Nossa história nasceu de parto normal.
Começou com um notebook, um fim de tarde e um fim de namoro.
Um nome, que mais parecia codinome: Leo. Um “oi”. Uma
resposta tão breve quanto a saudação.
Uma ligação telefônica que esgotou a bateria do “ai fone cinco”;
Um chimarrão entupido; um almoço às quatro da tarde de um domingo chuvoso e
frio.
Culpa de São Leopoldo... Tão distante de Porto Alegre, lá no
céu; culpa do frio, que aproximou os dois debaixo do cobertor.
Não estou bem certa se a fecundação ocorreu no momento em
que tatuaste tua mão no meio das minhas costas, naquele abraço de me enfiar
inteira dentro do teu peito, ou quando afastei os cabelos da nuca, para dormir
de conchinha.
A ânsia pelo resultado do “teste” durou dois dias. Positivo.
Mas gestar no coração é mais complicado, ainda mais quando
ambos os órgãos sofreram abortos prévios e gestações ectópicas.
Houve a insegurança, o ciúme, teus silêncios, meus excessos de discurso.
Ainda assim, o amor-feto foi crescendo. As células se
multiplicando geometricamente em beijos, carícias, cuidados e saudades.
Gradativamente, tudo tomou forma: o gosto literário,
musical; o gosto do beijo e o do feijão novinho.
Teu cheiro começou no travesseiro ao lado, e foi tomando a
casa até que, de “minha”, ela ficasse “nossa”. Depois, não satisfeito, tomou
minha pele e minhas horas.
Cada ausência, cada discordância discursiva virava ameaça de
aborto. Mas não partiste, e a gestação
prosseguiu até o parto.
Talvez tenha sido prematuro. Foi rápido, mas não indolor.
Foi natural. Deixou cicatriz indelével. Foi bipolar, como nós.
O parto do nosso amor foi quando teus livros foram morar na
minha estante, e eu percebi que não partiriam mais.
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