Na data em questão apresentava-se envelopada no figurino africano, estampado e longo, presenteado pela madrinha,e desfilava sua feminilidade transbordante pela pracinha quando, de repente seus passos curtos e rebolativos foram subitamente interrompidos por uma visão paradisíaca.
A noite anterior havia sido de precipitações pluviométricas moderadas e ali, bem diante de seus olhinhos faiscantes, um filhote de chuva dormia em seu berço de lama. Era tentação demais para ser errado ou proibido!
Com o canto dos olhinhos aquilinos pôde perceber a ausência de perigo, na distração da mãe.
Num movimento rápido, despiu-se das sandálias e mergulhou prazerosamente os dois pezinhos na maciez fresca da lama, que cobriu-lhe até os tornozelos. Lembrava mingau de caramelo.Talvez com um pouco de chocolate.
Ondas de prazer lhe subiam e desciam pelo corpo no contraste entre a frescura da água da poça e a quentura do sol que fazia cócegas nos mini ombros desnudos.
Claro que, na melhor parte de tudo, no momento orgásmico da travessura, a mãe voltou seus olhos repressores na direção do paraíso e o olhar logo virou som imperativo: "Maria Antônia, sai já daí!"
Como ir para o inferno por meio pecado é um enorme desperdício, a coisinha atrevida mergulhou a ausência de bunda na poça tão depressa, que Usain Bolt se sentiria o Barrichelo.
"Mas, minha filha! Tem minhocas nesta água!"
(...pausa para um olhar felino que era uma mistura de complacência e total desprezo pela ignorância materno-humana...)
"Mamãe...as minhocas vivem debaixo da terra, não nas poças de água! Afff"
A mãe convencida de que há situações em que aceitar uma derrota honrosa é a melhor saída, deixou a versão loira de um misto de Clara Nunes e Gabriela dançar na poça de lama enquanto erguia delicadamente a barra do vestido, e voltou a conversar trivialidades com a madrinha.
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