domingo, 2 de março de 2014

O silêncio

Durante a maior parte da minha vida eu temi o silêncio. Este monstro feito de chumaços algodão espesso que vai tomando tudo, se enfiando em todas as frestas, sufocando aos poucos, imobilizando.

Talvez seja por isto que falo tanto. Medo do silêncio.

Há pouco tempo conheci alguém que quase mudou isto. Ou melhor, mudou, depois desmudou.

Vou explicar melhor. Tive a chance de aprender que silêncios também dialogam, quando sentávamos lado a lado e as palavras se faziam desnecessárias, pois já haviam dito tudo o que lhes cabia.

O silêncio é uma linguagem refinada, que diz além das palavras. É preciso apurar os ouvidos para compreendê-lo.

Achei tudo isto muito bonito. Meu monstro de algodão quase virou um boneco de neve inofensivo.

Quase...

Então, de repente, aprendi que o silêncio também pode ser uma arma, um instrumento de tortura...e ele voltou a ser o monstro.

Acho que o silêncio é bipolar...


sábado, 1 de março de 2014

Pensamentos de cinema

Fui ao cinema. Há tempos não ia. Não gosto muito de ir só mas, por culpa de um desencontro, minha amiga foi parar em outro shopping. Acho que foi mesmo uma trama do destino para que eu visse o filme a sós.

Esta história me disse muita coisa desde que flertei com o livro. A menina que roubava livros. Não, nunca os roubei. Apenas devoro e amo.

Na verdade é exatamente isto - uma relação de amor muito parecida com uma relação homem/mulher.

Livro dá frio na barriga; surpreende; seduz; decepciona e/ou conquista. Como os relacionamentos, as histórias também mudam com o tempo, já que nosso hipertexto se amplia e, com ele, nossa capacidade de compreensão.

Ambos apresentam começo, meio e fim embora não necessariamente nesta sequência; Alguns têm continuação - tem relacionamento que dá uma trilogia, já noutros o protagonista jaz tão morto no final que nem um zumbi faria o livro II.

Hum....este texto tá confuso como meus pensamentos. Típico texto de diário, pensei. Mas um blog é um diário eletrônico, ora.

Tudo bem, estou estranhando o estilo, apenas isto. É fase, eu sei. Coisas de coração desocupado. Nisto que dá não estar apaixonada.

Entre-safra. Deve ser por isto que ando comprando livros novos.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Devagar

Percebo uma semente
de esquecimento
insipiente
insinuando-se
silenciosamente
entre meus seios,
serpenteando
entre os sobressaltos
e saindo de mim
para  eu alçar
vôos mais altos.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Mudo

Entre nós
não há mais
fonemas...
só silêncios
e poemas.

Apenas mais um poema

Trago em mim
infindáveis
infinitos
debruçados
numa espera
de cortinas
escancaradas
e palavras
abertas.
Meu amor nasce
e se põe
no horizonte.
Tudo passa
na calçada
adiante...
menos tu.

Trabalho

Amar
o que
se faz
é
adoçar-se
de
paz.

Instabilidade

Espere de mim
ciência,
poesia,
impaciência,
heresia...
mas não
espere
bom senso
pois meu coração
é
deveras intenso!

Piloto

De asas frias
e peito
sem emoção
o pássaro
que não canta
traz
na garganta
o homem-coração.

Sensatez

Seja
sensato!

Sem 
reclamação!

Estou só
por sua
opção!

Incoerência

Amar
é esta coisa
confusa
que
ora me arranca
a blusa,
acende a luz,
me usa...
ora
quer
me apagar.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

É só a minha opinião

É chegada a hora
de não mais
versar o abandono.

É chegada a hora
de ouvir
a voz do anjo.

Tenho sede
de poesia fresca
no café.

Quando chego
da balada
desabatida e satisfeita.


terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Todos os nossos bichos



A vaca. Inevitável começar pelo animal do qual falas ao acordar. Também, esta vaca está cada vez mais ladina, deve estar tomando aulas de ninjisse. Toda a noite a safada desce silenciosamente sobre nossa cama e, sem que percebamos, lambe teu cabelo neste formato único.
O pior de tudo é que ultimamente a bovina, não satisfeita em agir nos teus cachos, resolveu roer tuas unhas! Aí abusou!
O cabelo eu até que curto assim, loiro-power, mas mexer com tuas big mãos, que desbravam meus caminhos com carinhos bravios, ah isto me deixou furiosa!
Estou mesmo achando que esta vaca está de avacalhação. Daqui a pouco vira hambúrguer!
Melhor passar ao próximo.
O rinoceronte. O nosso, que é teu e veio para cá partindo dos rabiscos de Dali. Sorte ele ser anão, ou não caberia no elevador. Ainda assim, precisamos com urgência encontrar um adestrador para o bichinho, pois esta mania de devorar todos os meus quindins já está me chateando. Logo, logo estará obeso!
Mas sigamos em frente, que seguir para trás não dá.
As borboletas. Estas insetas (se “presidenta”pode, inseta também pode, não?) coloridas e delicadas que voejam pelo meu estômago sempre que te vejo já não se contentam com meus domínios digestórios e me escapam pela boca afora. Será que é por que estou sempre falando? Bom, ao menos elas tem companhia...
Os grilos. Já até fizeram amizade com as borboletas do meu estômago, embora sejam em maior número, afinal povoam duas cabeças! Mas até que são mansinhos, os bichinhos. Até então não localizei nenhum grilo violento por aqui.
Para concluir a lista, alcançamos a concretude mamífera:
A cachorra. A “Gorda”, que é magra e suficientemente generosa para dividir o teu amor comigo, imigrante que vim de lugar nenhum,  me aninhando na tua existência.
Não sem razão, a primeira foto que me enviaste foi dela. Pensei então que teria uma rival. Mal sabia eu quanto espaço havia naquele coraçãozinho canino.
Penso nela deitada, meio corpo no teu colo, meio corpo no meu; penso no dia em que voltamos para casa e ela estava aninhada no sofá com dois presentinhos peludos e fofinhos; penso quando começou a ficar estressada com a falta de espaço (tão parecida contigo); penso no dia em que foi embora...
Todos os nossos bichos, levaste contigo, me deixando completamente sozinha. Poderia ter me deixado ao menos minhocas na cabeça...

Tati Reis

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Posses

Tens juízo?
Não! Mas tenho
tudo o que preciso
e tudo
me é precioso.

Tenho um amigo
muito louco
que me azucrina
um pouco
mas é maravilhoso;

Tenho um outro,
roqueiro pirado,
que vive embebedado,
o tinhoso;

Tenho uma amiga
doutora
que adora
míni-saia;

E uma capricorniana
teimosa
sempre lá
caso eu caia;

Tenho sonhos.
minha poesia
minhas histórias
e minha teimosia...
Nada me falta!


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Identidade

Sou eu
em todas
as outras
que me fazem
unidade
diversa
nas diversas
idades
que tenho
já sem ter
mais
ou menos;
Sou o todo.
todas,
a um tempo
que nunca
é o mesmo,
já que
eu
nunca
sou
a mesma.
E voltamos à ativa, antes do que eu poderia imaginar...
Nem só no amor reside a inspiração...felizmente!

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Meu coração está em recesso curativo. Como não sei escrever sem ele, o Pimenta de Jardim terá férias por tempo indeterminado.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Luto

Durante algum tempo
estarei assim
vazia
de poesia
e de agonia,
de tristeza
e de alegria...

Durante algum tempo
ainda serei
as mortes recém vividas
e a amnésia
analgésica
das alegrias ainda vívidas!

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Solução

Se eu não tento
uma vez mais
vou sofrer
um outro tanto
por todo o encanto
que ficou lá atrás
e nunca
nunca
nunca
terei paz.

Ignorância

"...não me entrego sem lutar, tenho ainda coração...não aprendi a me render, que caia o inimigo então..." (Metal Contra as Nuvens, Legião Urbana)

E o inimigo
é a covardia,
flecha certeira
em meus ouvidos.
O que ela não sabe
é que o amor
ensurdece...

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Dual

De rinocerontes
e quindins;
De Quintana
e Dali;
Você lá
e eu aqui...
Será que você
ainda
me ama?

domingo, 19 de janeiro de 2014

Surdez

Meu espírito
espera
sentado
silenciosamente
em tua calçada
sem saber
que talvez
tu não ouças
mesmo
mais nada...

Partida

Tropeço em tua frase turva
e paro,
sem saber para onde ir...

Atravesso a porta,
perdida,
procurando não sair.

Turva

Não estou feliz!
Não quero mais...
sentir tua falta
em cada curva
desta praia turva
onde não há cais
e meu barco segue
sempre rumo ao mar
sem voltar atrás
até afundar.


Quanto?

Quanto
 tempo
assim
tão lento
tu precisas
pra ordenar
o pensamento
enquanto eu tento,
enquanto eu vento
enquanto eu sento
e te espero...?

Sejas sincero,
tu bem sabes
o quanto
ainda
te quero.




sábado, 18 de janeiro de 2014

Velórios e enterros

Não vou a velórios; não presencio enterros. Já havia decidido não pisar em um cemitério "nem morta", mas fui ludibriada por um mocinho dissimulado que me levou para conhecer o Santuário Padre Reus, em São Leopoldo e, de repente, lá estava eu cercada de cruzes brancas.

Mas, ok, esta foi apenas uma de minhas convicções, lavada em uma enxurrada verde. Grande coisa, tantas outras foram junto.

Agora, voltando ao velório que não vou, explico o porquê.

Na minha humilde opinião trata-se de um espetáculo grosseiro da hipocrisia "civilizada".

É uma oportunidade "valiosa" para se reunir a família em torno de alguém que não está mais ali, mas que todos fingem que está, chorando e se lamentando em volta de um corpo vazio.

É neste momento que as pessoas saldam todas as dívidas com o defunto: maus tratos, abandono, ofensas, etc...tudo pago com algumas lágrimas sobre o caixão.

Mas, veja bem, esta não é a única utilidade do velório. Temos muitas outras afinal, este é um momento em que a família está reunida então, quer hora melhor para se vingar de todos aqueles parentes que deram "mais certo do que você"?

Bem, obter sucesso já é grave, mas há coisa pior...

Na verdade o crime mais odioso que um parente pode cometer é ser livre.

Imagina só, LIVRE!! Alguém que não está sempre sofrendo ou permanentemente preocupado com o que a família vai pensar dos seus atos representa uma ameaça assustadora a todos os valores que alicerçam a sociedade cristã, evangélica, muçulmana, etc...

É preciso gente que sofra. Apenas o sofrimento redime (porque libertar é perigoso demais).

A sociedade e, por conseguinte a família (mini-célula) se apiedam e acolhem os sofredores fragilizados. Deles é o "reino do céu".

Agora tente ser racional e livre e garantirá seu cartão de pária vitalício e seu tíquete  de ida para o inferno com data para o fim do primeiro.




sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Ensinamentos póstumos

De um caderninho preto, achado entre os escombros: "RECORDAR é pensar novamente, com o coração."

E se...

E se eu for até tua porta
bater
chorar
pedir
sentar
e não partir?

E se fizer greve de fome,
chamar
teu nome
bem alto,
perturbar
os vizinhos
e os passarinhos?

Tu voltas???

Do esquecimento

Li em algum lugar um texto desses sobre memória. Desmemoriada como sou (para o que deveria não ser), ele chamou minha atenção.

Lá dizia que uma técnica para não esquecer é não fazer anotações. No início achei loucura, mas a explicação era boa. Segundo o tal artigo, quando escrevemos algo, o cérebro entende que não precisa priorizar tal informação, que já está armazenada em outro local.

Baseado nisto, deduzi que escrever sobre ti seria uma tentativa válida de aliviar meu coração.

Depois, se não funcionar ainda posso te transformar em personagem, escrever um livro, ficar esquizofrênica e ir morar no castelo, quer dizer, na história.

Mas antes que isto aconteça, bóra lá tentar um reencontro com a sanidade e a lucidez.

Começo de cima, ou de baixo?

Acho que é sempre mais prudente começar de baixo, não?

Então começarei pelos teus pés. Sempre achei eles lindos. O formato dos dedos, das unhas, a maciez da pele...nunca me importei com aquele segundo dedo, maior que o dedão.

Na sequência vem as canelas, que achas finas enquanto eu acho perfeitas, em conjunto com o resto das pernas "de ciclista".

Subindo o tronco temos um ensaio de barriguinha, que era branca no inverno, mas com esta tua desenvoltura de andar sem camisa, já deve estar bronzeada. (Meu Deus!! Só agora me dei conta que faz um mês que não te vejo...de que adianta? Está comigo o tempo todo!)

Tem ainda aquele sinal em alto relevo no flanco direito...

Na sequência temos o peito, largo,forte, macio e despido de pelos, perfeito para descansar a cabeça não fosse aquele bumbo aí dentro que bate como se tentasse explodir.

É, tudo em ti é intenso...até as batidas do coração!

Temos então os braços, que nunca entendi como podiam ser tão fortes, terminando nas tuas mãos...

Ah, as tuas mãos mereciam um livro inteiro. Amplas, dedos alongados e unhas tão bem desenhadas (aquelas mesmas que resolveste roer e destruir nos últimos tempos...mas já paraste, não?)

Teus ombros largos me transmitiram segurança desde o primeiro abraço. Apesar de nada me fazer gostar daquelas tuas tatuagens...

Logo depois do pescoço tem aquela parte que eu a-d-o-r-o: teu queixo! Deus não fez dois queixos assim, eu aposto!

Quando vi teu queixo sabia que tinhas sido feito para me encontrar, um dia, e me atormentar pela fase oral mal resolvida!

Podemos continuar com os teus lábios, que extrapolam qualquer descrição, teu aparelho nos dentes e aquele canino inferior que te incomoda, mas que não passa de um charme a mais (como se já não tivesses demais!).

Teu nariz, que é grande sim...do tamanho exato que eu amo, assim como as orelhas.

Teus olhos, prisão da qual eu jamais conseguirei fugir. Até por que a crueldade do destino não tem limites. Assim estou eu, condenada a permanecer até o fim dos tempos naqueles lagos verdes, com peixes dourados e bordas azuis.

Restou apenas tua cabeleira abundante, linda black power ou no modelo "menino comportado", e a tua mania de enrolar o cabelo com as pontas dos dedos.

Pronto! Será que agora eu desenrolo minha alma???


P.S.

Quatro partes apenas é um espaço infinitamente restrito para delimitar nossa história.
Não coube a ansiedade e a taquicardia que me escoltavam da saída da escola até ligar o computador  e te ver online no Skype, nas primeiras semanas, antes de te mudares para a nossa casa; as conversas virtuais que varavam a noite e me faziam acordar exausta, porém feliz, às 6h da manhã; o desespero de te ter ao alcance do toque e inatingível; a angústia de me sentir impotente diante da tua tristeza; as infrutíferas tentativas de me convencer de que não teria dado certo de qualquer modo...

Parte IV

Escrevo aqui como um ateu que ora, sem esperança de ser ouvida. Ou quase sem.

Onde foi mesmo que paramos? Ah, entre o o teu ciúme, o Catamarã e as grades da tua casa.

Voltando ao fio da história, nossos primeiros meses foram de sonho. Eu só queria correr para casa, onde sabia que me esperavas.

Veio subitamente a vontade de arrumar e decorar aquele espaço que só agora era a minha casa de verdade.

Com o tempo fui descobrindo que tu é que eras a minha casa.

Por isto, quando partiste eu só voltei para buscar minhas coisas. A paredes mais reais foram contigo. Sobraram lá apenas ruínas do que um dia havia sido um lar.

Minha parede coberta de retalhos, nossas fotos coladas, a torre Eiffel que insistia em descolar...tudo eram marcas de desolação depois que fostes.

Tuas coisas, tantas coisas, que ficaram para trás, me lembravam do tanto de ti que ficou em mim.

Tentei te contactar para te entregá-las, mas não houve resposta.

Sabias bem que teu silêncio seria a melhor vingança. Nada poderia me machucar mais do que ele.

Desejei diversas vezes que me ofendesses, que brigasses, qualquer coisa menos teu silêncio.

Não sei se interpreto esta ausência de contato como uma vingança ressentida ou como uma ausência protetora.

Quando fechei a porta do apartamento, deixei lá todas as certezas. Eu era tão cheia delas...

Lembro quando eu chegava do trabalho e sentava no teu sofá, pernas sempre no teu colo (exceto quando a Gorda chegava primeiro) e me ensinavas sobre pinturas, filosofia, cinema e literatura.

E eu ali, feito menina, deslumbrada com o tanto que sabias.

Eu bebia os teus olhares e o teu prazer de ensinar. Acho sim que serias um grande professor.

Amei todas as tuas aulas, das literárias às sexuais.

Tudo o que fazer, tem arte. Até mesmo o "não saber dançar" era uma ótima razão para eu ficar agarrada na tua cintura.

Lembra no Insano? Até pensei que fosse minha falta de jeito em dançar contigo, por isto pedi à Liane que te ensinasse. Ficaste até bravo comigo.

Deixei de ir ao forró, mas não me fazia mais falta.Toda a euforia e alegria que eu precisava, tinha contigo.

Viver ao teu lado era uma eterna balada, todo dia era domingo mesmo que eu trabalhasse.

Bastava chegar em casa e te ver que eu ouvia música sem precisar ligar o rádio.

Tu foste a todos os meus compromissos incansavelmente.  Foste simpático e querido com todos os meus amigos, encantando-os com teu sorriso aberto de menino.

Conquistaste meu filhos, tanto quanto a mãe deles. Maria Antônia te chamou de amor, de pai...Mauricinho quase chorou quando contei que o "tio Leo" tinha voltado para S. Leopoldo e não nos veria mais. Engoli as lágrimas para chorar longe dele.

Antes de partir, disseste que estavas cansado de "viver a minha vida"...sei que não foi fácil, mas eu me preocupava com o fato de ficares muito tempo sozinho, por isto te "arrastava" junto para todo lado.

Sei que fiz muitas coisas erradas, nunca neguei que sou mesmo atrapalhada. Algumas menores, outras imensas...sou humana...tu não??

Procura em toda a tua filosofia, em toda a tua racionalidade e depois, procura no teu coração até encontrar a seguinte resposta: "se me amavas, e era verdadeiro, onde foi parar todo o amor que professavas? Transformou-se? No quê?"

Não, eu nunca vou falar mal de ti e é por um motivo bastante racional e simples: tu me trouxeste alguns dos melhores momentos e realizações da minha vida! Sem ti, eu não teria meu livro, minha prosa, parte da minha arte, todos os momentos incríveis já vividos a dois, tudo o que já aprendi contigo.

Não. Não há queixas, senão a saudade, a ausência e esta dor, que só existe por que ainda é amor.




quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Parte III

No dia em que foste a S. Leo buscar o que faltava, pela primeira vez, acabou não dando certo e ficaste por lá.

Naquela noite eu não dormi em casa, mas é melhor deixar esta parte de fora.

Neste ponto da história eu já nem lembrava que tudo havia começado como um "Amor Bandaid", só para curar meu coração partido depois do fora que levei do Leandro.

O mesmo Leandro que te deixava irritado ao teclar comigo e enviar mensagens tarde da noite ou cedo da manhã, enquanto eu te explicava que ele agia assim porque eu participava.

Pois é...ele chegou a se arrepender do que fez, no início, mas com todos os solavancos que o relacionamento sofreu continuou meu amigo, sempre próximo. Um amor "de guardar" feito aquele brinquedo que não funciona mais mas a gente deixa ali, porque significa muito. Ficou o carinho e a amizade.

Ficou alguma coisa de nós em ti?? Tenho a sensação de que me lavaste da tua vida com Alvex...não restou nem mancha, nem cheiro.

Acabei de descobrir que ainda tens Facebook, só me bloqueaste. Não quero ver. Vá que tenha algum registro de outra mulher ao teu lado...eu não consigo ainda...não sei se conseguirei algum dia.

Na verdade só olhei porque me mostraram. Ainda estou tremendo...

Não consigo passar nem perto do Gasômetro sem que nossas lembranças pulem em cima de mim.

Nossos entardeceres tomando chimarrão e conversando (acho que nunca mais conseguirei tomar chimarrão), os passeios com a Gorda, tua mão na minha, teu braço em torno da minha cintura, o passeio no Catamarã...

Como alguma coisa pode ter gosto se não for contigo??

Eu sei que ficaste com muita raiva por me ver com outra pessoa, mas eu estava trespassada de dor. Na primeira semana, tomei uma caixa inteira de Rivotril.

Lembro muito pouco do que aconteceu. Há poucos dias reli tuas mensagens no celular e fiquei chocada. Só então comecei a entender.

Ao sair, acreditei que não havia qualquer chance de volta. Fui primeiro porque não aguentaria te ver ir.

Não sei mais sofrer assim, tão sem fronteira. Vendei os olhos e segui em frente.

Quando vi tua reação no lançamento do nosso livro, eu quis morrer, quis não acreditar no que via.

Eu te amava. Eu te amo. Talvez nunca desame.

Ás vezes penso em ir até tua porta, mas me vejo chamando em vão, agarrada às grades, enquanto o Simba, a Gorda e a Pretinha pulam em mim.

Por fim me vejo chorando e teu pai me dizendo que é melhor ir embora e não voltar, por que não queres nunca mais falar comigo.

Estou escrevendo para não enlouquecer...

Parte II

E então, nossa primeira noite, que não começou com o romantismo que se espera. Era apenas um arranjo prático.

Desta parte eu me lembro bem. Tomei banho e vesti a roupa menos sexy do mundo: o moletom vermelho da Quatrum (2 números acima do meu) e aquela legging marrom que tu odeias. Meias, obviamente, e o cabelo solto de quem não vai dormir perto e, portanto, não precisa se preocupar se vai ficar no rosto do outro.

Mas não foi bem assim...

Até lembro de brincares, enquanto teclávamos, dizendo que eu só não deveria te mostrar a nuca...

Não lembro se mostrei, mas lembro que perguntastes se poderias tirar o jeans para deitar. Não vi motivo para me opor. Achava que deitarias comportadinho. Ledo engano...

Mal teu corpo tocou a cama já te aprochegaste. Tua proximidade sempre alterou coisas em mim: da temperatura ao nível de juízo.

Quando encostaste o rosto na minha nuca, a despeito do cabelo que a cobria, ainda te adverti para o fato de não ser feita de ferro...

De nada adiantou, para a minha sorte...acho. Não...tenho certeza! Eu não seria a mesma, não fosse tudo o que me trouxeste!

Não guardo muito claro como se desenrolou aquela noite. Deve ser esta maldita memória seletiva. Desconheço os critérios de armazenamento que ela usa.

Lembro da foto no espelho no dia seguinte...nossa primeira, juntos.

Onde foi parar aquela foto? E todas as outras? Tu apagaste todas?

Tempo perdido...tais imagens estão todas em mim!

Acho que foi na semana seguinte que demorei no salão e te deixei esperando. Na verdade enviei mensagem para o teu celular, sem saber que o havias perdido.

Quando estava voltando para casa, vinhas em minha direção, acho que já desistindo de esperar, e demorei a te reconhecer, lembra?

Vestias tua jaqueta cinza e lenço ao pescoço...

Foi no dia 25/06/2013. Este não esqueço porque foi o dia em que me pediste em namoro.

Claro que não poderia ser um simples pedido. Tinhas que fazer acrobacias verbais.

"- Quero te pedir uma coisa, mas só se tiveres tempo para te dedicar!"
"- Quero te namorar às verda!"

E eu me esforçando para não parecer burra enquanto tentava deduzir o que seria o tal "às verda".
Optei por presumir que seria "de verdade".
Acho que acertei.
Foi verdadeiro, não foi?

Neste mesmo final de semana ainda me brindaste com mais uma lembrança que não poderá ser apagada.
Lembro "crystal clear" quando disseste que querias me ver durante a semana, porque sentias muita saudade passando tanto tempo distante.

Óbvio que me derreti feito sorvete no calçadão de Porto Alegre, pleno janeiro. Em menos de um minuto não sobrou nem minha casquinha.

E foi assim que decidimos que ficarias em POA no dia da minha compensação, que logo virou 2,3,4 dias.

Quanto tempo levou para buscares o resto das tuas coisas? Não lembro ao certo, mas não chegou a dois meses.




Lembranças - Carta de amor em 4 partes (Parte I)

Não lembro bem como iniciamos a conversa, até por que deletaste teu perfil do site exatamente quando eu as relia, numa tentativa de reconstruir tudo do começo.

Fique surpresa quando todas as palavras que trocamos se apagaram diante de mim (deveria ter entendido isto como um mau presságio) e te liguei na mesma hora, para saber o que estava acontecendo.

Tua resposta foi digna de alguém que sabia manipular a linguagem com maestria: "-Deletei o perfil porque não preciso mais dele. Já encontrei a minha negrinha de soja!"

Esta poderia ter sido a deixa para eu saltar fora, mas pulei para o lado contrário e mergulhei de cabeça na criação de um novo texto: a nossa história.

Quando me questiono em que momento me apaixonei por ti, não é fácil identificar.Acho que foi bem no comecinho, quando comecei a ler os teus textos.

Mais especificamente quando li " Lucidez, por favor". Enquanto deslizava pelas ideias retratadas ali, eu pensava: "É isto. É isto que eu procuro!".

Mas acho que nenhum de nós conseguiu ter tanta lucidez assim...

Quando dedicaste o livro para mim, com aquelas poucas palavras, tão frias, a primeira era "lucidez". Lembra?

O que lembras da nossa história?

Decidi escrever para tentar tirar tudo isto de dentro de mim. Tentar desocupar espaço para o oxigênio, que não encontro mais desde o dia 25/11/2013.

Justo no dia 25..."e tudo acaba onde começou..."

Qual era mesmo a nossa música? Acho que esqueci...queria esquecer tantas outras coisas...

Lembro com espantosa precisão o dia em que nos vimos pela primeira vez. Lembro de estar no ônibus, voltando para casa, quando te mandei uma mensagem e demoraste a responder. Achei que não virias por causa da chuva.

Lembro também da sensação de alívio ao receber tua resposta, dizendo que já estava chegando e que me esperaria na Casa de Cultura.

Perguntei se querias que eu te pegasse lá e tu, para não perder a deixa de fazer graça, respondeu que não era homem de deixar "qualquer pelotense te pegar" .

O que aconteceu com tua graça e leveza depois de 3 meses? O que eu fiz de errado?

Vejo como num filme...tu de costas para a porta da Casa de Cultura, voltado para o balcão,com a jaqueta preta "de saco de lixo", como nós chamamos depois. Para ter certeza de que eras mesmo a pessoa que eu procurava, te liguei.

Quando viraste de frente para mim, amei teu rosto e teu jeito, por trás do óculos e do aparelho. Tua voz eu já conhecia bem, depois daquela noite em que falamos até terminar a bateria do celular.

Só não digo que foi amor à primeira vista porque não foi. Foi amor ao primeiro abraço.

Quando teus braços me envolveram e espalmaste tua mão imensa, que parecia cobrir minhas costas inteiras, eu passei a ser tua.

Ainda sinto tua mão. Acho que ficou tatuada em mim. Para sempre.

Ainda fiz graça da tua altura. Acho que tinha te imaginado mais alto. Lembra do rapaz que vinha na nossa frente e voltou o rosto para rir do meu comentário? Ah...admite que foi engraçando! Na verdade tua altura nunca foi problema afinal, eu sou baixinha mesmo, mas era bom ter um motivo para implicar.

Chovia ainda quando deixamos a CCMQ? Não lembro ao certo.

Passamos no prédio da Letícia para pegar os apetrechos de chimarrão. Eu deixava com ela por que nunca tive hábito de tomar mate sozinha.

Quem desceu para nos entregar as coisas foi Deisoka, que te achou uma graça. Grande coisa, quem não achou? Até Dona Angela, tua sogra, fez questão de registrar que eras "meu namorado mais bonito".

Não tive coragem de contar a ela que te perdi. Achei melhor deixá-la partir em paz, acreditando que estou feliz. Quem dera eu estivesse...

Ainda estou decidindo se vou ou não a Pelotas, mas acho que não escaparei. Semana que vem, então. Se der tempo...ela já está na UTI...

Depois rumamos direto para o meu apartamento, que se tornaria "nosso" em breve. Comecei a fazer o almoço, enquanto preparaste o chimarrão, que ficou entupido.

Primeiramente desconfiamos da erva, então saí para comprar outra, sob os teus protestos, já que chovia a esta hora. Como cavalheiro que és, te ofereceste para sair. Como teimosa que sou, recusei.

Para nossa infelicidade, descobrimos que meu banho de chuva foi inútil. já que o problema não era a erva, mas sim a bomba, que substituíste na semana seguinte, sob os meus teimosos protestos.

O almoço foi servido por volta das 16h, e tu não tivestes uma hipoglicemia graças a uma fatia de pão devorada enquanto eu buscava a erva.

Minha memória guarda uma vaga impressão de que a comida não estava grande coisa...acho que queimei algo...grande surpresa!

A culpa atrelada aos próximos passos poderia ser atribuída ao frio de junho, naquele dia especialmente acompanhado de uma chuvinha providencial, combinados à carência de cada um.

Na sala havia aquele colchão de solteiro, ainda com as cobertas da Marci, que não poderia ser mais atraente, diante da temperatura congelante e da falta de sofá.  Para sentar, as opções eram ele ou a cama.

Tu sentaste nele e eu, na cadeira.

Tremias de frio e eu sugeri que te cobrisses com o edredom.

Com o andar da conversa (não lembro sobre o que falávamos, tu lembras?), fui sentindo frio também.e, nada parecia mais lógico do que me juntar a ti sob o edredom.

Mantendo minhas mãos sob estrito controle diante da vontade de acariciar teu rosto, demos continuidade à conversa, que parecia não ter fim.

Tanto que perdemos toda e qualquer noção de tempo e, ao voltarmos para o mundo real, percebemos que já passava das onze da noite.

Diante do breu que pintava os vidros da janela com uma chuva que mais parecia piche, tão negra, nada mais lógico do que te convidar a pernoitar...e eu o fiz.

Tudo bem, eu poderia ter oferecido o colchão da sala, que já havias testado durante a tarde, mas pareceu tão sem sentido dormir sozinha naquela cama tão grande, enquanto tu dormisses na sala...



quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Amor Bandaid

Era para ser.
Com objetivo claro e duração calculada com aproximação precisa.
Virou remédio de uso contínuo, imprescindível á manutenção da vida.
Mas deixaram de fabricar.

Sinto

Hoje é meu aniversário. Mensagens carinhosas dos amigos e conhecidos pipocam por todo o lado.Mas junto comigo, é aniversário da saudade que deixaste. Ela se comemora todo o dia, enquanto me intoxica.

Não que eu não lute contra ela. Busco a areia, nadando do jeito que sei. Queimaste todas as pontes. Ou quase todas. Não sei se estou nadando para a praia ou mar adentro.

Pensei centenas de vezes antes de escrever aqui. Talvez não leias. Talvez nunca mais coloques os olhos em algo que eu escrevi...talvez eu devesse fazer como tu fazes. Mas não consigo.

Se não escrevo, morro intoxicada. Meu corpo já começa a adoecer. Tu sabes como funciono. Queria vomitar tudo o que sinto...só consigo vomitar tudo o que como.

Estou emagrecendo. Talvez eu fique mais bonita...

De que adiantará se não será para o verde dos teus olhos? Tu já eras parte de mim...achei que era parte de ti também. Era?

A vida tem sido generosa. Talvez eu tenha tudo o que se possa desejar. Mas o vazio da tua falta faz tudo o mais sem sentido.

Ando lendo Martha Medeiros. Pior que gostei. Gosto de qualquer lasca de ti.

Pendurei Paris na parede da sala. Ficas ali, marcando presença na casa nova.

Tu estás bem? Estás estudando? Escreveu algo novo? Sorriu para outros olhos? Adoçou outros lábios?

Será que tempo vai lavar esta dor? Será que tenho tempo o suficiente para que lave?

Sinto tua falta. Me sinto vazia. Sinto muito...






terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Inferno

Teu nome
pichou minha pele
de negro
sufocando
a esperança
que eu suava.
Desde então
tudo em mim
virou lágrima
mas eu não choro...
prefiro deixar
que a água suba
lentamente.
Me afogo um pouco
por dentro
a cada dia.
Observo
tua falta aumentando
em mim,
enquanto minha presença
diminui.
Dia
Após
dia;
Hora
após
hora.
Tu
não vens,
não voltas,
não estás
mais em mim
onde não sobrou
senão
tua ausência,
numa morte
vitalícia
companheira
do meu suicídio
diário.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Leitura

De repente, não mais que de repente eu, leitora compulsiva e esfomeada desde antes de conhecer os bancos pré-escolares, me vejo titubeando ante uma crônica um pouco mais longa e me choco.

 Se eu, que li Admirável mundo Novo e Sem Olhos em Gaza aos treze anos, em uma única semana e me deleitei com as previsões nada fantásticas de Aldous Huxley hoje tropeço na falta de vontade de ler um texto mais longo, que não me seduza ao primeiro olhar, o que dizer desta geração de agora, acostumada a estímulos visuais simultâneos e ideias objetivas?

E agora, o que fazer? Obrigá-los a ler para forçar o hábito, ou mudar o formato do que oferecemos?

Aposto mais na segunda hipótese.

Não que devamos desistir dos textos mais densos e elaborados, mas precisamos estar conscientes de que o leitor deve estar maduro para que estes sejam fonte de prazer. E amadurecer é um processo.

Se o ambiente for propício, o processo ocorre sem maiores intervenções, mas sabemos que isto nem sempre é possível. Adequação é a chave para evitar desastres.

Se oferecermos textos atraentes ao longo do processo de construção do sujeito-leitor, este terá maiores chances de desenvolver o gosto pela leitura. Até aí tudo muito fácil, muito lugar-comum...

Agora começa a complicar: e o que é um texto atraente? Isto vai depender de QUEM, ONDE, QUANDO e PARA QUÊ.

Como estamos falando do processo de construção do leitor para que este se torne autônomo, sujeito capaz de compreender e utilizar o conhecimento que adquire através da leitura, é importante que partamos do objetivo inicial: ler com prazer.

Nosso principal público-alvo aqui são pré-adolescentes e adolescentes, de 10 a 16 anos, aproximadamente.

Onde? Na escola e em casa. Sabendo que, na maioria das vezes não é possível contar com a ajuda dos pais, seja por que os mesmos não são leitores autônomos, não desenvolveram prazer em ler ou simplesmente não têm tempo ou não demonstram interessa em participar do processo de construção dos filhos, como sujeitos.

Quando? Nos dias de hoje, época em que o tempo parece cada vez menor e o recurso visual é o mais valorizado, levando a maioria a escolher o filme em lugar do livro, o resumo em lugar do texto integral. Hoje lemos em busca de informações objetivas, sem observar a subjetividade, as construções figurativas e delicadas de um texto literário.

É preciso começar oferecendo o caminho do meio, uma literatura "papinha", algo que cative, sem cansar.

Aos poucos, vamos aumentando a consistência destes textos, conforme a evolução do leitor, de modo que o prazer da leitura não seja embotado pela dificuldade de compreensão, mas que ainda exista algum desafio (input+1).

Neste ponto, precisamos oferecer em profusão um gênero textual contemporâneo, que satisfaça tais necessidades.

Meu questionamento é "qual seria este gênero"?









Surpresa

"...e me acordas na madrugada
com um beijo que desabrocha
em tua boca perfumada
quando eu não esperava mais nada..."



sábado, 11 de janeiro de 2014

Engano

Uma tristeza mansa
roça meus pés, feito gato,
enquanto o tempo dança,
toda a certeza balança
e eu mato
lembrança por lembrança
jogada ao vento...
ou pelo menos tento!

Diário de férias 2

E aí a pessoa decide tirar férias das férias, que esta coisa de organiza a vida palmo a palmo e depois resolve curtir, dançar e viajar, cansa que é uma desgraça.

Na quinta-feira até São Pedro decide colaborar, enviando uma chuvinha deliciosa. Sexta e sábado ainda com temperaturas quase humanas, ocupados com diálogos entre filosóficos, existenciais e DR...

O problema é que tuas perguntas vão namorando as minhas, casando e tendo filhos em série enquanto as respostas parecem estéreis.


quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Da espera

Quando te ausentavas
eu já não era mais eu...
eu era toda espera.

Ainda te espero,
ainda que sem esperança
outra qualquer que não seja
a de superar a aspereza
da tua ausência.

Espera

Não espere que eu espere. Esperar é para quem tem esperança e, se esperança  fosse algo bom não estaria escondida justo na caixa de Pandora.

Nada aprendi da tão feminina arte da espera. Meus filhos são prematuros. Meus amores quedaram-se prematuramente.

Nas sábias palavras de Cazuza, "o tempo não para" (exceto no vácuo infinito de um beijo, ou de um orgasmo)...tampouco, eu. Nem para esperar.

Se quero, quero agora. Amanhã posso não querer mais. O tempo me ensinou a "desquerer" quem não me quer com rapidez precisa.

Se o desejo em mim queima ao acordar, talvez ele adormeça antes do meio dia.

Não espero. Não crio esperanças. Sei bem o que elas comem...devoram a gente de dentro para fora.
Quando você percebe, já está vazio. E eu estou cheia demais de vazios...

À esperanças e expectativas, prefiro criar porcos.

Esperanças e expectativas não dão bacon e fazem mais estrago do que os porcos.




segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Anjos e demônios

"Cada um descobre seu anjo tendo um caso com o demônio" (Mia Couto)

E meu amor, paradoxalmente bipolar,
valsava nas tuas palavras de anjo,
pisando em nuvens de sonho,
banhado em esperanças verdes
que não tiverem tempo de amadurecer
e, açoitadas por tua parte demônio
(ou seria minha parte demônia?)
quedaram´se prematuramente
no chão cruel da realidade.

Diário de férias 1...Templo Budista


E já que a meta para 2014 é encontrar paz, nada melhor do que começar o ano conhecendo o Templo Budista de 3 Coroas. Meu amigo V riria muito se eu contasse que resolvi visitar um templo budista justo na minha fase mais autocentrada mas...bóra lá.
Não poderia ir em companhia melhor do que o André, a pessoa mais calma e tranquila que já conheci. Tão calmo e tranquilo que está ao meu lado há mais de trinta dias e ainda não saiu correndo. E olhem que ele não toma nenhum "tarja preta".

Para contrabalançar, duas molecas: a ansiosa Six, que quase saltou do carro para não ouvir "conversa de meninas" e a mimosinha da Vivis, , toda "stylish". Amigas felizes, resolvidas e amorosas, do melhor tipo que se pode ter!


Claro que, levando em conta que este era um passeio que contava com a minha importante presença, não se há de esperar que ocorresse dentro dos padrões...

A princípio seria uma amiga das molecas que nos acompanharia de moto.
O que ninguém esperava era ser escoltado pelos  "Hell´s Angels covers"...rsrsrs



E quem diria que eles seriam meninos e meninas doces, que cuidam uns dos outros, têm crises de timidez diante da garçonete e discutem como evoluir Pokemons??!!

No final do dia, duas crianças exaustam dormiam no banco de trás do carro enquanto as outras pilotavam seus brinquedinhos no calor inda escaldante (meu Deus, como é que eles não cozinham dentro daquelas jaquetas?????).

Chegamos em casa mais ricos e mais sábios, com a porção de preconceito que ficou largada na estrada.


História sem fim

E finalmente o ano começa. Depois de todas as falácias de ano novo, finalmente paro e penso. Inevitavelmente, algumas coisas terminam, enquanto outras apenas mudam, mas continuam lá. Minha ansiedade mudou de endereço, junto comigo; o amor mudou de endereço, sem mim. Acho que também não foi morar contigo...
Fico escrevendo aqui, sabendo que não vais ler, querendo acreditar que talvez vá...que talvez esta seja a única ponte não queimada, muito embora te seja grata por me fazeres viúva e não, abandonada.
É mais fácil lidar com tua ausência do que com teu abandono. Me preserva um pouco...talvez te preserve também.
Tu foste um amor de sonho que tentei sonhar acordada. Meus erros, minhas culpas, minhas falhas. Até o último momento.
Sei que de nada adianta dizer que, trespassada de dor, buscando qualquer analgesia, eu já não era mais dona dos meus atos. 
Há apenas 3 dias atrás li as últimas mensagens que trocamos e fiquei chocada. Eu realmente não sabia o que estava acontecendo. Já havia nos velado e aguardava apenas a cremação, como algo certo. Não tinha coragem de te enfrentar a sós no lançamento. Temia fantasmas. Não os sabia vivos...
Pelo que te conheço bem sei que jamais terei perdão.
Pelo que me conheço, idem.
Triste infinito fim.
 
Dia 25/11/2013 eu e o Pimenta de jardim perdemos nosso artista. Mas seguimos a caminhada, ainda que um pouco menos coloridos, um pouco menos belos, um tanto menos felizes..."Bóra lá"!