É junho, e Porto Alegre esfria,
sombria.
Repouso entre a cerração do Gas`
e a música da Casa de Cultura.
Dó, re, mi, fá,
sol lá...nós aqui.
Será um pedaço de céu
o lençol azul que balança
com o vento a rolar o chapéu
daquela criança,
ou ele apenas dança
sozinho
enquanto eu caminho
em direção ao Paço?
No horizonte,
bandeiras aos montes,
e um mar de faces e penteados
desfeitos.
Sem cansaço,
entoam seus hinos
homens-meninos
redescobrindo a vontade,
vestindo sua verdade,
pra recusar caridade!
quinta-feira, 27 de junho de 2013
quarta-feira, 26 de junho de 2013
Rinocerontes e quindins
Eles se conheceram quando ele levava seus rinocerontes para passear nos campos de quindins, que ela pensava serem margaridas. Ela realmente era um tanto daltônica. Não bastasse insistir em deixar os óculos na casa da mãe, 350 km distante...afinal, o oculista dissera que as lentes eram para ver de longe! Mas ora, mesmo assim, quem acreditaria que aqueles círculos amarelos rodeados de branco, que brotavam em meio á relva verdinha, poderiam ser margaridas? Era óbvio que só poderiam ser quindins! A iguaria favorita dos rinocerontes dele!
Não foi amor á primeira vista, mas foi em poucas parcelas. Na primeira, a admiração. Na segunda, o abraço. Na terceira, o beijo. E então já não havia fuga. Nem desejo de fugir. A manhãs monocromáticas recheadas de diálogos bipolares e surreais, que culminavam na falta de vontade de deixar a cama; as pouco mais de trinta noites, que se transformavam em mil e uma posições do Kama Sutra; as históricas tardes de sábado; a súbita lacuna de ausências.
Num piscar de olhos, as dúvidas e incertezas ameaçavam entrar em extinção, enquanto as meias brancas no varal e os livros na estante se reproduziam vertiginosamente, re-povoando o apartamento.
Não foi amor á primeira vista, mas foi em poucas parcelas. Na primeira, a admiração. Na segunda, o abraço. Na terceira, o beijo. E então já não havia fuga. Nem desejo de fugir. A manhãs monocromáticas recheadas de diálogos bipolares e surreais, que culminavam na falta de vontade de deixar a cama; as pouco mais de trinta noites, que se transformavam em mil e uma posições do Kama Sutra; as históricas tardes de sábado; a súbita lacuna de ausências.
Num piscar de olhos, as dúvidas e incertezas ameaçavam entrar em extinção, enquanto as meias brancas no varal e os livros na estante se reproduziam vertiginosamente, re-povoando o apartamento.
sexta-feira, 21 de junho de 2013
Falei grego?
Se toca!
Foco
não é faca
na bota,
pela copa...
é chão!
Não é pedra
na mão,
é pão!
É saber
que o circo
quer ser
nação!
Foco
não é faca
na bota,
pela copa...
é chão!
Não é pedra
na mão,
é pão!
É saber
que o circo
quer ser
nação!
Máscara caída
A copa
encobre
a pouca
vergonha
com
cara medonha.
A classe caída,
cansada
e moída,
encara
cassetada...
mas não,
calada...
enquanto
a corja
se finge
coitada!
encobre
a pouca
vergonha
com
cara medonha.
A classe caída,
cansada
e moída,
encara
cassetada...
mas não,
calada...
enquanto
a corja
se finge
coitada!
Paradoxo
Debaixo do concreto vazio
do sonhado aeromóvel
o cartaz pede "Mais amor, por favor".
Ao lado dele, tentando abstrair o frio
tudo o que o homem sonha
é com mais um cobertor...
do sonhado aeromóvel
o cartaz pede "Mais amor, por favor".
Ao lado dele, tentando abstrair o frio
tudo o que o homem sonha
é com mais um cobertor...
segunda-feira, 17 de junho de 2013
Face
Não concordo! Na voz dela, uma indignação pacífica deixava transparecer sua certeza. Era sempre cheia de certezas. E ele começava a perceber a inutilidade de contestar certezas capricornianas. Ora bolas, como ele se atrevia a afirmar que a maioria, senão todos os frequentadores daquele site de relacionamentos, procurava relações superficiais, pautadas por sexo casual? Tinham se conhecido lá! Estavam namorando. E "sério". Estava lá, publicado no "feicibuqui": "em um relacionamento sério com fulano". Nada podia ser mais "público". Nem mais sério. Ele até criara seu próprio perfil "facebuquiano", apesar de ter jurado de pés juntos que jamais o faria, só para que o relacionamento se tornasse de conhecimento popular.
Não. Ela definitivamente não era capaz de entender os homens. Ele insistia em afirmar que "os outros" procuravam por sexo, mas ele era diferente. Está bem...talvez o impulso inicial que o levara ao "safari" virtual até pudesse ter sido uma libido ouriçada...mas tudo mudara ao conhecê-la. Certo que mudara. Afinal, ela era uma daquelas mulheres de "apresentar para a família".
Voltavam então á estaca zero. Era ou não era possível encontrar a "alma gêmea" em qualquer lugar? Qualquer mesmo? Até num site ao estilo "safári virtual"?
OK. Zero Killed. Ou não. Ela bem sabia que muitas de suas amigas também esvaziavam suas cartucheiras naquele mesmo espaço. Também conversara com alguns moçoilos que já iniciaram a prosa deixando suas intenções bastante claras. Poor things! Três frases trocadas e percebiam que sua munição seria completamente desperdiçada se a alvejassem.
Então o pensamento inevitável: se ela era tão certa do que queria (perceba-se que não digo "estava" mas "era"), e ele iniciara a história motivado pelo instinto carnal, como chegaram ao atual "status" do relacionamento? O romantismo dela sustentava a teoria do "amor ao primeiro abraço".
Lembrava-se com uma clareza incomum em suas tentativas de arquivar fatos, de cada sensação, desde o primeiro vislumbre da figura dele. Primeira impressão: baixinho. Segundo seguinte: o olhar. Então veio o abraço. Ah, o abraço, era um capítulo inteiro á parte...
Poucas coisas ficaram gravadas na memória dela com um traçado tão definido. O primeiro parágrafo iniciava-se com o cheiro dele. Cítrico. Com um leve toque amadeirado. Na sequencia, a textura da pele que roçou o rosto dela - marshmallow. Definitivamente, marshmallow, começava a dar corpo ao texto que o constituiria na vida dela. Havia ainda o calor da mão dele, bem no centro das costas dela. Então, para adjetivar o sujeito, vinha o sorriso argênteo-esverdeado. Doce.
Quase doze horas mais tarde ela descobriu que esta doçura era concreta, quando sua fase oral mal resolvida a levou a experimentar empiricamente a textura daquela boca desafiadora.
Neste momento, seus intertextos se entrelaçaram. A maior dúvida era se este entrelaçamento desafiaria a lei da impermanência, que regia as atualizações de status feicibuquianas.
Tati Braga dos Reis
Não. Ela definitivamente não era capaz de entender os homens. Ele insistia em afirmar que "os outros" procuravam por sexo, mas ele era diferente. Está bem...talvez o impulso inicial que o levara ao "safari" virtual até pudesse ter sido uma libido ouriçada...mas tudo mudara ao conhecê-la. Certo que mudara. Afinal, ela era uma daquelas mulheres de "apresentar para a família".
Voltavam então á estaca zero. Era ou não era possível encontrar a "alma gêmea" em qualquer lugar? Qualquer mesmo? Até num site ao estilo "safári virtual"?
OK. Zero Killed. Ou não. Ela bem sabia que muitas de suas amigas também esvaziavam suas cartucheiras naquele mesmo espaço. Também conversara com alguns moçoilos que já iniciaram a prosa deixando suas intenções bastante claras. Poor things! Três frases trocadas e percebiam que sua munição seria completamente desperdiçada se a alvejassem.
Então o pensamento inevitável: se ela era tão certa do que queria (perceba-se que não digo "estava" mas "era"), e ele iniciara a história motivado pelo instinto carnal, como chegaram ao atual "status" do relacionamento? O romantismo dela sustentava a teoria do "amor ao primeiro abraço".
Lembrava-se com uma clareza incomum em suas tentativas de arquivar fatos, de cada sensação, desde o primeiro vislumbre da figura dele. Primeira impressão: baixinho. Segundo seguinte: o olhar. Então veio o abraço. Ah, o abraço, era um capítulo inteiro á parte...
Poucas coisas ficaram gravadas na memória dela com um traçado tão definido. O primeiro parágrafo iniciava-se com o cheiro dele. Cítrico. Com um leve toque amadeirado. Na sequencia, a textura da pele que roçou o rosto dela - marshmallow. Definitivamente, marshmallow, começava a dar corpo ao texto que o constituiria na vida dela. Havia ainda o calor da mão dele, bem no centro das costas dela. Então, para adjetivar o sujeito, vinha o sorriso argênteo-esverdeado. Doce.
Quase doze horas mais tarde ela descobriu que esta doçura era concreta, quando sua fase oral mal resolvida a levou a experimentar empiricamente a textura daquela boca desafiadora.
Neste momento, seus intertextos se entrelaçaram. A maior dúvida era se este entrelaçamento desafiaria a lei da impermanência, que regia as atualizações de status feicibuquianas.
Tati Braga dos Reis
domingo, 16 de junho de 2013
Insegurança
Quanta dor é preciso
pra acordar um indeciso,
quando ele duvida
até de um doce sorriso?
Quanta declaração
ao pé do ouvido?
Tanta mágoa,
eu duvido,
que dê trégua
a um coração partido.
Deve ser sua sina...
haja água
pra lavar essa retina!
pra acordar um indeciso,
quando ele duvida
até de um doce sorriso?
Quanta declaração
ao pé do ouvido?
Tanta mágoa,
eu duvido,
que dê trégua
a um coração partido.
Deve ser sua sina...
haja água
pra lavar essa retina!
Hora certa
Com o tanto
que
me encantas,
já nem me espanto
que
me atordoes...
Se,
para tudo,
há um tempo
certo,
meu tempo
agora
é de te ter
por perto
mesmo
que me atentes...
e ponto!
que
me encantas,
já nem me espanto
que
me atordoes...
Se,
para tudo,
há um tempo
certo,
meu tempo
agora
é de te ter
por perto
mesmo
que me atentes...
e ponto!
Em frente
Pula em meu peito
um coração
perseverante,
que não pára
de pleitear
nova paixão.
Há pouco tempo
pranteava
amor perdido...
há passos largos
já prepara
perdição!
um coração
perseverante,
que não pára
de pleitear
nova paixão.
Há pouco tempo
pranteava
amor perdido...
há passos largos
já prepara
perdição!
Persuasão
Tua coragem
doce e nua
adula
minha covardia
crua
palidamente
diluída
na fria luz
da lua,
enquanto
teu corpo
me aquece,
minha sensatez
me esquece,
e a paixão
atua!
doce e nua
adula
minha covardia
crua
palidamente
diluída
na fria luz
da lua,
enquanto
teu corpo
me aquece,
minha sensatez
me esquece,
e a paixão
atua!
Ordinal
Te amo
inteiro!
Verso
e reverso
arteiro
mesmo
sem ser
pioneiro
melhor
que qualquer
primeiro!
inteiro!
Verso
e reverso
arteiro
mesmo
sem ser
pioneiro
melhor
que qualquer
primeiro!
To be or not to be
Stop! Antes de pôr a última cueca na mochila, pense bem, mocinho! Minha língua materna, que não é exatamente a de Camões, mas sua filha de ancas largas e andar rebolativo - o Português Brasileiro, não dá margem à dúvida. Faça sua escolha agora: você "é" meu ou "está" meu? Comigo, SER e ESTAR têm sentidos absolutamente antagônicos. E se você "está" meu...eu estou fora!
Porém, antes de fazer sua escolha definitiva, entregue seu coração a Anúbis e observe a balança: para que lado ela pende? Este amor vale as penas? Observe o casco do barco. Por certo há marcas deixadas por icebergs, depois de tantas léguas de navegação. Lembre-se de que a embarcação não é "brand new". Qual é o percentual do risco de naufrágio? Há coletes salva-vidas? E você, está disposto a se molhar, caso o barco faça água? Vai ajudar a tapar os buracos que porventura não resistirem às tempestades?
Anote suas respostas. Conte o número de "nãos" e, se julgar sensato, retire a roupa da mochila, aproveitando que ainda está dobrada, antes que eu aumente o número de gavetas. Ou mandemos a sensatez ás favas e juntemos nossas camisetas, cuidadosamente dobradas in a "stairway to heaven".
Porém, antes de fazer sua escolha definitiva, entregue seu coração a Anúbis e observe a balança: para que lado ela pende? Este amor vale as penas? Observe o casco do barco. Por certo há marcas deixadas por icebergs, depois de tantas léguas de navegação. Lembre-se de que a embarcação não é "brand new". Qual é o percentual do risco de naufrágio? Há coletes salva-vidas? E você, está disposto a se molhar, caso o barco faça água? Vai ajudar a tapar os buracos que porventura não resistirem às tempestades?
Anote suas respostas. Conte o número de "nãos" e, se julgar sensato, retire a roupa da mochila, aproveitando que ainda está dobrada, antes que eu aumente o número de gavetas. Ou mandemos a sensatez ás favas e juntemos nossas camisetas, cuidadosamente dobradas in a "stairway to heaven".
Nós
No meu caos
tua mão na minha
e uma paz
que caminha
devagar,
com ela
o tempo
engatinha
e, ao teu lado,
esquece de passar...
tua mão na minha
e uma paz
que caminha
devagar,
com ela
o tempo
engatinha
e, ao teu lado,
esquece de passar...
segunda-feira, 10 de junho de 2013
Geminiar?
Bom, lá vou eu e minha alma poetisa nesta tentativa prosaica de ensaiar uma resposta á altura da arte daquele que conquistou meu coração. O que dizer da aérea leveza geminiana? Que é capaz de arrebatar a mais terráquea capricorniana e conduzí-la a uma viagem quase diária pelas crateras da lua, a celebrar compromisso com anéis de saturno, deliciar-se com paixões marcianas e embriagar-se com milkshakes vialácteos? Seria apenas um simplório começo.
Não sei se geminianos abundam ou proliferam-se em nosso mundinho redondo. Acredito que não. Devo conhecer poucos e lembro de ter antes posto reparo em....nenhum! Talvez o meu seja mesmo um geminiano atípico. Ou não. Talvez meus sentidos estivessem embotados até então, sendo despertados apenas pela luz esverdeada de um geminiano olhar de ressaca...mas isto são apenas aeradas conjecturas. Daquelas divagações femininamente caóticas, tão difíceis para um homem mapear...mesmo que falemos de um geminiano!
Mas os fatos, reais e concretos, aqueles contra os quais "não há argumentos", me levam a crer que só é possível conhecer o verdadeiro gosto, cheiro e textura de um amor, quando se ama um geminiano (e olha que, do alto dos meus 37 anos, já deu para experimentar empiricamente boa parte do zodíaco...), portanto, se você observar por perto alguém sedutor, criativo, rico de horizontes e pobre de barreiras, é possível que seja sua oportunidade de geminiar...atente-se, e não a deixe escapar! Agarre-a com as duas mãos, braços, pernas, unhas e dentes. Prepare-se para despir-se de precauções e pré-conceitos pois, depois de geminiar, nada mais será como antes...
quinta-feira, 6 de junho de 2013
sábado, 1 de junho de 2013
Inundação
O meu amor
não usa relógio
nem lógica;
flui hemorrágico,
já tentei estancar,
mas não há jeito:
o "eu te amo"
tragicamente
jorrou da boca
e de outras adjacências...
não usa relógio
nem lógica;
flui hemorrágico,
já tentei estancar,
mas não há jeito:
o "eu te amo"
tragicamente
jorrou da boca
e de outras adjacências...
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