quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Alguém para chamar de meu, mesmo que seja eu...até o recheio

Num dia que não deveria ter sido, mas que eu estaria mentindo se dissesse que não foi, um dia qualquer, há aproximadamente doze anos atrás, entendi que precisava de alguém para chamar de meu, mesmo que fosse eu. E entendi que não seria ele.
Foi minha quarta tentativa frustrada, embora eu nem soubesse o que estava tentando.
Outras ainda vieram, depois que entendi. Igualmente frustradas.
Tentei namorados, maridos e até filhos.
Percebi que os parceiros eram deles mesmos e os filhos, do mundo. Percebo que até agora havia conhecido relações de posse unilaterais: eu era/sou deles. Em cada relação deixei de ser minha e não ganhei ninguém.
Quatro filhos até entender que a maternidade é para quem está pronta para se doar...mas eu nem era minha!
Dois casamentos para entender que...por não saber o que procurava, acabei nos endereços errados.
E como é fácil se perder...
As ilusões são sempre doces e coloridas como a casinha da bruxa de João e Maria. E, igualmente, guardam armadilhas perigosas. Porém, quando não há mais nada ao redor e o coração está faminto, por que culpar-se tanto?
Precisei de todas as tentativas e erros para chegar aqui, vislumbrando os 40, e me sentir "quase adulta".
Olho para trás e vejo coisas que nunca estiveram lá, ou melhor, sempre estiveram, mas minha compreensão não alcançava. Centenas de Eus, antes invisíveis, agora sorriem, choram, acenam, gritam, feito peças de um quebra-cabeças que já julgava impossível de completar. Jurei que faltavam peças na caixa. Que tinha sido fabricado com defeito. Sempre acreditei que o quebra-cabeças da minha vida tinha sido mal feito. Mas não.
Tais peças estavam ali o tempo todo, mas só poderiam ser vistas quando eu estivesse prontas. Acho que estou. Ou quase.
Ainda há momentos em que te olho dormir e me procuro em ti. Assisto repetidas vezes aqueles vídeos bobos que gravo enquanto tocas violão, na nossa sala, e posso jurar que me vejo nos teus olhos.
Claro, o sistema ainda falha. Há também aqueles momentos em que duvido de tudo. Quando me perco completamente na tua voz exaltada, carregada de palavras ásperas...quando tu também te perdes. Quando nos perdemos um do outro e o outro do um.
Lembro que quando nos aproximamos, num processo meio lento para o meu ritmo, te achei meio preto-e-branco, meio "pouco quente"...de um equilíbrio quase alarmante.
Engraçado, hoje percebo que, ao nos, encontrarmos, primeiro eu nos perdi. Só com o passar do tempo eu fui nos sentindo, bem lentamente, de um jeito meio etéreo.
Fui sentindo um cheiro de um "nós", cada vez que estavas por perto, e esse cheiro foi trazendo uma fumaça(e nada de rir da referência aqui, viu? ;) ) até que eu pudesse vislumbrar os primeiros laços, numa imagem que ainda não consegui pegar.
Esta fase foi um tanto perturbadora, confesso. Mas eu resisti. Resisti porque havia, contigo na minha vida, a companhia de um Eu, de um Tu e a promessa de um Nós. Tu não me tomavas de mim, ainda que também não te entregasses...
E o tempo foi polindo as arestas que impediam os encaixes. E fui comprovando a hipótese já levantada de que amar não é apenas cuidar mas, perseverar quando dá vontade de fugir.
Contigo pude entender que o que eu fazia era procurar amores com cobertura de chocolate, e me desesperava sempre que a cobertura acabava e eu atingia a massa. Aí era o fim - Hora de procurar outra cobertura.
Quando ficamos juntos, me ofereceste um amor com cobertura de merengue. E eu nem gosto de merengue. Até agora não sei explicar por que aceitei o prato...
Mas tu soubeste me ajudar a continuar garfada após garfada através da massa, que eu sempre achei muito sem graça, só para me mostrar que o que vale mesmo é o recheio.
Obrigada.

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