segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Perfeição

     Oi. Dois dias depois, a resposta, não mais prolixa: oi. Algumas conferidas periódicas no perfil para checar detalhes que eram esquecidos: solteiro, divorciada, filhos? gosto musical. Apenas o essencial. E o tempo escorria por entre as mensagens no site de relacionamentos. Sem muitas outras opções, foram se contactando, se encontrando, se revelando.
      Como somatório de mensagens, resultou a empatia. De repente era importante saber se o outro estava feliz, se tinha levado um fora...vinha vez por outra a vontade de consolar.
     Um certo dia, despiram as máscaras. Depois foi a vez da hipocrisia, que ficou jogada no chão do apartamento dele e ao lado do colchão dela. E assim seguiram, despindo-se aos poucos diante da tela. E sentiram-se confortáveis com a nudez. E com a companhia um do outro.
     Ela vinha do trabalho pensando mecanicamente na sequencia de ações ao chegar: ligar o computador, tomar banho, ajeitar o cabelo...daria tempo para ele chamar.Parecia estar permanentemente online. Então era aceitar a chamada com vídeo e contar como havia sido o dia e perguntar sobre o dele. Sutilezas banais e doces.
     Quando terminavam de contar os detalhes, era hora de cada um trabalhar no seu computador, o outro ali  no cantinho da tela, cúmplice. Um nu para o outro. Sem moralismos, julgamentos ou quaisquer outros defeitos.
     Discutiam a humanidade, e como ela caminha; a bondade, e como ela míngua; os sentimentos, e como lidar com eles. Não havia mais como chamar isto de virtual. Virtual era o caos lá fora.
     Eles encontraram seu lugar além do arco-íris, na Terra do Nunca, onde nunca havia solidão, só carinho e aconchego, numa janela para outro mundo, sem panos ou tapetes, onde esconder a sujeira.

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