segunda-feira, 30 de março de 2015

Tenho 39 anos, pós-graduação, três casamentos, quatro filhos e emprego estável. Isto deveria fazer de mim uma adulta. Um ser capaz de agir com maturidade diante de todo o tipo de situação complexa que possa se apresentar no dia-a-dia atribulado de uma vida moderna. Só que não faz.

Talvez alguma coisa tenha saído errado. Desde os dezoito que espero a manhã mágica na qual acordarei com todas as respostas na ponta da língua, ciente da origem do universo, do criador de Deus, de onde viemos, por que estamos aqui e para aonde vamos.

Talvez eu seja meio lerda, A verdade é que sinto que sei cada vez menos. As dúvidas só aumentam. Eu tinha muito mais certezas aos oito anos. Sinto falta de minhas certezas, que caem por terra ano após ano, feito frutas maduras.

Começo a duvidar da existência deste ser "adulto". Mas afinal, o que é um "adulto"? Segundo meu marido , um adulto não é senão uma criança cujo corpo cresceu. O problema é que nem mesmo neste conceito eu me encaixo, uma vez que não passei de 1.53m de altura. É, definitivamente eu não sou uma adulta.

O problema é que ninguém que eu tenha conhecido comporta-se integralmente como seria de se esperar de um adulto. Minha mãe morreu aos 59 anos ainda reproduzindo um comportamento adequado à primeira infância. Fantasiava o passado e negava tudo aquilo com que não sabia lidar.

Sempre lembro da letra de "Pais e Filhos", do Legião: " ...você culpa seus pais por tudo, são crianças como você, o que você vai ser quando você crescer..." Nunca culpei minha mãe por não ser uma adulta. Talvez eu já soubesse, intimamente, que eu também jamais seria.

O problema é aceitar isto, quando tanta gente cobra esta "adultice"da gente. Filhos, alunos e até amigos vivem cobrando respostas que não temos e acabamos por nos questionar se estamos ou não atrasados no processo de amadurecimento.

Ok. Talvez eu esteja. Ou talvez este ser "adulto"seja tão real quanto o Pé grande, o Coelho da Páscoa e o Papai Noel. Vá saber...eu é que não garanto!




sábado, 28 de março de 2015

Das coisas que eu não sei

Quantas estrelas há no céu;
Por que me apaixonei por ti;
Todas as capitais Africanas;
Se há vida após a morte;
Como ser paciente;
O que será de nós...

Desesperança

Desconfio
desta tua
descrença
desconcertante
desfiada
dia a dia
desafiando a
desordem
da minha fé.

Futebol

Quando brilha
o Beira-Rio
na beira
do lago
o jogo
te leva
e eu
te trago
antes
que os tragos
te levem
de vez...

segunda-feira, 16 de março de 2015

Os olhos são a janela da alma, mas há janelas descortinadas e janelas ocultas. Os teus são inescrutáveis. Os óculos que os ocultam são a única transparência. Nada se lê em tua escuridão castanha. Mergulho em  noite de lua nova. Mar de dúvidas invernais. Oceano de incertezas.
Teu olhar nunca abraça. Está sempre há um passo de distância. Nada te comove. Só é possível te amar, cegamente...

Ainda

Ainda

Eu ainda
temo
o silêncio
e a inocência

Eu ainda
remo
à procura
daquilo que cura
minha impaciência

Eu ainda
sangro
saudades
enquanto singro
oceanos 
de verdades

Eu ainda 
erro a mira
em fuga da mentira

Eu ainda
paro
para esperar
minhas pretensiosas esperanças
passarem

Eu ainda
me espero
em ti
todo fim de dia

Eu ainda
me alimento
de agonia.

Engano

Eu não queria um anel.
Nem um véu.
Nem a lua,
de mel
ou as nuvens,
do céu.
Não queria rima,
nem rosa.
Quer saber?
Tem hora,
como agora,
que eu não queria
nem querer...

sexta-feira, 13 de março de 2015

Saboreio a tristeza como a uma taça de vinho.Ambas me esvaziam. Desembarco do ônibus como se desembarcasse de mim. Sou leito seco de rio que bebe a chuva sem fazer poça. Ávida. Meus poros devoram a brisa morna rompendo a virgindade. Abro a boca e sinto o gosto das folhas secas ao vento anunciando o outono. Tudo em mim "outona",sem saber de primavera. Não apresso o passo, passeio na pressa alheia. Outros que desembarcaram passam por mim embarcados nas próprias vidas. Não há vida em mim neste momento. Ando na mesma direção de todo o dia, para casa, mas não há casa em mim. Sou só caminho. Subo as escadas muda de pensamentos, até o último degrau. Paro. Solto o cabelo sem saber ao certo o porquê, mas quando ele desce pelos ombros e apoia minhas costas, me sinto mais segura. A chave dá duas voltas avisando que a casa está tão vazia quanto eu. Apenas a escuridão e silêncio  me recebem. As mensagens chegam com o wi-fi, me chamando de volta. Deleto o post que não deveria ter sido comentado. Deleto os pensamentos que não deveriam ter sido pensados. Guardo algumas sensações nas gavetas certas e começo a organizar...a janta e as estações em mim.