quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O gosto do silêncio

Hoje eu não sou texto. Hoje tudo o que escorre é o escarro do que já foi, talvez sem sequer ter sido.
A tentativa frustrada de ajeitar um projeto de algo que não estava ali, mas aqui em mim.
Um de tus, que seduziu um de mims, e depois foi embora, como se nunca tivesse passado pela Duque de Caxias.
Rapidamente pensei em dispensar as uvas, trocando-as por morangos, mais uma vez. A estratégia já havia funcionado.
Mas era tarde. Grávida de planos e sonhos, desejava aquelas uvas verdes como o único alimento capaz de me saciar por completo.

As uvas estavam altas demais.
Subi num banquinho, mas caí.
Tentei de novo, escalando o muro. Esfolei os joelhos, e caí novamente.
Limpei o sangue nas mãos, sujei a roupa e o rosto.
Todo o corpo doía, mas a vontade das uvas doía muito mais.
O gosto que silenciava na minha boca era a pior dor que se poderia imaginar.
Antes a dor de barriga, o vômito, a intoxicação, o diabo...
Qualquer coisa, menos o gosto do silêncio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário