terça-feira, 7 de julho de 2015

Sobre muros e pontes


"Amar os outros é a única salvação individual que conheço. Ninguém estará perdido se der amor e, às vezes, receber amor em troca. " (Clarice lispector)

Esta nossa geração "Eu me amo (SQN)" me causa um misto de medo e pena, com seu discurso mal processado de " é preciso me amar primeiro", "eu primeiro", " se não me amo, não posso amar outra pessoa", " tenho que me amar mais do que qualquer outro", construído nas infindáveis horas de terapia ou solidão.
O que parecem ter esquecido, ou nunca aprenderam, é que mesmo o amor próprio é construído com ajuda de outra(s) pessoas.
É no olhar do outro que construo minha autoimagem. Preciso me sentir amada para descobrir que sou digna de amor e, só então aprendo a me amar.
Sim, preciso me amar. Mas preciso de ajuda para isto também. A ideia do "é preciso bastar-se" é simplesmente inviável para nós, seres humanos. Somos intrinsecamente interdependentes.
E o mais triste neste discurso é que ele costuma vestir pessoas solitárias, machucadas, que buscam uma armadura que as proteja justamente daquilo que as curaria. Não sabem e não aprendem a se amar, por que temem apavoradamente amar o outro. Qualquer outro. E, sem amar outro, não aprendem que são dignas de serem amadas.
Com o tempo, vão se amargurando, se tornando egoístas, erguendo muros ao invés de pontes.
Não se doam, por que temem ser explorados. Não se dão ao prazer de cuidar, de se entregar de olhos fechados.
Ok, nem sempre dá certo. às vezes somos explorados. Há relações que dão errado, claro. Mas é preciso começar para saber se vai dar certo. E é preciso começar do jeito certo: se entregando.
Mão dupla. Eu faço a minha parte. Se o outro não fizer a dele, ok, caio fora. Mas tentei. A prendi que sou capaz e que estou pronta para ser amada. Em algum momento, acontecerá. E acontecerá porque aprendi a construir pontes em lugar dos muros.

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