Não lembro bem como iniciamos a conversa, até por que deletaste teu perfil do site exatamente quando eu as relia, numa tentativa de reconstruir tudo do começo.
Fique surpresa quando todas as palavras que trocamos se apagaram diante de mim (deveria ter entendido isto como um mau presságio) e te liguei na mesma hora, para saber o que estava acontecendo.
Tua resposta foi digna de alguém que sabia manipular a linguagem com maestria: "-Deletei o perfil porque não preciso mais dele. Já encontrei a minha negrinha de soja!"
Esta poderia ter sido a deixa para eu saltar fora, mas pulei para o lado contrário e mergulhei de cabeça na criação de um novo texto: a nossa história.
Quando me questiono em que momento me apaixonei por ti, não é fácil identificar.Acho que foi bem no comecinho, quando comecei a ler os teus textos.
Mais especificamente quando li " Lucidez, por favor". Enquanto deslizava pelas ideias retratadas ali, eu pensava: "É isto. É isto que eu procuro!".
Mas acho que nenhum de nós conseguiu ter tanta lucidez assim...
Quando dedicaste o livro para mim, com aquelas poucas palavras, tão frias, a primeira era "lucidez". Lembra?
O que lembras da nossa história?
Decidi escrever para tentar tirar tudo isto de dentro de mim. Tentar desocupar espaço para o oxigênio, que não encontro mais desde o dia 25/11/2013.
Justo no dia 25..."e tudo acaba onde começou..."
Qual era mesmo a nossa música? Acho que esqueci...queria esquecer tantas outras coisas...
Lembro com espantosa precisão o dia em que nos vimos pela primeira vez. Lembro de estar no ônibus, voltando para casa, quando te mandei uma mensagem e demoraste a responder. Achei que não virias por causa da chuva.
Lembro também da sensação de alívio ao receber tua resposta, dizendo que já estava chegando e que me esperaria na Casa de Cultura.
Perguntei se querias que eu te pegasse lá e tu, para não perder a deixa de fazer graça, respondeu que não era homem de deixar "qualquer pelotense te pegar" .
O que aconteceu com tua graça e leveza depois de 3 meses? O que eu fiz de errado?
Vejo como num filme...tu de costas para a porta da Casa de Cultura, voltado para o balcão,com a jaqueta preta "de saco de lixo", como nós chamamos depois. Para ter certeza de que eras mesmo a pessoa que eu procurava, te liguei.
Quando viraste de frente para mim, amei teu rosto e teu jeito, por trás do óculos e do aparelho. Tua voz eu já conhecia bem, depois daquela noite em que falamos até terminar a bateria do celular.
Só não digo que foi amor à primeira vista porque não foi. Foi amor ao primeiro abraço.
Quando teus braços me envolveram e espalmaste tua mão imensa, que parecia cobrir minhas costas inteiras, eu passei a ser tua.
Ainda sinto tua mão. Acho que ficou tatuada em mim. Para sempre.
Ainda fiz graça da tua altura. Acho que tinha te imaginado mais alto. Lembra do rapaz que vinha na nossa frente e voltou o rosto para rir do meu comentário? Ah...admite que foi engraçando! Na verdade tua altura nunca foi problema afinal, eu sou baixinha mesmo, mas era bom ter um motivo para implicar.
Chovia ainda quando deixamos a CCMQ? Não lembro ao certo.
Passamos no prédio da Letícia para pegar os apetrechos de chimarrão. Eu deixava com ela por que nunca tive hábito de tomar mate sozinha.
Quem desceu para nos entregar as coisas foi Deisoka, que te achou uma graça. Grande coisa, quem não achou? Até Dona Angela, tua sogra, fez questão de registrar que eras "meu namorado mais bonito".
Não tive coragem de contar a ela que te perdi. Achei melhor deixá-la partir em paz, acreditando que estou feliz. Quem dera eu estivesse...
Ainda estou decidindo se vou ou não a Pelotas, mas acho que não escaparei. Semana que vem, então. Se der tempo...ela já está na UTI...
Depois rumamos direto para o meu apartamento, que se tornaria "nosso" em breve. Comecei a fazer o almoço, enquanto preparaste o chimarrão, que ficou entupido.
Primeiramente desconfiamos da erva, então saí para comprar outra, sob os teus protestos, já que chovia a esta hora. Como cavalheiro que és, te ofereceste para sair. Como teimosa que sou, recusei.
Para nossa infelicidade, descobrimos que meu banho de chuva foi inútil. já que o problema não era a erva, mas sim a bomba, que substituíste na semana seguinte, sob os meus teimosos protestos.
O almoço foi servido por volta das 16h, e tu não tivestes uma hipoglicemia graças a uma fatia de pão devorada enquanto eu buscava a erva.
Minha memória guarda uma vaga impressão de que a comida não estava grande coisa...acho que queimei algo...grande surpresa!
A culpa atrelada aos próximos passos poderia ser atribuída ao frio de junho, naquele dia especialmente acompanhado de uma chuvinha providencial, combinados à carência de cada um.
Na sala havia aquele colchão de solteiro, ainda com as cobertas da Marci, que não poderia ser mais atraente, diante da temperatura congelante e da falta de sofá. Para sentar, as opções eram ele ou a cama.
Tu sentaste nele e eu, na cadeira.
Tremias de frio e eu sugeri que te cobrisses com o edredom.
Com o andar da conversa (não lembro sobre o que falávamos, tu lembras?), fui sentindo frio também.e, nada parecia mais lógico do que me juntar a ti sob o edredom.
Mantendo minhas mãos sob estrito controle diante da vontade de acariciar teu rosto, demos continuidade à conversa, que parecia não ter fim.
Tanto que perdemos toda e qualquer noção de tempo e, ao voltarmos para o mundo real, percebemos que já passava das onze da noite.
Diante do breu que pintava os vidros da janela com uma chuva que mais parecia piche, tão negra, nada mais lógico do que te convidar a pernoitar...e eu o fiz.
Tudo bem, eu poderia ter oferecido o colchão da sala, que já havias testado durante a tarde, mas pareceu tão sem sentido dormir sozinha naquela cama tão grande, enquanto tu dormisses na sala...
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