fazer a única escolha que lhe seria dada: mato ou morro.
sexta-feira, 5 de julho de 2013
(A)Post(A)
Um fato
é uma foto
do ato,
não é um trato.
Nos retratos
da rede,
os argumentos
contrariam
a realidade...
que disparate!
Quem posta
aposta
que é verdade.
Criminosos
sem
maldade.
é uma foto
do ato,
não é um trato.
Nos retratos
da rede,
os argumentos
contrariam
a realidade...
que disparate!
Quem posta
aposta
que é verdade.
Criminosos
sem
maldade.
quinta-feira, 4 de julho de 2013
Geração Fanta Uva
Conheço um economista literato-idealista-anti-capitalismo e um filósofo que usa tênis da Coca-Cola. Coisas da Geração Fanta Uva. Não sabemos quem somos, só do que não gostamos e, nesses dias tão estranhos, fica muito mais do que a poeira se escondendo pelos cantos. Ficam as dúvidas, as incertezas, e as certezas absolutistas, ainda mais perigosas.
Meus heróis não morreram de overdose. Morreram de aids. Ainda não encontraram a cura para a aids, mas anunciam a cura gay. Bom, meus heróis eram gays...cultos demais, sensíveis demais, criativos demais...talvez, nos dias de hoje, pudessem ser curados de todos estes males, em um hospital público qualquer.
Não fossem gays, teriam por certo recebido um outro diagnóstico: TDA, bipolaridade, hiperatividade...o buffet é vasto, basta servir-se. Mentes hiperativas devem ser controladas. Toda a criatividade será castigada.
Tome sua dose diária de Somma, até que sua criatividade suma. Você deve se adaptar. Só os espécimes adaptados sobreviverão. Não tenha identidade. Não tenha opiniões. Consuma e reproduza modelos ideais.
"Become numb. All you must do is be more like them and be less like you. "
Você não é socialista - eles comem criancinhas...e você combate a pedofilia compartilhando posts no Facebook; Você não é capitalista - chora pelas mãozinhas escravas que costuram seu tênis de marca, na China; Você não é anarquista - faz manifesto virtual porque teme a violência das massas oprimidas. Você não pertence á Geração Coca-Cola...sequer curtia Legião...sua geração é outra, e esta Fanta...é Uva!
Meus heróis não morreram de overdose. Morreram de aids. Ainda não encontraram a cura para a aids, mas anunciam a cura gay. Bom, meus heróis eram gays...cultos demais, sensíveis demais, criativos demais...talvez, nos dias de hoje, pudessem ser curados de todos estes males, em um hospital público qualquer.
Não fossem gays, teriam por certo recebido um outro diagnóstico: TDA, bipolaridade, hiperatividade...o buffet é vasto, basta servir-se. Mentes hiperativas devem ser controladas. Toda a criatividade será castigada.
Tome sua dose diária de Somma, até que sua criatividade suma. Você deve se adaptar. Só os espécimes adaptados sobreviverão. Não tenha identidade. Não tenha opiniões. Consuma e reproduza modelos ideais.
"Become numb. All you must do is be more like them and be less like you. "
Você não é socialista - eles comem criancinhas...e você combate a pedofilia compartilhando posts no Facebook; Você não é capitalista - chora pelas mãozinhas escravas que costuram seu tênis de marca, na China; Você não é anarquista - faz manifesto virtual porque teme a violência das massas oprimidas. Você não pertence á Geração Coca-Cola...sequer curtia Legião...sua geração é outra, e esta Fanta...é Uva!
Tudo...e só.
A primeira coisa que ela fazia logo após abrir os olhos era dizer "eu te amo" ao pé do ouvido dele. Sabia que ele ainda dormia, mas adorava ouvir o murmúrio de sua resposta ininteligível. Sabia que vinha da parte mais profunda do subconsciente dele.Lá onde os monstros tremiam sob a mira do pequeno pistoleiro de olhos verdes. Sabia que aquele som poderia significar qualquer coisa, de um "eu também te amo" a um "me deixa dormir em paz, sua louca"...mas aquele ruído a preenchia como um líquido morno e denso. Era seu café da manhã!
Depois disto, estava pronta para saltar da cama, vestir-se, escovar os dentes, prender os cabelos e ir trabalhar. Mas antes de sair, ainda cheirava a face dele uma última vez, abastecendo-se também daquele perfume de marshmallow, abacaxi e baunilha,que ele exalava pela manhã. Havia também alguma coisa verde, que ela não conseguia definir bem...parecia hortelã, mas não era bem isto...talvez kiwi... ou outra dessas coisas que o adoçavam.
Ao deixar o quarto, ela ia reunindo os rastros de convivência da noite anterior: xícaras, copos, pratos, embalagens de waffer de limão, meias sujas pelo chão e calçados deixados na sala. A cada objeto recolhido, sentia a vida pulsar no apartamento. A louça suja ficaria na pia quando saísse, mas não estaria lá quando ela voltasse. Sabia disto. Seus acordos eram tácitos. A compensação, justa.
E assim iam brincando de casinha, revezando-se na contradição dos papéis, sempre complementares, ora garotos perdidos, ora adultescidos, tentando não adulterar suas crenças, não assassinar suas crianças interiores, frequentemente pouco interiores. Discutiam idéias e ideais; despiam-se de roupas, pudores e receios; dançavam ao som da mesma música, que ninguém mais ouvia. E sem errar o passo.
O resto da história, o tempo que passe, e conte. Por enquanto é só.
Depois disto, estava pronta para saltar da cama, vestir-se, escovar os dentes, prender os cabelos e ir trabalhar. Mas antes de sair, ainda cheirava a face dele uma última vez, abastecendo-se também daquele perfume de marshmallow, abacaxi e baunilha,que ele exalava pela manhã. Havia também alguma coisa verde, que ela não conseguia definir bem...parecia hortelã, mas não era bem isto...talvez kiwi... ou outra dessas coisas que o adoçavam.
Ao deixar o quarto, ela ia reunindo os rastros de convivência da noite anterior: xícaras, copos, pratos, embalagens de waffer de limão, meias sujas pelo chão e calçados deixados na sala. A cada objeto recolhido, sentia a vida pulsar no apartamento. A louça suja ficaria na pia quando saísse, mas não estaria lá quando ela voltasse. Sabia disto. Seus acordos eram tácitos. A compensação, justa.
E assim iam brincando de casinha, revezando-se na contradição dos papéis, sempre complementares, ora garotos perdidos, ora adultescidos, tentando não adulterar suas crenças, não assassinar suas crianças interiores, frequentemente pouco interiores. Discutiam idéias e ideais; despiam-se de roupas, pudores e receios; dançavam ao som da mesma música, que ninguém mais ouvia. E sem errar o passo.
O resto da história, o tempo que passe, e conte. Por enquanto é só.
quinta-feira, 27 de junho de 2013
Passos certos
É junho, e Porto Alegre esfria,
sombria.
Repouso entre a cerração do Gas`
e a música da Casa de Cultura.
Dó, re, mi, fá,
sol lá...nós aqui.
Será um pedaço de céu
o lençol azul que balança
com o vento a rolar o chapéu
daquela criança,
ou ele apenas dança
sozinho
enquanto eu caminho
em direção ao Paço?
No horizonte,
bandeiras aos montes,
e um mar de faces e penteados
desfeitos.
Sem cansaço,
entoam seus hinos
homens-meninos
redescobrindo a vontade,
vestindo sua verdade,
pra recusar caridade!
sombria.
Repouso entre a cerração do Gas`
e a música da Casa de Cultura.
Dó, re, mi, fá,
sol lá...nós aqui.
Será um pedaço de céu
o lençol azul que balança
com o vento a rolar o chapéu
daquela criança,
ou ele apenas dança
sozinho
enquanto eu caminho
em direção ao Paço?
No horizonte,
bandeiras aos montes,
e um mar de faces e penteados
desfeitos.
Sem cansaço,
entoam seus hinos
homens-meninos
redescobrindo a vontade,
vestindo sua verdade,
pra recusar caridade!
quarta-feira, 26 de junho de 2013
Rinocerontes e quindins
Eles se conheceram quando ele levava seus rinocerontes para passear nos campos de quindins, que ela pensava serem margaridas. Ela realmente era um tanto daltônica. Não bastasse insistir em deixar os óculos na casa da mãe, 350 km distante...afinal, o oculista dissera que as lentes eram para ver de longe! Mas ora, mesmo assim, quem acreditaria que aqueles círculos amarelos rodeados de branco, que brotavam em meio á relva verdinha, poderiam ser margaridas? Era óbvio que só poderiam ser quindins! A iguaria favorita dos rinocerontes dele!
Não foi amor á primeira vista, mas foi em poucas parcelas. Na primeira, a admiração. Na segunda, o abraço. Na terceira, o beijo. E então já não havia fuga. Nem desejo de fugir. A manhãs monocromáticas recheadas de diálogos bipolares e surreais, que culminavam na falta de vontade de deixar a cama; as pouco mais de trinta noites, que se transformavam em mil e uma posições do Kama Sutra; as históricas tardes de sábado; a súbita lacuna de ausências.
Num piscar de olhos, as dúvidas e incertezas ameaçavam entrar em extinção, enquanto as meias brancas no varal e os livros na estante se reproduziam vertiginosamente, re-povoando o apartamento.
Não foi amor á primeira vista, mas foi em poucas parcelas. Na primeira, a admiração. Na segunda, o abraço. Na terceira, o beijo. E então já não havia fuga. Nem desejo de fugir. A manhãs monocromáticas recheadas de diálogos bipolares e surreais, que culminavam na falta de vontade de deixar a cama; as pouco mais de trinta noites, que se transformavam em mil e uma posições do Kama Sutra; as históricas tardes de sábado; a súbita lacuna de ausências.
Num piscar de olhos, as dúvidas e incertezas ameaçavam entrar em extinção, enquanto as meias brancas no varal e os livros na estante se reproduziam vertiginosamente, re-povoando o apartamento.
sexta-feira, 21 de junho de 2013
Falei grego?
Se toca!
Foco
não é faca
na bota,
pela copa...
é chão!
Não é pedra
na mão,
é pão!
É saber
que o circo
quer ser
nação!
Foco
não é faca
na bota,
pela copa...
é chão!
Não é pedra
na mão,
é pão!
É saber
que o circo
quer ser
nação!
Máscara caída
A copa
encobre
a pouca
vergonha
com
cara medonha.
A classe caída,
cansada
e moída,
encara
cassetada...
mas não,
calada...
enquanto
a corja
se finge
coitada!
encobre
a pouca
vergonha
com
cara medonha.
A classe caída,
cansada
e moída,
encara
cassetada...
mas não,
calada...
enquanto
a corja
se finge
coitada!
Paradoxo
Debaixo do concreto vazio
do sonhado aeromóvel
o cartaz pede "Mais amor, por favor".
Ao lado dele, tentando abstrair o frio
tudo o que o homem sonha
é com mais um cobertor...
do sonhado aeromóvel
o cartaz pede "Mais amor, por favor".
Ao lado dele, tentando abstrair o frio
tudo o que o homem sonha
é com mais um cobertor...
segunda-feira, 17 de junho de 2013
Face
Não concordo! Na voz dela, uma indignação pacífica deixava transparecer sua certeza. Era sempre cheia de certezas. E ele começava a perceber a inutilidade de contestar certezas capricornianas. Ora bolas, como ele se atrevia a afirmar que a maioria, senão todos os frequentadores daquele site de relacionamentos, procurava relações superficiais, pautadas por sexo casual? Tinham se conhecido lá! Estavam namorando. E "sério". Estava lá, publicado no "feicibuqui": "em um relacionamento sério com fulano". Nada podia ser mais "público". Nem mais sério. Ele até criara seu próprio perfil "facebuquiano", apesar de ter jurado de pés juntos que jamais o faria, só para que o relacionamento se tornasse de conhecimento popular.
Não. Ela definitivamente não era capaz de entender os homens. Ele insistia em afirmar que "os outros" procuravam por sexo, mas ele era diferente. Está bem...talvez o impulso inicial que o levara ao "safari" virtual até pudesse ter sido uma libido ouriçada...mas tudo mudara ao conhecê-la. Certo que mudara. Afinal, ela era uma daquelas mulheres de "apresentar para a família".
Voltavam então á estaca zero. Era ou não era possível encontrar a "alma gêmea" em qualquer lugar? Qualquer mesmo? Até num site ao estilo "safári virtual"?
OK. Zero Killed. Ou não. Ela bem sabia que muitas de suas amigas também esvaziavam suas cartucheiras naquele mesmo espaço. Também conversara com alguns moçoilos que já iniciaram a prosa deixando suas intenções bastante claras. Poor things! Três frases trocadas e percebiam que sua munição seria completamente desperdiçada se a alvejassem.
Então o pensamento inevitável: se ela era tão certa do que queria (perceba-se que não digo "estava" mas "era"), e ele iniciara a história motivado pelo instinto carnal, como chegaram ao atual "status" do relacionamento? O romantismo dela sustentava a teoria do "amor ao primeiro abraço".
Lembrava-se com uma clareza incomum em suas tentativas de arquivar fatos, de cada sensação, desde o primeiro vislumbre da figura dele. Primeira impressão: baixinho. Segundo seguinte: o olhar. Então veio o abraço. Ah, o abraço, era um capítulo inteiro á parte...
Poucas coisas ficaram gravadas na memória dela com um traçado tão definido. O primeiro parágrafo iniciava-se com o cheiro dele. Cítrico. Com um leve toque amadeirado. Na sequencia, a textura da pele que roçou o rosto dela - marshmallow. Definitivamente, marshmallow, começava a dar corpo ao texto que o constituiria na vida dela. Havia ainda o calor da mão dele, bem no centro das costas dela. Então, para adjetivar o sujeito, vinha o sorriso argênteo-esverdeado. Doce.
Quase doze horas mais tarde ela descobriu que esta doçura era concreta, quando sua fase oral mal resolvida a levou a experimentar empiricamente a textura daquela boca desafiadora.
Neste momento, seus intertextos se entrelaçaram. A maior dúvida era se este entrelaçamento desafiaria a lei da impermanência, que regia as atualizações de status feicibuquianas.
Tati Braga dos Reis
Não. Ela definitivamente não era capaz de entender os homens. Ele insistia em afirmar que "os outros" procuravam por sexo, mas ele era diferente. Está bem...talvez o impulso inicial que o levara ao "safari" virtual até pudesse ter sido uma libido ouriçada...mas tudo mudara ao conhecê-la. Certo que mudara. Afinal, ela era uma daquelas mulheres de "apresentar para a família".
Voltavam então á estaca zero. Era ou não era possível encontrar a "alma gêmea" em qualquer lugar? Qualquer mesmo? Até num site ao estilo "safári virtual"?
OK. Zero Killed. Ou não. Ela bem sabia que muitas de suas amigas também esvaziavam suas cartucheiras naquele mesmo espaço. Também conversara com alguns moçoilos que já iniciaram a prosa deixando suas intenções bastante claras. Poor things! Três frases trocadas e percebiam que sua munição seria completamente desperdiçada se a alvejassem.
Então o pensamento inevitável: se ela era tão certa do que queria (perceba-se que não digo "estava" mas "era"), e ele iniciara a história motivado pelo instinto carnal, como chegaram ao atual "status" do relacionamento? O romantismo dela sustentava a teoria do "amor ao primeiro abraço".
Lembrava-se com uma clareza incomum em suas tentativas de arquivar fatos, de cada sensação, desde o primeiro vislumbre da figura dele. Primeira impressão: baixinho. Segundo seguinte: o olhar. Então veio o abraço. Ah, o abraço, era um capítulo inteiro á parte...
Poucas coisas ficaram gravadas na memória dela com um traçado tão definido. O primeiro parágrafo iniciava-se com o cheiro dele. Cítrico. Com um leve toque amadeirado. Na sequencia, a textura da pele que roçou o rosto dela - marshmallow. Definitivamente, marshmallow, começava a dar corpo ao texto que o constituiria na vida dela. Havia ainda o calor da mão dele, bem no centro das costas dela. Então, para adjetivar o sujeito, vinha o sorriso argênteo-esverdeado. Doce.
Quase doze horas mais tarde ela descobriu que esta doçura era concreta, quando sua fase oral mal resolvida a levou a experimentar empiricamente a textura daquela boca desafiadora.
Neste momento, seus intertextos se entrelaçaram. A maior dúvida era se este entrelaçamento desafiaria a lei da impermanência, que regia as atualizações de status feicibuquianas.
Tati Braga dos Reis
domingo, 16 de junho de 2013
Insegurança
Quanta dor é preciso
pra acordar um indeciso,
quando ele duvida
até de um doce sorriso?
Quanta declaração
ao pé do ouvido?
Tanta mágoa,
eu duvido,
que dê trégua
a um coração partido.
Deve ser sua sina...
haja água
pra lavar essa retina!
pra acordar um indeciso,
quando ele duvida
até de um doce sorriso?
Quanta declaração
ao pé do ouvido?
Tanta mágoa,
eu duvido,
que dê trégua
a um coração partido.
Deve ser sua sina...
haja água
pra lavar essa retina!
Hora certa
Com o tanto
que
me encantas,
já nem me espanto
que
me atordoes...
Se,
para tudo,
há um tempo
certo,
meu tempo
agora
é de te ter
por perto
mesmo
que me atentes...
e ponto!
que
me encantas,
já nem me espanto
que
me atordoes...
Se,
para tudo,
há um tempo
certo,
meu tempo
agora
é de te ter
por perto
mesmo
que me atentes...
e ponto!
Em frente
Pula em meu peito
um coração
perseverante,
que não pára
de pleitear
nova paixão.
Há pouco tempo
pranteava
amor perdido...
há passos largos
já prepara
perdição!
um coração
perseverante,
que não pára
de pleitear
nova paixão.
Há pouco tempo
pranteava
amor perdido...
há passos largos
já prepara
perdição!
Persuasão
Tua coragem
doce e nua
adula
minha covardia
crua
palidamente
diluída
na fria luz
da lua,
enquanto
teu corpo
me aquece,
minha sensatez
me esquece,
e a paixão
atua!
doce e nua
adula
minha covardia
crua
palidamente
diluída
na fria luz
da lua,
enquanto
teu corpo
me aquece,
minha sensatez
me esquece,
e a paixão
atua!
Ordinal
Te amo
inteiro!
Verso
e reverso
arteiro
mesmo
sem ser
pioneiro
melhor
que qualquer
primeiro!
inteiro!
Verso
e reverso
arteiro
mesmo
sem ser
pioneiro
melhor
que qualquer
primeiro!
To be or not to be
Stop! Antes de pôr a última cueca na mochila, pense bem, mocinho! Minha língua materna, que não é exatamente a de Camões, mas sua filha de ancas largas e andar rebolativo - o Português Brasileiro, não dá margem à dúvida. Faça sua escolha agora: você "é" meu ou "está" meu? Comigo, SER e ESTAR têm sentidos absolutamente antagônicos. E se você "está" meu...eu estou fora!
Porém, antes de fazer sua escolha definitiva, entregue seu coração a Anúbis e observe a balança: para que lado ela pende? Este amor vale as penas? Observe o casco do barco. Por certo há marcas deixadas por icebergs, depois de tantas léguas de navegação. Lembre-se de que a embarcação não é "brand new". Qual é o percentual do risco de naufrágio? Há coletes salva-vidas? E você, está disposto a se molhar, caso o barco faça água? Vai ajudar a tapar os buracos que porventura não resistirem às tempestades?
Anote suas respostas. Conte o número de "nãos" e, se julgar sensato, retire a roupa da mochila, aproveitando que ainda está dobrada, antes que eu aumente o número de gavetas. Ou mandemos a sensatez ás favas e juntemos nossas camisetas, cuidadosamente dobradas in a "stairway to heaven".
Porém, antes de fazer sua escolha definitiva, entregue seu coração a Anúbis e observe a balança: para que lado ela pende? Este amor vale as penas? Observe o casco do barco. Por certo há marcas deixadas por icebergs, depois de tantas léguas de navegação. Lembre-se de que a embarcação não é "brand new". Qual é o percentual do risco de naufrágio? Há coletes salva-vidas? E você, está disposto a se molhar, caso o barco faça água? Vai ajudar a tapar os buracos que porventura não resistirem às tempestades?
Anote suas respostas. Conte o número de "nãos" e, se julgar sensato, retire a roupa da mochila, aproveitando que ainda está dobrada, antes que eu aumente o número de gavetas. Ou mandemos a sensatez ás favas e juntemos nossas camisetas, cuidadosamente dobradas in a "stairway to heaven".
Nós
No meu caos
tua mão na minha
e uma paz
que caminha
devagar,
com ela
o tempo
engatinha
e, ao teu lado,
esquece de passar...
tua mão na minha
e uma paz
que caminha
devagar,
com ela
o tempo
engatinha
e, ao teu lado,
esquece de passar...
segunda-feira, 10 de junho de 2013
Geminiar?
Bom, lá vou eu e minha alma poetisa nesta tentativa prosaica de ensaiar uma resposta á altura da arte daquele que conquistou meu coração. O que dizer da aérea leveza geminiana? Que é capaz de arrebatar a mais terráquea capricorniana e conduzí-la a uma viagem quase diária pelas crateras da lua, a celebrar compromisso com anéis de saturno, deliciar-se com paixões marcianas e embriagar-se com milkshakes vialácteos? Seria apenas um simplório começo.
Não sei se geminianos abundam ou proliferam-se em nosso mundinho redondo. Acredito que não. Devo conhecer poucos e lembro de ter antes posto reparo em....nenhum! Talvez o meu seja mesmo um geminiano atípico. Ou não. Talvez meus sentidos estivessem embotados até então, sendo despertados apenas pela luz esverdeada de um geminiano olhar de ressaca...mas isto são apenas aeradas conjecturas. Daquelas divagações femininamente caóticas, tão difíceis para um homem mapear...mesmo que falemos de um geminiano!
Mas os fatos, reais e concretos, aqueles contra os quais "não há argumentos", me levam a crer que só é possível conhecer o verdadeiro gosto, cheiro e textura de um amor, quando se ama um geminiano (e olha que, do alto dos meus 37 anos, já deu para experimentar empiricamente boa parte do zodíaco...), portanto, se você observar por perto alguém sedutor, criativo, rico de horizontes e pobre de barreiras, é possível que seja sua oportunidade de geminiar...atente-se, e não a deixe escapar! Agarre-a com as duas mãos, braços, pernas, unhas e dentes. Prepare-se para despir-se de precauções e pré-conceitos pois, depois de geminiar, nada mais será como antes...
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