"...e Clarisse está sentada no banheiro e faz marcas com seu pequeno canivete...a dor é menor do que parece, quando ela se corta, ela se esquece..."
Não, eu não sou mais Clarisse. Percebi que poderia ferir o papel, e não a pele, obtendo o mesmo nível de analgesia. Aprendi que poderia rasgar o verbo, o advérbio e o adjetivo, mas preservar sujeito. Continuo sujeita ás dores da alma, mas as cicatrizes passei a deixá-las no papel.
Crio mosaicos com marcas que singram a alvura do papel sangrando em prosa e verso.
A caneta é um canivete submisso porém, afiado.
Mecenas, financia momentos de paz ao descolar o sofrimento adesivo e colá-lo na folha, decorativo.
Algoz, denuncia sem piedade o reverso que eu não queria ser e depois, Pilatos, deixa que o leitor julgue, condene e execute os significados ali contidos.
Assim, reciclando o que sinto, minhas execuções deixam de fazer sentido. Seguimos então a marcha, eu, o papel, e nossas marcas.
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