quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A outra

Hoje descobri que uma outra dorme em mim e, tal qual a Cuca do Sítio do Pica-pau Amarelo, ela acorda a cada sete anos. Ela é uma Eva. E legítima: melosa, carente, grudenta e perigosa. Descobri que ela pode ter sido a assassina de todos os meus relacionamentos, com seu cruel método de sufocamento.  Uma serial killer de frágeis desavisados.

E o que a torna ainda mais perigosa é a impressionante semelhança física entre nós.
Mas observe bem que eu disse FÍSICA. E só. Por que por dentro somos infinitamente distintas.

O problema é que ela engana muito bem. É uma talentosa dissimulada. Mas não é perfeita. Basta observar as ações de cada uma para perceber diferenças gritantes.

Enquanto eu sou uma "Eu te amo, mas se quiseres ir, a porta fica à direita", ela é uma "Eu te amo, fica comigo"; eu sou "Vai sair? Leva tua chave.", e ela é "Vai onde? Volta a que horas?"; eu sou roupa acumulada na cadeira toda semana, ela é faxina no dia de folga; eu sou lasanha congelada e ela é risoto de funghi; eu sou a que te despe na cozinha e ela é a que chora no teu colo.

Ela nunca perde a paciência ou eleva o tom de voz; quando é magoada, chora. Eu sou naturalmente gritona e até um pouco mandona, e quando me magoam mando "se fuder"!

E você pode ter chegado em um "ano7 ", ou ter a intenção de ficar até o próximo...

Ah, ela também sofre de sonambulismo e, às vezes, toma o meu lugar, dormindo, num ano qualquer.

Mas uma coisa é fato: ela tem sua casinha escriturada em mim, então você pode decidir amá-la e ser feliz a cada sete anos; me amar e ser infeliz a cada sete anos; ou aprender a amar ambas e ser feliz o tempo todo por que, no fundo ambas somos perigosas, ainda que representemos ameaças muito distintas.




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