quarta-feira, 26 de junho de 2013

Rinocerontes e quindins

     Eles se conheceram quando ele levava seus rinocerontes para passear nos campos de quindins, que ela pensava serem margaridas. Ela realmente era um tanto daltônica. Não bastasse insistir em deixar os óculos na casa da mãe, 350 km distante...afinal, o oculista dissera que as lentes eram para ver de longe! Mas ora, mesmo assim, quem acreditaria que aqueles círculos amarelos rodeados de branco, que brotavam em meio á relva verdinha, poderiam ser margaridas? Era óbvio que só poderiam ser quindins! A iguaria favorita dos rinocerontes dele!

     Não foi amor á primeira vista, mas foi em poucas parcelas. Na primeira, a admiração. Na segunda, o abraço. Na terceira, o beijo. E então já não havia fuga. Nem desejo de fugir. A manhãs monocromáticas recheadas de diálogos bipolares e surreais, que culminavam na falta de vontade de deixar a cama; as pouco mais de trinta noites, que se transformavam em mil e uma posições do Kama Sutra; as históricas tardes de sábado; a súbita lacuna de ausências.

     Num piscar de olhos, as dúvidas e incertezas ameaçavam  entrar em extinção, enquanto as meias brancas no varal e os livros na estante se reproduziam vertiginosamente, re-povoando o apartamento.

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