quinta-feira, 23 de abril de 2015

Por hoje

     Sentada no chão frio do quarto, acompanhada apenas do silêncio, quase desespero. Penso em tudo o que deveria ser, mas não é. E que nunca foi além da minha espera. E talvez nunca vá. Choro. Desesperanceio todos os anseios.
     De repente lembro do que ainda é. Busco e encontro. Me acompanho do afeto que se faz presença mesmo na distância.  Apazíguo minha ansiedade faminta nas palavras que abraçam e beijam. Me aninho. Lembro, sinto, temo...tremo, penso, não decido, não desisto, mas não choro mais. Não choro mais, não desespero mais, não esfrio mais, não esquento mais. Entendo que nada à minha volta é mais...tudo é menos do que deveria ser, mas não volto. Fico. Fincada feito árvore neste faz-de-conta finjo não saber que a conta será alta. Voo baixo. Acho  que esqueci como usar minhas asas. Queria tanto um chão sob meus pés que abri mão das coisas que tem no céu e fechei os olhos...e fechei as asas.
     Olho para a porta aberta e não entendo por que não a ultrapasso. Meus passos seguem teimosos na direção escolhida. Me encolho um pouco mais para caber na nova história. Agradeço o apoio e me aparto acovardada, com medo de novas partidas.
     De mão dadas, a solidão e o silêncio me acompanham ao banho.
     Lavo todas as dúvidas, por hoje, menos uma: ler, escrever, ou dormir?  
     Findo e lido...boa noite!
 

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Faxina

     É abril. As águas de março já fecharam o verão mas o calor ainda não se despediu. O céu cinzento e a garoa fina deixam tudo opaco.
     Véspera do feriado de Tiradentes, segunda-feira, folga muito bem-vinda para a maioria mas indiferente para mim, que não trabalho segunda. Dia de "compensação", quando me recompenso para não descompensar de vez.
     Atualmente, há cerca de um ano, é o dia em que faxino, e não apenas a casa. Limpo dos cantos os restos de pensamentos empoeirados, lavo os porquês, estendo os arrependimentos ao sol, espano emoções ao som de Chico Buarque e me inspiro de novas poesias com as mãos no detergente. É...deter a gente é fácil, difícil é deter a mente entupida de pendências.
     Depois de enxaguar as mãos e as dúvidas revejo amores passados, pendurados nos cabides de trás e resisto à tentação de vestí-los mais uma vez, só para ver se ainda serviriam. Percebo que o último amor desbotou mais do que eu previa e me pergunto se a razão disto é a minha falta de cuidado ou a qualidade do produto. Termino concluindo que é melhor ter cautela para evitar o desgaste precoce e prossigo com a organização.
     De tempos em tempos paro para um chá, um capuccino, um quintana, um leminski ou um forró bem pegado na frente do espelho. Depois gasto dois ou três minutos para flertar com o rosto suado e rosado, de olhos brilhantes que me namora. Reparo que é a mesma que me espia no reflexo, depois de um orgasmo. Gosto dela, é um misto de Baba Yaga e Capitu, que se sacode inteira quando Clara Nunes se convida pelo radio.  
    Logo depois da dança, a limpeza continua -  não posso perder o ritmo, a previsão para amanhã é de dia ensolarado, então coloco a roupa e as renúncias para lavar, pois iremos precisar delas durante a semana.
   
   
   

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Questionamento

Por que não calo?
Por que continuo
confessando
minhas ânsias
a ouvidos catatônicos?

Será carência?
Impaciência?
Ou pura imprudência?