sábado, 18 de janeiro de 2014

Velórios e enterros

Não vou a velórios; não presencio enterros. Já havia decidido não pisar em um cemitério "nem morta", mas fui ludibriada por um mocinho dissimulado que me levou para conhecer o Santuário Padre Reus, em São Leopoldo e, de repente, lá estava eu cercada de cruzes brancas.

Mas, ok, esta foi apenas uma de minhas convicções, lavada em uma enxurrada verde. Grande coisa, tantas outras foram junto.

Agora, voltando ao velório que não vou, explico o porquê.

Na minha humilde opinião trata-se de um espetáculo grosseiro da hipocrisia "civilizada".

É uma oportunidade "valiosa" para se reunir a família em torno de alguém que não está mais ali, mas que todos fingem que está, chorando e se lamentando em volta de um corpo vazio.

É neste momento que as pessoas saldam todas as dívidas com o defunto: maus tratos, abandono, ofensas, etc...tudo pago com algumas lágrimas sobre o caixão.

Mas, veja bem, esta não é a única utilidade do velório. Temos muitas outras afinal, este é um momento em que a família está reunida então, quer hora melhor para se vingar de todos aqueles parentes que deram "mais certo do que você"?

Bem, obter sucesso já é grave, mas há coisa pior...

Na verdade o crime mais odioso que um parente pode cometer é ser livre.

Imagina só, LIVRE!! Alguém que não está sempre sofrendo ou permanentemente preocupado com o que a família vai pensar dos seus atos representa uma ameaça assustadora a todos os valores que alicerçam a sociedade cristã, evangélica, muçulmana, etc...

É preciso gente que sofra. Apenas o sofrimento redime (porque libertar é perigoso demais).

A sociedade e, por conseguinte a família (mini-célula) se apiedam e acolhem os sofredores fragilizados. Deles é o "reino do céu".

Agora tente ser racional e livre e garantirá seu cartão de pária vitalício e seu tíquete  de ida para o inferno com data para o fim do primeiro.




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